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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 18, 2012

Revista 'Veja': Como trabalha; a quem serve

O dispositivo midiático demotucano tem martelado em tom de condenação sumária que a construtora Delta - suspeita de ser uma espécie de caixa de compensação bancária do esquema Cachoeira/Demóstenes - é a empresa com o maior volume de contratos junto ao PAC.
Esse traço evidenciaria, sugere o tom do noticiário, um comprometimento automático do governo e do PT com a quadrilha manejada por Cachoeira.
Mais de 80% das licitações vencidas pela Delta são de obras sob a responsabilidade do Dnit, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Dos R$ 862,4 milhões pagos à construtora em 2011, 90% vieram do órgão. Nesta 3ª feira, uma pequena nota escondida num canto de página da Folha, baseada em escutas da PF mostra que:
a) o Dnit estava insatisfeito com a qualidade e irregularidades das obras tocadas pela Delta;
b) desde 2010 o Dnit iniciou uma série de processos que poderiam levar a perdas de contratos pela construtora, ademais de submetê-la a investigações da PF e do Tribunal de Contas;
c) o agravamento dos atritos levou a Delta a acionar Cachoeira e seu grupo, que passaram a trabalhar pela queda do então diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, uma indicação do PR, o Partido Republicano;
d) em gravações feitas pela PF no primeiro semestre de 2011, Cachoeira diz a Claudio Abreu, diretor da Delta, que já estava fornecendo informações sobre irregularidades no Dnit para a revista "Veja";
e) a presidente Dilma Rousseff pediu o afastamento de Pagot no dia 2 de junho, depois que 'denúncias' contra o Dnit foram publicadas pela 'Veja', envolvendo suposto esquema de propinas que beneficiariam o PR;
f) Pagot alegou inocência e resistiu até o dia 26 de julho, quando entregou a carta de demissão, em meio a uma crise que já havia derrubado toda a cúpula do ministério dos Transportes ligada ao PR (incluindo o ministro);
g) o ex-presidente Lula tentou evitar a queda de Pagot. Não por acreditar em querubins.
Preocupava-o a rendição recorrente ao denuncismo gerado por disputas entre quadrilhas associadas a órgãos de imprensa. Lula estava certo.
No Carta Maior
*comtextolivre

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