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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 03, 2013

Mario Covas, canonizado pelos Tukkkanos, recebeu caixinha do complexo IPES-IBAD na década de sessenta, foi mais um a colaborar com o golpe de 1964


Farinha do mesmo saco

Aqui em SP, Mario Covas é visto como uma espécie de santo, são incontáveis a quantidade de logradouros, bibliotecas, espaços culturais, etc, etc, etc... que levam seu nome. Sua imagem é de político sério, democrata, ético, daqueles que lutaram contra a ditadura. O governador Geraldo Alckmin, através de sua assessoria, trata como uma heresia a inclusão do nome de Covas nas atuais denúncias de corrupção envolvendo governos do PSDB.

Pouco (no caso do PIG, nada) se fala que foi durante a gestão Covas que teve início o desmonte neoliberal em São Paulo, que durante seu governo se intensificou a precarização do ensino estadual paulista, jogando os índices educacionais deste estado lá para baixo, para ficar só nesse setor.

Aliás, qual foi o grande feito do Mário Covas governador mesmo?

Não me surpreende o envolvimento do “tucano sério”, como alguns adversários o chamam até hoje, no propinoduto tucano, que teria começado durante sua gestão. Quando se investiga com mais rigor sua biografia política, observa-se que deslizes não se encontram apenas em sua fase tucana, desde o início de sua trajetória de homem público, verificam-se episódios nebulosos.

Como dito acima, Covas se notabilizou como opositor a ditadura, estando (para muitos) na mesma estatura de Ulisses Guimarães. Durante os eventos envolvendo o nome do deputado Márcio Moreira Alves, em 1968, às vésperas do AI-5, sua conduta foi corajosa e digna. Contudo, se voltarmos alguns anos no tempo, na mesma década de 1960, vemos que sua postura não foi tão digna assim.

Mario Covas figura na lista dos candidatos que foram financiados pelo complexo IPES-IBAD, institutos que prepararam o terreno para o golpe de 1964. Este fato está exposto e devidamente documentado na monumental obra de René Armand Dreifuss, chamada “1964: a conquista do Estado”, um  dos mais criteriosos estudos sobre o golpe civil-militar brasileiro. Covas foi eleito deputado federal em 1962, financiado pelo golpismo organizado, e uma vez de posse do cargo, teve que retribuir o patrocínio, ajudando a inviabilizar a governo trabalhista de João Goulart.


Vejamos o que René Armand Dreifuss diz sobre o tema:

 (...) as atividades políticas do complexo IPES-IBAD foram de suma importância na realização da crise do bloco histórico-populista. Elas estimularam uma atmosfera de inquietação política e obtiveram êxito em levar à intervenção das Forcas Armadas contra o “caos, a corrupção populista e a ameaça comunista”. (p. 338)

Ao lado de Covas, figuraram na lista dos golpistas os deputados paulistas Cunha Bueno, Padre Godinho, Hamilton Prado (diretor da Cia. Antárctica de Bebidas), Nicolau Tuma, Raniere Mazzili, futuro presidente da Câmara que irá declarar vaga a presidência da República em 1964, mesmo com o presidente João Goulart ainda se encontrando no país, dentre outros. (p. 335)

Por mais que Mario Covas tenha tido uma postura corajosa na conjuntura do AI-5, o mesmo colaborou para o assalto ao poder em 1964, quatro anos depois, bateu de frente com um monstro que ajudou a criar.

As reais implicações de Mario Covas junto ao propinoduto tucanos virão a tona com o tempo, contudo, é mais que necessário desmistificar um político cuja imagem foi forjada por um partido que se notabilizou por sua hipocrisia e por mascarar a realidade chancelado por toda mídia corporativa nacional. 

Para mais detalhes, consultar: 

DREIFUSS, Rene Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Editora Petrópolis-RJ, 1981. 

*Cappacete

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