Dilma passa um sabão no Tio Sam
A participação insípida do presidente dos EUA, Barack Obama, na Cúpula
das Américas foi a personificação de um divisor histórico: o império
nada tem a dizer ou a propor de relevante aos povos latino-americanos.
Em crise, patinando entre a tibiez de uma estratégia econômica que se
compraz em mitigar a ortodoxia em casa e uma diplomacia bélica que
chafurda na areia movediça de conflitos múltiplos e insolúveis, do
Oriente Médio à Coréia, passando pelo embargo à Cuba e querelas com a
Venezuela, o poderio ianque naturalmente não está derrotado. Mas é
visível a sua exaustão. Obama personifica-a como um Tio Sam cansado da
guerra.
Ainda que seja o melhor que a política norte-americana tem hoje a
oferecer, convenhamos, é parcimonioso. Essa percepção de esgotamento
extravazou das intervenções do democrata em Cartagena, na Colômbia. A um
mosaico de nações que luta contra um legado secular de pobreza,
desigualdade e truculênca nas relações com o Big Brother, e ainda
assim desponta como um dos horizontes mais dinâmicos da economia
mundial, Obama ofereceu a velha e gasta 'cooperação' do mascate
viajante.
Instado a comentar a ascensão da classe média regional e, sobretudo,
brasileira, murmurou memorizando as fichas preparadas pelo Departamento
de Estado: "Uma classe média próspera e ascendente abre mercado para as
nossas empresas. Aparecem novos clientes para comprar ‘Iphones', ‘Ipods,
Boeings'..." "Ou Embraer!", atalhou-o a presidenta Dilma Rousseff , num
aparte bem-humorado, mas também altivo e ao mesmo tempo revelador da
miúda visão política autocentrada do chefe de Estado norte-americano.
A intervenção brasileira foi ovacionada com risos e palmas pelos demais
chefes de Estado presentes. Caberia a Dilma, ainda, contrapor ao
caquético catecismo da subordinação comercial o ponto de vista
estratégico de uma América Latina cada vez mais encorajada a buscar seu
próprio caminho e, mais que isso, definitivamente convencida de que esse
caminho de soberania e desenvolvimento não cabe no acostamento estreito
destinado historicamente à região pela Casa Branca. Em um improviso
mais de uma vez aplaudido, ela despertou o orgulho latino-americano
diante de um Obama entre sonolento, ausente e blasé.
Disse-o com assertiva altivez a Presidenta de todos os brasileiros e,
agora também, uma referência aos latino-americanos que já haviam sido
cativados por Lula: "As relações assimétricas foram muito negativas para
o nosso Continente. Nos últimos 20 anos, tivemos recessão, desemprego e
ausência de perspectivas de crescimento. O relacionamento virtuoso é
aquele que respeita a soberania dos países e enxerga o crescimento
recíproco como essencial. Todos aqui nessa mesa fomos países coloniais,
inclusive os Estados Unidos, que pegou em armas para defender sua
independência. Todos sabemos que não há diálogo entre desiguais",
concluiu Dilma fechando um ciclo da cúpula das Américas.
Ou melhor, anunciando o novo capítulo da luta pelo desenvolvimento continental.
Postado por Saul Leblon
Obama tem seu momento Patrícia Poeta em Cartagena.
ResponderExcluirhttp://youtu.be/PfZrI9zAYxY
Bem oportuno Augusto
ResponderExcluirAgradecido
Abs