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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 17, 2012

YPF da Argentina e histeria privatista 

 

 

Por Altamiro Borges

A decisão da presidenta Cristina Kirchner de reestatizar a empresa petrolífera da Argentina, a YPF, fez ressurgir com força o debate sobre as privatizações das estatais na América Latina. Os ideólogos privatistas e também os “privatas” – aqueles que desviaram a grana da venda do patrimônio público para as suas contas, como revela o livro “A privataria tucana” – estão irritados, histéricos.



Arrogância imperial da Espanha

A Espanha, que tem saqueado as riquezas de várias nações para tentar se salvar do colapso econômico – seja com a remessa de lucros da Repsol na Argentina ou da Telefônica no Brasil –, já declarou guerra ao governo soberano do país vizinho. Arrogante e imperial, o primeiro-ministro Mariano Rajoy criticou a "quebra de contrato" com a multinacional espanhola e prometeu "duras" retaliações.

O direitista não tem moral para falar em "quebra de contratos" – que o digam os trabalhadores espanhóis que tiveram seus direitos aniquilados por seu recente pacote de austeridade fiscal, que rasgou todos os "contratos" trabalhistas em vigor na Espanha. Rajoy esperneia para defender a ganância da Repsol, uma multinacional que não investia no setor e apenas roubava o povo argentino.

O ganância da Repsol

A YPF foi privatizada em 1999 pelo governo neoliberal de Carlos Menem. A Repsol passou a deter 57% das ações da ex-poderosa estatal de petróleo. Com o tempo, porém, ficou visível a falsidade do discurso sobre a tal eficiência da iniciativa privada. Em 2010, a Repsol obteve um lucro de 1,4 bilhão de euros do subsolo argentino. Já a produção nacional de petróleo recuou quase 5,5%.

Em decorrência do pujante crescimento econômico da Argentina, o consumo de petróleo aumentou 38% e o de gás cresceu 25%, entre 2003 e 2010. Já oferta da multinacional caiu 12% e 2,3%, respectivamente. Com isso, o país, que já foi autossuficiente em petróleo, foi forçado elevar a importação do produto. No ano passado, o governo gastou US$ 11 bilhões com a conta petróleo.

A falta de compromisso da Repsol com o desenvolvimento do país atiçou os atritos com o governo argentino, que nesta segunda-feira (16) anunciou a reestatização da empresa. Antes, a presidenta já havia fixado um imposto sobre a exportação de petróleo e adotado outras medidas para coagir a multinacional. Mas a Repsol não recuou no saque. Desde 2009, ela não furou um único poço de petróleo no país.

A gritaria da mídia colonizada

Diante da decisão soberana do governo argentino, os privatistas e “privatas” fazem o maior escarcéu – sem analisar os méritos da medida. Para isso, como sempre, eles contam com as manipulações da mídia entreguista e colonizada. O Clarín, veículo-palanque das correntes neoliberais da Argentina, aliou-se à Espanha para condenar o governo de Cristina Kirchner.

No Brasil, a mídia também partiu para o ataque. Em seu editorial de hoje (17), a Folha condena a “expropriação” da multinacional Repsol. Para o jornal, que venera o deus-mercado, “trata-se de uma medida intempestiva, que gera insegurança jurídica e erode ainda mais a já desgastada credibilidade daquele país aos olhos do mercado internacional”.

No Jornal da Globo de ontem à noite, Willian Waack, frequentador do Instituto Millenium – o antro dos barões da mídia nativa – só faltou pregar a derrubada da presidenta Cristina Kirchner. Talvez ele até receba algum título honorifico do rei da Espanha ou algum agradecimento especial da Repsol!

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