Já alugam policiais na Grécia. E agora?
Leio nos jornais que na Grécia já estão alugando policiais para ajudar o
Estado a pagar as contas e assim permitir que os bancos recebam seus
lucros de volta. Pelo que entendi, é assim: você precisa de um guarda
para tomar conta da rua, vai até a delegacia e contrata o cara por
algumas dezenas de euros. Precisa de um carro, vai até lá e aluga uma
viatura.
Escrevo isso e penso: o que mais está sendo alugado na Grécia, além de policiais e viaturas?
Seria a dignidade nacional?
Ou são apenas médicos, professores, políticos, enfermeiros … nem quero escrever o que estou pensando porque seria obsceno.
Mas impossível não pensar: o que ainda não se pode comprar nem alugar na Grécia, hoje?
Confesso que levei alguns anos para aceitar a ideia de que a capacidade
de exploração dos homens não tem limite — apenas sua capacidade física.
Eu pensava, por exemplo, que há um patamar mínimo abaixo do qual ninguém
ousa avançar porque aí se ameaça a sobrevivência da espécie. Essa seria
a função, imaginava, do salário mínimo. Engano.
Há situações em que a pessoa recebe menos do que precisa para sobreviver
e segue vivendo. Morre, desmaia, não consegue se mexer. Mistura
trabalho, mendicância, delinquência. Em momentos particulares da
história, isso pode acontecer com um povo inteiro.
Será este o futuro da Grécia?
Imagine como se encontra o país, hoje. Mesmo para quem foi ocupado pelos
nazistas durante a Segunda Guerra, e que jamais teve direito a ser
indenizado pela imensa destruição causada pelas forças de ocupação
militar — será muito abuso acusar os alemães de ocupação financeira da
Grécia hoje ? — o que se assiste representa um novo degrau de vergonha e
crueldade.
A Grécia foi atacada em sua soberania. Traída pelos banqueiros e por uma
parcela dos parlamentares, que impediram o país de decidir de forma
democrática se aceitaria ou não submeter-se a um pacote dos bancos
europeus — que nem pagaram o prometido até agora — agora ela é atacada
em sua sobrevivência.
Vamos combinar: o que separa a Idade Média da idade moderna é o
crescimento das cidades e o nascimento do Estado, com seus direitos e
prerrogativas, entre os quais o poder de polícia, a segurança, o
monopólio da violência.
O Estado não pode ser alugado nem comprado. Não pode ser assim, de forma
descarada e aberta, como alguém que entra na delegacia e leva para casa
os responsáveis pela Lei e pela Ordem como se estivessem dentro de uma
lata de refrigerante adquirida num supermercado.
Paulo Moreira Leite
Paulo Moreira Leite
*esquerdopata
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