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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 13, 2012

Trabalho escravo em fazenda de Daniel Dantas

 

O Ministério Público do Trabalho denunciou o grupo agropecuário Santa Bárbara, do investidor Daniel Dantas, por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão em uma propriedade na cidade de São Félix do Xingu (PA). Cinco pessoas foram resgatadas e diversas irregularidades foram flagradas. No total, foram aplicados 43 autos de infração.

trabalho esxravoHá cerca de um mês, fiscais do trabalho visitaram o local e constataram dezenas de ilegalidades. O procurador José Manoel Machado pede agora uma multa de 20 milhões de reais à Santa Bárbara, ligada ao grupo Opportunity.
O trabalho na fazenda começava às 5h30 e seguia até o início da noite, com um curto intervalo para o almoço. Segundo a denúncia, trabalhadores dormiam em moradias improvisadas, de chão batido, com muitos insetos e animais peçonhentos, sem banheiro nem acesso à água potável. A única água disponível era de um córrego próximo, onde também tomavam banho. A fonte de água potável mais próxima ficava a 1,5 quilômetro. Quando estocada, a água era mantida em galões de óleo combustível.
"Esse mesmo córrego era utilizado para lavar roupas e utensílios domésticos, inclusive os utilizados para o preparo de alimentos", relatou os fiscais da ação.
Um rapaz de 16 anos foi flagrado manuseando instrumentos cortantes, o que é proibido a trabalhadores nessa idade. O mesmo adolescente dirigia uma moto sem habilitação e portava uma arma de fogo.
Em uma mesma moradia, havia diferentes famílias vivendo juntas, o que não é permitido pela legislação trabalhista. "Os trabalhadores que permaneciam nesta moradia estavam submetidos a condições de vida e trabalho que aviltavam a dignidade humana e caracterizavam situação degradante, tipificando o conceito de trabalho análogo ao de escravo", concluiu o Ministério Público.
Outros dois alojamentos também foram constatadas condições degradantes. Funcionários de uma das áreas da fazenda foram encontrados vivendo dentro de um curral.
Além de pedir o pagamento de 20 milhões de reais, o procurador José Manoel Machado estipulou 35 providências a serem tomadas pela Santa Bárbara para regularizar a situação dos trabalhadores. Cada ponto descumprido acarretará uma multa de 50 000 reais.
O grupo Santa Bárbara mostrou indignação e questionou a motivação da denúncia. A empresa assegura que os ex-funcionários envolvidos na ação do Ministério Público eram devidamente registrados e sempre gozaram de boas condições de trabalho, saúde e bem-estar. "Tanto é verdade que eles fizeram declaração pública, registrada em cartório, ressaltando as boas condições de trabalho oferecidas pela empresa", diz a nota.
A empresa teria aberto investigação interna para esclarecer o caso. A denúncia "não condiz com o comportamento da empresa", completa o comunicado.
* Vermelho
*carcará

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