OS EUA E O FUTURO DA CIÊNCIA NO BRASIL
Via Mauro Santayana
Nas
relações do Brasil com os Estados Unidos, há fatos que devem nos
incomodar, como o recente recuo da Força Aérea dos Estados Unidos, a
USAF, em cumprir o contrato de compra de 20 aviões Super-Tucano da
Embraer, e a tradicional recusa dos norte-americanos em transferir
tecnologia para o Brasil, principalmente no campo bélico e no nuclear.
Essa recusa beira à sabotagem, desde o acordo Brasil-Alemanha (no campo
nuclear), o que não recomenda, à primeira vista, os nossos vizinhos do
norte em projetos que impliquem a transferência de conhecimento.
Esse
pode ser o caso do “Ciência sem Fronteiras”, de envio de estudantes
brasileiros para o exterior, e da parceria que se pretende estabelecer
entre o ITA – o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, berço da Embraer, e
o MIT – o Massachussets Institute of Technology , uma das mais
conceituadas instituições de ensino e de pesquisa dos Estados Unidos.
Basta
ver o descalabro em que se encontra o DCTA – Departamento de Ciência e
Tecnologia Aeroespacial, reduzido – apesar de recentes concursos - a 26%
do pessoal que tinha em 1994, e a média de idade dos pesquisadores do
IAE – Instituto de Aeronaútica e Espaço - que é de mais de 50 anos e é
fácil perceber que a questão da Ciência e Tecnologia, com a geração de
conhecimento de ponta no país, não se resolverá com a mera transferência
de estudantes para o exterior.
O que precisamos
é de decisão política para mostrar ao mundo quais são nossas
prioridades estratégicas e com que rapidez respondemos aos desafios que
surgem na área científica.
Quando o destino nos
apresenta situações emergenciais temos que responder emergencialmente. É
preciso quebrar a espinha dorsal da burocracia, que nos impede, por
exemplo, de já estarmos montando os módulos e laboratórios destinados a
substituir os que foram destruídos no incêndio da Estação Antártida
Comandante Ferraz.
Não é razoável que falte
dinheiro para treinar e repor pesquisadores em um projeto de longa data,
como o do VLS (Veículo Lançador de Satélites), quando o BNDES empresta,
sem maiores delongas, três bilhões de reais a uma multinacional
estrangeira, como a Vivo, para a expansão de infraestrutura.
O
país precisa projetar na Ciência e Tecnologia o planejamento e a
competência já demonstrados na administração da macroeconomia, entre
outros campos. Na área espacial é preciso juntar em uma só instituição
os esforços do país, que envolvem hoje o INPE, a AEB, a Alcantara
Cyclone Space.
E, se formos ampliar a cooperação
com o MIT norte-americano, é preciso que se faça o mesmo com
universidades e instituições congêneres dos nossos sócios dos BRICS.
Nossos estudantes precisam aprender a conviver com estudantes russos,
chineses, indianos. A Rússia continua dando um banho na pesquisa
espacial. Recém homenageada com o título de Doutora Honoris Causa pela
Universidade de Delhi, a Presidente sabe que a a China e a Índia,
principalmente, estão acelerando, qualitativa e quantitativamente,
dentro e fora de suas fronteiras, a formação de pesquisadores nas áreas
de física, nanotecnologia, computação, programação de software.
Sabe
também que há milhares de cientistas indianos e chineses que foram
estudar nos Estados Unidos e não voltaram, preferindo ficar por lá,
trabalhando, e emprestando seu talento, a empresas norte-americanas como
as do Vale do Silício. Um bom exemplo do brasileiro que, às vezes pode
ir e não voltar é o do jovem paulistano Michel Krieger, de São Paulo, de
27 anos de idade, que com 18 foi estudar na Universidade de Stanford,
criou com um colega norte-americano o Instagram, e acabou de vender essa
plataforma para o Facebook, por um bilhão de dólares.
A
Ciência deve atravessar as fronteiras em todos os sentidos. Precisamos
que o estudante brasileiro estude, eventualmente, no exterior, mas que
possa também fazê-lo aqui, no território nacional, sem deixar de
absorver conhecimento de ponta e universal. É possível, com menos
recursos, lançar um concurso internacional voltado para a contratação de
excelentes professores estrangeiros para nossas universidades, como se
fez quando da criação da USP, sem prejudicar os docentes brasileiros.
E,
no caso da pesquisa científica, trazer professores de fora é ainda mais
premente, e talvez mais econômico. Como mostra o caso do DCTA, é
preciso recompor e ampliar, com a mais absoluta prioridade, nosso quadro
de pesquisadores, destruído por décadas de neoliberalismo.
*Gilsonsampaio
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