Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, abril 07, 2012

Protesto de Anita Leocádia Prestes ao Senador Inácio Arruda

Rio de Janeiro, 4 de abril de 2012
Exmo. Sr. Senador Inácio Arruda.
Senado Federal - Brasília
Na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e de sua colaboradora política durante mais de trinta anos, devo declarar minha repulsa e indignação com a proposta de sua autoria de que seja declarada nula a decisão do Senado que cassou, em 1948, o mandato do senador Luiz Carlos Prestes. Meu pai jamais aceitaria semelhante medida individualmente, isolada, sem que as centenas de parlamentares comunistas cassados (deputados federais, deputados estaduais e vereadores) juntamente com ele tivessem também devolvidos seus legítimos direitos constitucionais. Todos que o conheceram sabem o quanto Prestes, nesse sentido, era intransigente.
Na realidade, a proposta encaminhada ao Senado Federal por um representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) revela, mais uma vez, algo que Prestes denunciou incessantemente durante os seus últimos dez anos vida: o reformismo desse partido, sua adesão aos interesses das classes dominantes do País, seu compromisso espúrio com o Governo Sarney, nos anos 1980, compromisso confirmado no texto da mensagem ora encaminhada à apreciação do Senado. Luiz Carlos Prestes sempre deixou claro que a legalidade dos comunistas deveria ser conquistada nas ruas, pelo povo, e não através de conchavos de bastidores, como aconteceu, no caso do PCdoB, em 1985. Prestes também não aceitaria a anulação da cassação do seu mandato de senador através de manobra do PCdoB, cujo objetivo evidente é tirar proveito político do inegável prestígio do Cavaleiro da Esperança.
Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes
Com a presença de Antonio Carlos Mazzeo, Luís Bernardo Pericás, Lincoln Secco e Milton Pinheiro
No Diário do Cezar Miranda
*comtextolivre

Nenhum comentário:

Postar um comentário