A comunidade jornalística está em estado de choque pela carnificina editorial ocorrida na Editora Abril.
Mas eis uma agonia anunciada.
Revistas - a mídia que fez a grandeza da Abril - estão tecnicamente mortas, assassinadas pela internet.
Os leitores somem em alta velocidade. Quando você vê alguém lendo revistas (ou jornal) num bar ou restaurante, repare na idade.
Jovens estão com seus celulares ou tablets conectados no noticiário em tempo real.
Perdidos os usuários, foi-se também a publicidade. Em países como
Inglaterra e Estados Unidos, a mídia digital já deixou a mídia impressa
muito para trás em faturamento publicitário.
E no Brasil, ainda que numa velocidade menor, o quadro é exatamente o
mesmo. Que anunciante quer vincular sua marca a um produto obsoleto,
consumido por pessoas “maduras”.
Apenas para lembrar, no mundo das revistas, nunca, em lugar nenhum, funcionou publicitariamente revista para o público “maduro”.
Sucessivas revistas para mulheres “de meia idade” em diversos países fracassaram à míngua de anúncios. O anunciante quer o jovem no auge do consumo. É um fato.
Crises as editoras de revistas enfrentaram muitas. Mas esta é diferente. Desta vez, o caso é terminal.
Antes, e eu vivi várias crises em meus anos de Abril, você sabia que uma hora a borrasca ia passar.
Agora, você olha para a frente e observa apenas o cemitério.
Sobrarão, no futuro, algumas revistas – mas poucas, e de circulação
restrita porque serão um hábito quase tão extravagante quanto se
movimentar em carruagem.
Na agonia, o que companhias como a Abril farão é seguir a cartilha
clássica: tentar extrair o máximo de leite da vaca destinada a morrer.
Para isso, você enxuga as redações, corta os borderôs, piora o papel,
diminui as páginas editoriais e, se possível, aumenta o preço.
É uma lógica que vale mesmo para títulos como Veja e Exame, os mais
fortes da Abril. Foi demitido, por exemplo, o correspondente da Veja em
Nova York, André Petry.
Grandes revistas da Abril, como a Quatro Rodas, passaram agora a não ter mais diretor de redação.
Em breve deixará de fazer sentido uma empresa que encolhe ficar num
prédio como o que a Abril ocupa na Marginal do Pinheiros, cujo aluguel é
calculado entre 1 e 2 milhões de reais por mês.
É inevitável, neste processo, que a empresa perca o poder de atrair talentos. Quem quer trabalhar num ramo em extinção?
Os funcionários mais ousados tratarão de sair, em busca de carreiras em setores que florescem.
Ao contrário de crises anteriores para a mídia impressa, esta é, simplesmente, terminal.
Corre o boato de que a empresa será vendida. Mas quem compra uma editora
de revistas a esta altura? Recentemente, no Reino Unido, correu o boato
de que o proprietário dos títulos Evening Standard e Independent
estaria vendendo seus jornais. Numa entrevista, isso lhe foi perguntado
por um jornalista. “Mas quem está comprando jornais?”, devolveu ele.
É um cenário desolador – e não só para a Abril como, de um modo geral, para toda a mídia tradicional, incluída a televisão.
A internet é uma mídia que se classifica como disruptora: ela
simplesmente mata. O futuro da tevê está muito mais na Netflix ou no
Youtube do que na Globo.
As empresas de mídia estão buscando alternativas para sobreviver. A News
Corp, de Murdoch, separou recentemente suas divisões de entretenimento e
de mídia, para que a segunda não contamine a primeira.
A própria Abril vai saindo das revistas e tentando um lugar ao sol na educação.
Mas escolas – supondo que a Abril supere o problema dramático de imagem
da Veja, pois isso vai levar muitos pais a recusar dar a seus filhos uma
educação suspeita de contaminação pela Veja – não dão prestígio e nem
dinheiro como as revistas deram ao longo de tantos anos.
Isso quer dizer que a Abril luta pela vida. Mas uma vida muito menos
influente e glamorosa do que a que teve sob Victor Civita, primeiro, e
Roberto Civita, depois.
* Blog Justiceira de Esquerda
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