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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 17, 2012

UM CONSERVADOR ESCLARECIDO

 




O ex-governador Claudio Lembro
Ser conservador não quer dizer, necessariamente, ser andidemocrata. Infelizmente, no Brasil os conservadores historicamente costumam se aliar ao que há de mais reacionário, atrasado e golpista. 
Há exceções, entretanto, embora poucas. Uma delas é o ex-governador paulista Cláudio Lembro, ex-janista e ex-prócer do DEM. Em 2006, no auge da violência desencadeada pelo PCC em São Paulo, ele recusou a abraçar o discurso fascistizante de mais repressão e disse o Brasil tinha burguesia "muito má", "uma minoria branca muito perversa". "A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações". Agora, ele elogia a presidente Dilma Rousseff por ter iniciado uma queda de braço com os bancos. Melhor que muito esquerdista de fancaria. Pas mal, como diriam os franceses...

O silêncio dos bancos




Por Cláudio Lembo
Do Terra Magazine


Rompeu-se um dogma na política. Havia um tema raramente examinado pelas personalidades públicas. Ou pelos meios de comunicação. Falava-se sobre todos os temas. Um só era tratado de maneira ufanista.


Análises em profundidade não apareciam nos jornais ou nos noticiários das televisões e rádios. Apenas exames superficiais e complacentes. Uma aparente inexplicável situação.

Rompeu-se o silêncio. A presidente Dilma Rousseff trouxe ao debate a política monetária. Esta sempre ficou restrita aos fechados escaninhos do Banco Central.


Os iniciados podiam tratar da moeda. O vulgo deveria receber lições e aceitar as regras. Quando qualquer movimento se esboçava, surgia a afirmação da autonomia do Banco Central.

Esta é importante. Mas, as autoridades monetárias precisam conhecer as múltiplas opiniões sobre tão relevante tema. Sabe-se a importância de um sistema financeira sólido.

Este deve ser altamente capitalizado para vencer as conjunturas adversas. No entanto, esta verdade não pode ser superior ao debate democrático. Inexistem, nas democracias, cantos escuros.


Tudo deve ser debatido com racionalidade. A busca de eficiência é comando constitucional. Todos devem procurar este objetivo. Não podem determinados agentes sobrepor a outros, por mais significativos que se apresentem.

Ao propor um grande debate sobre os juros, a presidente Dilma atinge um novo patamar na política nacional. Luta-se pela decência nos negócios públicos. Avança-se nos temas sociais.


Agora é hora de se analisar este patrimônio coletivo que é a moeda. Ela se coloca como um dos maiores atributos da soberania. É símbolo do grau econômico conquistado por um país.

Não podia, pois, tão importante elemento do Estado nacional ficar longe das discussões públicas. Ao trazer para arena política a moeda, o governo federal inova e se qualifica.


Lamenta-se que os partidos políticos silenciem. Nenhum líder partidário se pronunciou sobre o debate a respeito dos juros. Há uma inexplicável paralisia.



O Banco Central do Brasil

Os bancos, como agentes privilegiados da economia, têm se movimentado. Ainda na semana que passou em Brasília representante do sistema bancário fez exposição às autoridades fazendárias.


Consta que ocorreram críticas à fala do representante do sistema bancário. Teria demonstrado números que levaram à perplexidade, quando tratou do chamado spread bancário.

Não se conhecem pormenores do acontecimento. Certamente, os bancos estão examinando o tema com preocupação. Até agora, nenhum sinal de atendimento aos apelos governamentais.

Compreende-se o silêncio e a cuidadosa posição dos empresários financeiros. Os bancos são instituições sensíveis. Estão sujeitas à observação continua dos mercados.


Qualquer movimento precipitado não é positivo para a higidez das instituições. Coloca a sensibilidade da sociedade em exposição. Daí o cuidadoso silêncio dos administradores bancários.


O assunto, contudo, está na pauta dos debates públicos. É melhor enfrentá-lo com objetividade e respeito à opinião pública. Esta já se encontra exaurida só de boas imagens.


É momento de boas atitudes. Coragem e firmeza para enfrentar a questão. Espera-se um posicionamento efetivo dos agentes financeiros. As autoridades já disseram o que querem.


0utras do professor Cláudio Lembo 'desenterradas' pelo blog MILITÂNCIAVIVA

Lembo: "Cansei" é termo de dondocas enfadadas

Por Bob Fernandes
Domingo, 11 da manhã. Com duas mil pessoas, a passeata convocada pelos movimentos "Cansei" e "Cria" (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante) chega à avenida 23 de Maio. O coro "Fora Lula!" já deu o tom à caminhada. A alguns quilômetros dali, abraçado e beijado por populares e tendo a seu lado o senador Marco Maciel (DEM-PE), o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo assiste à missa na Catedral da Sé.
No início da noite, Lembo diria a Terra Magazine o que pensa sobre o movimento "Cansei", suas origens e motivações:
- "Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das vidas enfadonhas que vivem.
Lembo, colunista deste Terra Magazine, em seu artigo semanal a ser publicado amanhã tratará do que detecta ser um "clima de colapso" e analisará as ações de governos e da mídia em meio à crise.
O ex-governador de São Paulo percebe haver em vários setores da sociedade insatisfação com o "clima de colapso nos serviços públicos". Entende ele que a depauperização dos serviços públicos se dá há duas décadas e se aprofundou "nos últimos 10 anos".
Lembo constata que os recentes acidentes aéreos "comoveram o Brasil e produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa", mas lamenta "a utilização de um movimento natural e de motivos nobres por movimentos e atividades com claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo ou apesar de o negarem, e isso não é bom".
A colunista Mônica Bergamo informa na sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo: por entenderem que o "Cansei" tem slogans que podem levar a uma leitura política e partidária, as redes de televisão Globo e Bandeirantes não cederão espaço publicitário gratuito ao movimento. Por enquanto, a revista IstoÉ cedeu espaço.
Por fim, mas não por último, o ex-governador situa geográfica e nominalmente o "Cansei" desde o que, no seu entender, seria o nascedouro:
- É um movimento nascido em Campos do Jordão. O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão.
Leia a entrevista com Cláudio Lembo:
Terra Magazine - Na noite da última sexta-feira, durante o casamento de Sophia - filha do ex-governador Geraldo Alckmin, de quem o sr. foi vice -, o sr. disse ao repórter José Alberto Bombig, da Folha, que o movimento conhecido como "Cansei", nascido em protesto contra a crise no setor aéreo, a violência e a corrupção, é um movimento de "um pequeno segmento da elite branca" e nascido em Campos do Jordão. O que o sr. quer dizer com isso e o que o leva a ter essa convicção?
Cláudio Lembo - O próprio ato de nascimento do movimento. O "Cansei" nasce conduzido por figuras conhecidas que sempre possuíram e possuem uma visão elitista do país e da sociedade.
A quem ou a quê o sr. se refere?
Por exemplo, ao sr. João Doria Jr., que só trata com os grandes empresários do Brasil, e que, até onde sei, só se relaciona com o topo da sociedade. Suas ações e relações estão sempre nesse nível, que representa uma parcela ínfima do Brasil.
Mas a sua convicção se forma apenas através das suas informações, do seu feeling?
Meu ou de qualquer um. Basta ver a forma, a expressão, o verbo utilizado para dar sentido ao movimento. "Cansei" tem um sentido muito próprio.
Que "sentido próprio" é este?
"Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das vidas enfadonhas que vivem.
O sr. tem, certamente, a consciência de que nesses movimentos, o "Cansei" ou o "Cria", há a participação de familiares de vítimas dos acidentes aéreos?
Tenho consciência e isso me deixa mais triste ainda.
Por quê?
Porque é a utilização de um movimento natural e de motivos nobres por movimentos e atividades com claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo ou apesar de o negarem, e isso não é bom.
Não é bom por quê?
Não é bom porque as vítimas, os familiares, os acidentes comoveram o Brasil e produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa, enquanto o movimento de Campos do Jordão o que quer é ter espaço na mídia etc. 
*MilitânciaViva

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