Farinha do mesmo saco
Aqui
em SP, Mario Covas é visto como uma espécie de santo, são incontáveis a
quantidade de logradouros, bibliotecas, espaços culturais, etc, etc,
etc... que levam seu nome. Sua imagem é de político sério, democrata,
ético, daqueles que lutaram contra a ditadura. O governador Geraldo
Alckmin, através de sua assessoria, trata como uma heresia a inclusão do nome de Covas nas atuais denúncias de corrupção envolvendo governos do PSDB.
Pouco
(no caso do PIG, nada) se fala que foi durante a gestão Covas que teve
início o desmonte neoliberal em São Paulo, que durante seu governo se
intensificou a precarização do ensino estadual paulista, jogando os
índices educacionais deste estado lá para baixo, para ficar só nesse
setor.
Aliás, qual foi o grande feito do Mário Covas governador mesmo?
Não
me surpreende o envolvimento do “tucano sério”, como alguns adversários
o chamam até hoje, no propinoduto tucano, que teria começado durante
sua gestão. Quando se investiga com mais rigor sua biografia política,
observa-se que deslizes não se encontram apenas em sua fase tucana,
desde o início de sua trajetória de homem público, verificam-se
episódios nebulosos.
Como
dito acima, Covas se notabilizou como opositor a ditadura, estando
(para muitos) na mesma estatura de Ulisses Guimarães. Durante os eventos
envolvendo o nome do deputado Márcio Moreira Alves, em 1968, às
vésperas do AI-5, sua conduta foi corajosa e digna. Contudo, se
voltarmos alguns anos no tempo, na mesma década de 1960, vemos que sua
postura não foi tão digna assim.
Mario Covas figura na lista dos candidatos que foram financiados pelo complexo IPES-IBAD,
institutos que prepararam o terreno para o golpe de 1964. Este fato
está exposto e devidamente documentado na monumental obra de René Armand
Dreifuss, chamada “1964: a conquista do Estado”,
um dos mais criteriosos estudos sobre o golpe civil-militar
brasileiro. Covas foi eleito deputado federal em 1962, financiado pelo
golpismo organizado, e uma vez de posse do cargo, teve que retribuir o
patrocínio, ajudando a inviabilizar a governo trabalhista de João
Goulart.
Vejamos o que René Armand Dreifuss diz sobre o tema:
(...)
as atividades políticas do complexo IPES-IBAD foram de suma importância
na realização da crise do bloco histórico-populista. Elas estimularam
uma atmosfera de inquietação política e obtiveram êxito em levar à
intervenção das Forcas Armadas contra o “caos, a corrupção populista e a
ameaça comunista”. (p. 338)
Ao
lado de Covas, figuraram na lista dos golpistas os deputados paulistas
Cunha Bueno, Padre Godinho, Hamilton Prado (diretor da Cia. Antárctica
de Bebidas), Nicolau Tuma, Raniere Mazzili, futuro presidente da Câmara
que irá declarar vaga a presidência da República em 1964, mesmo com o
presidente João Goulart ainda se encontrando no país, dentre outros. (p.
335)
Por
mais que Mario Covas tenha tido uma postura corajosa na conjuntura do
AI-5, o mesmo colaborou para o assalto ao poder em 1964, quatro anos
depois, bateu de frente com um monstro que ajudou a criar.
As
reais implicações de Mario Covas junto ao propinoduto tucanos virão a
tona com o tempo, contudo, é mais que necessário desmistificar um
político cuja imagem foi forjada por um partido que se notabilizou por
sua hipocrisia e por mascarar a realidade chancelado por
toda mídia corporativa nacional.
Para mais detalhes, consultar:
DREIFUSS, Rene Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Editora Petrópolis-RJ, 1981.
*Cappacete
Nenhum comentário:
Postar um comentário