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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, abril 09, 2012

Rússia alerta sobre ataque dos EUA ao Irã

 

Sanguessugado do redecastorphoto
*MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Obama opõe-se frontalmente à linha de ação aprovada na reunião de Istambul, de a Arábia Saudita armar os “rebeldes” sírios”. [1]
Entreouvido na Vila Vudu: Taí... Obama parece estar contra a Hilária e o Pentágono e a Arábia Saudita (e também contra o Kissinger [2], que tá velho, mas ainda morde, e Israel) e com eleições pela frente. A vida não tá fácil, nem pros liberais de Harvard, nos EUA... Parece que há muito mais coisas em jogo, nas eleições dos EUA, do que faz crer o miserável jornalismo brasileiro e os tais tolos “analistas” à moda do William Waack...
O presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Duma (Parlamento) russa, Alexey Pushkov alertou que o deslocamento do sistema de mísseis de defesa dos EUA no Golfo Persa é sinal de que pode estar em preparação um ataque militar ao Irã [3]. Peshkov é político influente, próximo do Kremlin, com acesso à inteligência russa; o que diz, portanto, merece atenção.
De fato, houve outros alertas desse tipo, no nível do establishment militar e de segurança em Moscou. O comandante geral do exército russo, general Nikolay Makarov, disse recentemente que, em sua avaliação, é possível um ataque militar dos EUA ainda nesse verão. “O Irã é ponto nevrálgico (para os EUA). Acho que tomarão alguma decisão no verão”.
O alerta de Pushkov faz sentido, dado que o sistema de mísseis antibalísticos visa a neutralizar a capacidade do Irã para retaliar [4] . Pushkov associou seu comentário à decisão, dos alemães, de vender seis submarinos classe Dolphin a Israel, que descreveu como abominável, porque amplia a capacidade de Israel montar ataque pelo mar.
Fato é que alguma coisa parece, sim, estar em preparação. Pequim, na 6ª-feira, lançou sua mais forte declaração, até agora, contra qualquer ataque militar ao Irã [5].
E não há dúvidas de que a retórica dos EUA para o Irã assumiu outra vez tons muito ameaçadores. Em visita a Riad, no sábado, para acertar os últimos detalhes do deslocamento dos mísseis antibalísticos e no caminho para a reunião dos “Amigos da Síria” em Istambul no domingo, a secretária de Estado Hillary Clinton subiu ainda mais o tom da retórica de agressão (ou provocação).
Na volta a Washington, avisou que Teerã não force os limites da paciência dos EUA [6]. O EUA voltaram a falar grosso, culpando o Irã por suas agruras no Afeganistão – questão que ecoa na opinião doméstica, nos EUA. E tudo isso, só na última semana.
A retórica mudou sem qualquer razão visível, e destoa da trilha política prevista para as conversações do grupo “P5+1”, marcadas para 13 de abril. O tom de Clinton tornou-se cada vez mais ameaçador [7], o que só pode ter efeito de provocação, em Teerã.
Estarão os EUA lançando campanha de “guerra psicológica”, pensando em amolecer a posição do Irã, com vistas às conversações do “P5+1”? Ou, então, será que o governo Obama concluiu que nada sairá, mesmo, daquelas conversas? Outra vez, será que Obama está desistindo, pressionado pelas exigências de ano eleitoral, no plano interno? Ou será que está em posição de nada poder negar à Arábia Saudita – já furiosa com o que chama de ‘falta de espinha dorsal’ de Obama, e ele já desistiu de Síria e Irã?
Talvez, e pode ser a explicação mãe de todas as explicações, Obama quer apenas que os sauditas não parem de bombear petróleo extra, para manter baixos os preços do combustível até as eleições, para impedir que os consumidores respondam à carestia, nas urnas; e, assim sendo, Obama teria de fazer um favor aos sauditas? É a explicação de Donald Trump – sempre bem informado quando se trata de dinheiro [8].
Não há, no momento, resposta fácil para essas perguntas. Fato é que o caminho da paz é arriscado para Obama, porque, para ser bem-sucedido nas negociações, é preciso que os EUA sejam flexíveis, assim como se espera que Teerã faça concessões. Enquanto isso, resta pouco espaço de manobra para Obama. E, por outro lado, a atitude politicamente mais segura para ele será mostrar-se “super falcão”, em relação ao Irã.
O mais recente vazamento pelos jornais, sobre a “abertura” de Obama para ao Irã [9] visa, provavelmente, a abrir caminho para que, adiante, Obama diga que estava preparado para avançar nas negociações com o Irã, mas a teimosia e a intransigência de Teerã frustrou sua luta pela paz. Por essa via, não é difícil forçar um pouco mais o argumento, e justificar um eventual ataque militar.
Os EUA obviamente estão investindo todas as esperanças na ideia de que o Irã receberá sem reagir os golpes de EUA-Israel. Nada menos garantido. Claro que os EUA têm vasta superioridade sobre o Irã. Um show de “choque e pavor” pela tela da rede CNN impressionará o público norte-americano, que verá que, sim, o comandante-em-chefe é homem durão. E talvez também consiga melhorar o humor dos xeiques das monarquias do Golfo. Mas... e depois? Dentre as respostas “assimétricas” do Irã, com certeza o país se retirará do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Depois disso, que opções restarão a Obama? [10] Bombardear o Irã a cada seis meses?
Notas dos tradutores
[2] 7/4/2012, redecastorphoto em: Pepe Escobar, “Queremos guerra e tem de ser já!” .
[4] 31/3/2012, Washington Post, Karen DeYoung em: “Clinton meets with Gulf nations over missile defense”.
[9] 6/4/2012, Washington Post, David Ignatius em: “Obama’s signal to Iran”.
[10] 5/4/2012, Global News, Charles Gray em: “Iran war would be quick victory, long defeat”.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

A guerra dos EUA-Israel ao Irão: O mito de uma campanha limitada

James Petras
A crescente ameaça de um ataque militar dos EUA-Israel ao Irão baseia-se em vários factores incluindo: (1) a história militar recente de ambos os países na região; (2) pronunciamentos públicos de líderes políticos estado-unidenses e israelenses; (3) ataques recentes e em curso ao Líbano e à Síria, aliados importantes do Irão; (4) ataques armados e assassínios de cientistas e responsáveis de segurança iranianos por grupos terroristas e/ou afectos sob controle dos EUA ou da Mossad; (5) o fracasso das sanções económicas e da coacção diplomática; (6) escalada de histeria e exigências extremas ao Irão para por fim ao enriquecimento de urânio de uso legal e civil; (7) "exercícios" militares provocatórios nas fronteiras do Irão e jogos de guerra destinados a intimidar e a um ensaio geral para um ataque antecipativo; (8) pressão poderosa de grupos pró guerra tanto em Washington como em Tel Aviv incluindo os principais partidos políticos israelenses e a poderosa AIPAC nos EUA; (9) e finalmente o National Defense Authorization Act de 2012 (um orwelliano decreto de emergência de Obama, de 16/Março/2012).
A propaganda de guerra estado-unidense opera ao longo de dois trilhos: (1) a mensagem dominante enfatiza a proximidade da guerra e a disposição dos EUA de utilizarem força e violência. Esta mensagem é destinada ao Irão e coincide com anúncios israelenses de preparativos de guerra. (2) O segundo trilho tem como objectivo o "público liberal" com um punhado de "académicos reconhecidos" marginais (ou progressistas Departamento de Estado) a subestimarem a ameaça de guerra e argumentarem que decisores políticos razoáveis em Tel Aviv e Washington estão conscientes de que o Irão não possui armas nucleares ou qualquer capacidade para produzi-las agora ou no futuro próximo. A finalidade deste contra-vapor liberal é confundir e minar a maioria da opinião pública, a qual opõe-se claramente a mais preparativos de guerra, e fazer descarrilar o explosivo movimento anti-guerra.
É desnecessário dizer que os pronunciamentos os instigadores de guerra "racionais" utilizam um "duplo discurso" baseado no afastamento displicente de todas as evidências históricas e empíricas em contrário. Quando os EUA e Israel falam de guerra, preparam-se para a guerra e empenham-se e provocações pré guerra – eles pretendem ir à guerra – tal como fizeram contra o Iraque em 2003. Sob as actuais condições políticas e militares internacionais um ataque ao Irão, inicialmente por Israel com apoio dos EUA, é extremamente provável, mesmo quando as condições económicas mundiais deveriam ditar em contrário e mesmo quando as consequências estratégicas negativas provavelmente repercutir-se-ão através do mundo durante as próximas décadas.
Cálculo dos EUA e Israel sobre a capacidade militar do Irão
Os decisores estratégicos americanos e israelenses não concordam sobre as consequências da retaliação do Irão contra um ataque. Pelo seu lado, líderes israelenses minimizam a capacidade militar do Irão de atacar e de prejudicar o estado judeu, o qual é a sua única consideração. Eles contam com a distância, seu escudo anti-mísseis e a protecção de forças aéreas e navais dos EUA no Golfo para cobrir seu ataque sorrateiro. Por outro lado, estrategas militares dos EUA sabem que os iranianos são capazes de infligir baixas substanciais a navios de guerra dos EUA, os quais teriam de atacar instalações costeiras iranianas a fim de apoiar ou proteger os israelenses.
A inteligência israelense é bem conhecida pela sua capacidade para organizar o assassinato de indivíduos por todo o mundo: a Mossada organizou com êxito actos terroristas além-mar contra líderes palestinos, sírios e libaneses. Por outro lado, a inteligência israelense tem um registo muito fraco quanto às suas estimativas de grandes empreendimentos militares e políticos. Eles subestimaram gravemente o apoio popular, a força militar e a capacidade organizacional do Hezbollah durante a guerra de 2006 no Líbano. Da mesma forma, a inteligência israelense entendeu mal a força e a capacidade do movimento democrático popular egípcio quando este se levantou e derrubou o aliado regional estratégico de Tel Aviv, a ditadura Mubarak. Se bem que líderes israelenses "finjam paranóia" – lançando clichés acerca de "ameaças existenciais" – eles são enganados pela sua arrogância narcisista e o seu racismo, subestimando reiteradamente a perícia técnica e o refinamento político dos seus inimigos árabes e da região islâmica. Isto é indubitavelmente verdadeiro no seu descartar displicente da capacidade do Irão para retaliar contra um planeado assalto aéreo israelense.
O governo estado-unidense agora comprometeu-se abertamente a apoiar um assalto israelense ao Irão quando ele for lançado. Mais especificamente, Washington afirma que virá "incondicionalmente" em defesa de Israel se este for "atacado". Como pode Israel evitar ser "atacado" quando seus aviões estão a despejar bombas e mísseis sobre instalações iranianas, defesas militares e infraestruturas estratégicas? Além disso, dada a colaboração e aos sistemas de inteligência do Pentágono coordenados com as Forças de Defesa de Israel (IDF), seu papel na identificação de objectivos, rotas e aproximações de mísseis, bem como as cadeias de fornecimento de armas integradas e de munições, serão críticos para um ataque das IDF. Não há maneira de os EUA se dissociarem da guerra do estado judeu ao Irão depois de iniciado o ataque.
Os mitos da "guerra limitada": Geografia
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Washington e Tel Aviv afirmam e parecem acreditar que o seu planeado assalto ao Irão será uma "guerra limitada", tendo como alvo objectivos limitados e perdurando apenas uns poucos dias ou semanas – sem consequências graves.
Dizem-nos que brilhantes generais de Israel identificaram todas as instalações de investigação nuclear críticas, as quais os seus ataques aéreos cirúrgicos eliminarão sem danos colaterais horríveis para a população circundante. Uma vez que o alegado programa de "armas nucleares" fosse destruído, todos os israelenses poderiam retomar as suas vidas em segurança plena sabendo que outra ameaça "existencial" fora eliminada. A noção israelense de uma guerra limitada em "tempo e espaço" é absurda e perigosa – e caracteriza a arrogância, estupidez e racismo dos seus autores.
Para se aproximarem das instalações nucleares do Irão as forças israelenses e estado-unidenses confrontar-se-ão com bases bem equipadas e defendidas, instalações de mísseis, defesas marítimas e fortificações em grande escala dirigidas pelos Guardas Revolucionários e pelas Forças Armadas do Irão. Além disso, os sistemas de defesa de mísseis que protegem as instalações nucleares estão ligados a auto-estradas, aeródromos, portos e apoiadas por infraestrutura de finalidade dupla (civil-militar), as quais incluem refinarias de petróleo e uma enorme rede de gabinetes administrativos. Por "nocaute" os alegados sítios nucleares exigirá a expansão do âmbito geográfico da guerra. A capacidade científica-tecnológica do programa nuclear civil iraniano envolve um vasto conjunto das suas instalações de investigação, incluindo universidades, laboratórios, locais de fabricação e centros de concepção. Destruir o programa nuclear civil do Irão exigiria que Israel (e portanto os EUA) atacassem muito mais do que instalações de investigação ou laboratórios ocultos sob uma montanha remota. Exigiria assaltos múltiplos e generalizados sobre alvos por todo o país, por outras palavras, uma guerra generalizada.
O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, declarou que o Irão retaliará com uma guerra equivalente. O Irão corresponderá à amplitude e âmbito de com um contra-ataque de resposta. "Nós os atacaremos no mesmo nível quando eles nos atacarem". Isso significa que o Irão não limitará a sua retaliação a meramente tentar deitar abaixo bombardeiros estado-unidenses e israelenses no seu espaço aéreo ou a lançar mísseis a navios dos EUA nas suas águas mas levará a guerra a alvos equivalente em Israel e em países ocupados pelos EUA no Golfo e em torno dele. A "guerra limitada" de Israel tornar-se-á uma guerra generalizada que se estenderá por todo o Médio Oriente e ainda mais além.
A actual adoração ilusória de Israel acerca do seu elaborado sistema de defesa míssil ficará exposta quando centenas de mísseis de alto poder forem lançados de Teerão, do Sul do Líbano e bem além das Alturas de Golan.
O mito da guerra limitada: Intervalo de tempo
Peritos militares israelenses esperam confiantemente exterminar seus alvos iranianos nuns poucos dias – alguns podem pensar que num simples fim de semana – e talvez sem a perda de nem um único piloto. Eles esperam que o estado judeu venha a celebrar a sua brilhante vitória nas ruas de Tel Aviv e Washington. Estão iludidos pelo seu próprio senso de superioridade. O Irão não combateu uma guerra brutal com uma década de duração contra os invasores iraquianos abastecidos pelos EUA e os seus conselheiros militares ocidentais/israelenses só para entregar-se e submeter-se passivamente a um número limitado de ataques aéreos e com mísseis por parte de Israel. O Irão é uma sociedade jovem, bem educada e mobilizada, a qual pode utilizar milhões de reservistas de todo espectro político, étnico, de género e religioso, galvanizado em apoio a sua nação sob ataque. Numa guerra para defender a pátria todas as diferenças internas desaparecem para enfrentar o ataque não provocado israelenses-estado-unidense que ameaça toda a sua civilização – seus 5000 anos de cultura e tradições, bem como os seus avanços científicos modernos e instituições. A primeira onda de ataques dos EUA-Israel levará a uma retaliação feroz, a qual não será confinada às áreas originais do conflito, nem qualquer acto da agressão israelense acabará quando e se instalações nucleares do Irão forem destruídas e alguns dos seus cientistas, técnicos e trabalhadores qualificados forem mortos. A guerra continuará no tempo e em extensão geográfica.
Múltiplos pontos de conflito
Assim como qualquer ataque dos EUA-Israel ao Irão envolveria alvos múltiplos, os militares iranianos também terão uma pletora de alvos estratégicos facilmente acessíveis. Embora seja difícil prever onde e como o Irão retaliará, uma coisa está clara: O ataque inicial dos EUA-Israel não ficará sem resposta.
Dada a supremacia israelense-estado-unidense a longas e médias distâncias e em poder aéreo, o Irão provavelmente confiará em objectivos de curta distância. Isto incluiria as valiosas instalações militares do EUA e rotas de abastecimento em terrenos adjacentes (Iraque, Kuwait e Afeganistão) e alvos israelenses com mísseis lançados do Sul do Líbano e possivelmente da Síria. Se uns poucos misseis de longo alcance escaparem ao muito gabado "escudo anti-míssil" do estado judeu, centros populacionais israelenses podem pagar um preço pesado pela imprudência e arrogância dos seus líderes.
O contra-ataque iraniano levará a uma escalada das forças EUA-Israel, estendendo e aprofundando a sua guerra aérea e naval a todos o sistema de segurança nacional iraniano – bases militares, portos, sistemas de comunicação, postos de comando e centros administrativos do governo – muitos em cidades densamente povoadas. O Irão reagirá lançando o seu maior activo estratégico: um ataque coordenado no solo envolvendo os Guardas Revolucionários, juntamente com seus aliados entre as tropas xiitas iraquianas, contra forças dos EUA no Iraque. Ele coordenará ataques contra instalações dos EUA no Afeganistão e Paquistão com a crescente resistência armada nacionalista-islâmica.
O conflito inicial, centrado nos chamados objectivos militares estratégicos (instalações de investigação científica), generalizar-se-á rapidamente a alvos económicos ou o que os estrategas militares dos EUA e Israel chamam de alvos "duais civis-militares". Isto incluiria campos de petróleo, auto-estradas, fábricas, redes de comunicações, estações de televisão, instalações de tratamento de água, reservatórios, centrais eléctricas e gabinetes administrativos, tais como o Ministério da Defesa e a sede da Guarda Republicana. O Irão, confrontada com a destruição iminente de toda a sua economia e infraestrutura (o que se verificou no Iraque vizinho com a invasão não provocada dos EUA em 2003), retaliaria bloqueando o Estreito de Ormuz e enviando mísseis de curto alcance na direcção dos principais campos de petróleo e refinarias dos Estados do Golfo incluindo o Kuwait e a Arábia Saudita, a meros 10 minutos de distância, paralisando o fluxo de petróleo para a Europa, Ásia e os Estados Unidos e mergulhando a economia mundial numa depressão profunda.
Não se deveria esquecer que os iranianos provavelmente estão mais conscientes do que ninguém na região da devastação total sofrida pelos iraquianos após a invasão dos EUA, a qual mergulhou aquela nação no caos total e devastou a sua infraestrutura avançada e o seu aparelho administrativo civil, para não mencionar a sistemática aniquilação da sua elite científica e técnica altamente educada. As ondas de assassínios de cientistas iranianos, académicos e engenheiros promovidas pela Mossad são apenas uma antevisão do que os israelenses têm em mente para cientistas, intelectuais e trabalhadores técnicos altamente qualificados. Os iranianos não deveriam ter ilusões acerca dos americanos e israelenses que procuram lançar o país na sombria era brutal do Afeganistão e Iraque. Eles não terão mais papel num Irão devastado do que têm os seus vizinhos no Iraque pós Saddam.
Segundo o general Mathis, que comanda todas as forças dos EUA no Médio Oriente, Golfo Pérsico e Sudeste da Ásia, "um primeiro ataque israelense provavelmente teria consequências calamitosas em toda a região e para os Estados Unidos ali" (NY Times, 19/3/12). A estimativa de "consequências calamitosas" do general Mathis apenas leva em conta as perdas militares dos EUA, provavelmente centenas de marinheiros em vasos de guerra ao alcance de mísseis de artilheiros iranianos.
Contudo, a mais ilusória e auto-enganosa avaliação do resultado e consequências de um ataque aéreo israelense ao Irão provém de líderes israelenses de topo, académicos e peritos de inteligência, que afirmam [ter] inteligência superior, defesas superiores e visão suprema (e também racista) dentro da "mente iraniana". É típico o ministro da Defesa israelense, Barak, que se jacta de que qualquer retaliação iraniana na pior das hipóteses infligirá baixas mínimas à população israelense.
A visão "judeu-cêntrica" de reordenamento do equilíbrio de poder na região, a qual prevalece nos principais círculos israelenses, passa por alto a probabilidade de que a guerra não será decidia por ataques aéreos israelenses e defesas anti-míssil. Os mísseis do Irão não podem ser facilmente contidos, especialmente chegarem várias centenas por minuto de três direcções, Irão, Líbano, Síria e possivelmente de submarinos iranianos. Em segundo lugar, o colapso das suas importações de petróleo devastará a economia de Israel, altamente dependente da energia. Em terceiro lugar, os principais aliados de Israel, especialmente os EUA e a UE, serão gravemente tensionados quando forem arrastados para dentro da guerra de Israel e encontrarem-se a defender os estreitos de Ormuz, suas guarnições no Iraque e no Afeganistão e seus campos de petróleo e bases militares no Golfo. Tal conflito poderia incendiar as maiorias xiitas no Bahrain e nas províncias estratégicas ricas em petróleo da Arábia Saudita. A guerra generalizada terá um efeito devastador sobre o preço do petróleo e a economia mundial. Provocará a fúria de consumidores e a ira de trabalhadores por toda a parte quando fecharem fábricas e choques poderosos por todo o frágil sistema financeiro resultarem numa depressão mundial.
O patológico "complexo de superioridade" de Israel resulta em que os seus líderes racistas sistematicamente super-estimam suas próprias capacidades intelectuais, técnicas e militares, ao passo que subestimam o conhecimento, capacidade e coragem dos seus adversários regionais, islâmicos (neste caso iranianos). Eles ignoram a capacidade demonstrada do Irão para sustentar uma guerra defensiva prolongada, complexa e em muitas frentes e em recuperar-se de um assalto inicial e desenvolver armamento moderno adequado para infligir danos severos aos seus atacantes. E o Irão terá o apoio incondicional e activo da população muçulmana do mundo e talvez o apoio diplomático da Rússia e da China, que obviamente verão um ataque ao Irão como um outro ensaio geral para conter o seu poder crescente.
Conclusão
A guerra, especialmente uma guerra israelense-estado-unidense contra o Irão, está indissoluvelmente ligada ao relacionamento assimétrico EUA-Israel, o qual secundariza qualquer análise militar e política crítica nos EUA. Devido à configuração de poder sionista de Israel, a força militar dos EUA pode ser canalizada para o apoio ao impulso de Israel para a dominação regional, aos líderes israelenses e acima de tudo para os seus militares sentirem-se livres para entrarem nas mais ultrajantes aventuras militares e destrutivas, sabendo muito bem que em primeira e última instância podem confiar no apoio dos EUA com o sangue e as riquezas americanas. Mas depois de todo este grotesco servilismo a um país racista e isolado, quem resgatará os Estados Unidos? Quem impedirá o afundamento dos seus navios no Golfo e a morte e mutilação de centenas dos seus marinheiros e milhares dos seus soldados? E onde estarão os israelenses e sionistas dos EUA quando o Iraque for invadido pelas tropas de elite iranianas e seus aliados xiitas e um levantamento generalizado se verificar no Afeganistão?
Os decisores políticos egocêntricos de Israel desprezam o provável colapso do abastecimento de petróleo mundial em consequência da sua planeada guerra contra o Irão. Será que os seus agentes sionistas nos EUA percebem que, em consequência do arrastamento dos EUA para a guerra de Israel, a nação iraniana será forçada a por em chamas os campos de petróleo do Golfo Pérsico?
Quão barato tornou-se "comprar uma guerra" nos EUA? Por uns meros poucos milhões de dólares em contribuições de campanha para políticos corruptos e através da penetração deliberada de agentes "Israel-First", académicos e políticos na maquinaria de fazer a guerra do governo estado-unidense, e através da covardia moral e auto-censura dos principais críticos, escritores e jornalistas que se recusam a nomear Israel e seus agentes como os decisores chave do nosso país na política do Médio Oriente, nós nos encaminhamos directamente rumo a uma guerra muito além de qualquer conflagração militar regional e rumo ao colapso da economia mundial e do empobrecimento brutal de centenas de milhões de pessoas de Norte a Sul, de Leste a Oeste.
05/Abril/2012
*Gilsonsampaio

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