Arábia Saudita: a feroz ditadura alimentada pelo império terrorista e silenciado na mídia vassala
A Arábia Saudita joga pesado.
Luiz Eça
A
imprensa brasileira não deu muita importância, mas foi um verdadeiro
escândalo a tentativa da Arábia Saudita subornar a Rússia.
Numa
recente reunião com Putin, o príncipe Bandar, chefe do Conselho de
Segurança Nacional do reino, ofereceu comprar 15 bilhões de dólares em
armamentos russos. Mais uma série de concessões políticas e econômicas.
Em troca, Moscou deveria parar de apoiar Assad na ONU e de continuar lhe fornecendo armamentos.
E
o príncipe Bandar acalmou os receios russos de que a Síria caísse nas
mãos de radicais islâmicos: qualquer regime que viesse pós- Assad
estaria completamente nas mãos de Ryad.
Putin recusou a proposta: não ia vender sua política externa. De fato, a Rússia é muito grande para poder ser comprada.
Aí,
o príncipe Bandar declarou que, então, só restava a opção militar. E
que era melhor esquecer a projetada reunião de paz em Genebra, pois os
rebeldes jamais topariam participar.
Tudo isso foi informado à agência Reuters por diplomatas de vários países do Golfo e do Líbano e por líderes da oposição síria.
Não dá para negar que a oferta de businness saudita fosse um tanto anti- ética. Chocante até.
A Arábia Saudita pouco se preocupa com esses aspectos.
Ela joga pesado, mesmo.
Na
Síria, é talvez a principal provedora de armamentos aos rebeldes, além
de não perder chance de apelar para que o Ocidente deixe de figuração e
entre na guerra pra valer.
A forte ajuda militar
prestada à insurgência não discrimina os grupos islâmicos
radicais, também fartamente aquinhoados.
Daí
sua grande influência até mesmo sobre essas facções, o que levou
Bandar a garantir a Putin que quem assumisse depois de uma eventual
queda de Assad seria controlado pelo reinado saudita.
A
Arábia Saudita já gastou centenas de milhões de dólares (ou mais) para
derrubar Assad por ser ele o principal aliado do Irã, o grande inimigo
do reino.
Eles temem o poder militar dos iranianos e a possibilidade deles virem a ter bombas nucleares.
Por fim, como aliada dos EUA, a Arábia Saudita tem mesmo de criar problemas para o Irã.
Tanto
a Arábia Saudita quanto o Irã tem governos islâmicos porém de seitas
opostas. Os sunitas wahabitas sauditas consideram os shiitas iranianos
como hereges e inimigos irreconciliáveis.
A mão
pesada do governo de Ryadh também se faz sentir em outros países da
África do Norte e do Oriente Médio. O reino lhes oferece recursos
financeiros e seus eficientes serviços de inteligência para reforçar
dinastias autoritárias, destruir democracias nascentes e reprimir
insurreições populares.
Ryad acusa Teerã de estimular movimentos de protesto dos xiitas na região leste do seu país e no Bahrein, seu satélite.
Defendeu o quanto pôde os ditadores Mubarak, no Egito, e Saleh, no Iemen.
No norte do Iemen, um movimento separatista shiita, apoiado pelo Irã, já enfrentou vários ataques do exército saudita.
No
Bahrein, desde 2011, a maioria xiita promove protestos, exigindo
igualdade de direitos com os sunitas. O governo acusa os iranianos de
estar por trás dos manifestantes. Em 2012, o exercito saudita interveio,
reprimindo as manifestações a ferro e fogo.
Na guerra da Líbia, Ryadh forneceu armas e dinheiro para os rebeldes.
Ali o adversário era o ditador Gadafi, com quem a casa real de Saud mantinha uma rixa há muitos anos.
Tanto
na revolução da Síria, quanto na Líbia, os sauditas se apresentaram
como defensores da democracia e dos direitos humanos, contra os regimes
desses países que os desrespeitavam com violência.
Interessante que todos eles são muito parecidos.
A Arábia Saudita é uma monarquia absoluta. O rei concentra poderes totais: executivo, legislativo e mesmo judiciário.
Conforme
informa o príncipe Kaled Farhan, exilado em Dusseldorf, Alemanha, ao
site RT: “Não há judiciário independente já que a polícia e os
procuradores prestam contas ao Ministério do Interior.”
Os
partidos são proibidos e os oposicionistas, severamente perseguidos.
Diz o príncipe Farhan:”Esse ministério (do Interior) investiga os
“crimes” relacionados à liberdade de expressão. Eles fabricam
evidências, não permitem que as pessoas tenham advogado.”
E prossegue: ”Mesmo se a corte judicial decide pela absolvição dos acusados, o Ministério os mantém na prisão.”
Aliás, segundo a “Associação de Direitos Políticos”, existem 30 mil prisioneiros políticos.
Eleições, só de conselhos civis, que tem apenas poderes consultivos.
Recentemente,
o mais alto conselho religioso (muito poderoso) declarou as
demonstrações de protesto categoricamente anti-islâmicas porque “criam
divisões e causam conflitos civis.”
O Estado saudita está profundamente ligado à religião oficial- o wahabismo sunita, a mais conservadora versão do islamismo.
Os wahabitas sustentam que a sharia, conjunto de leis do Alcorão, deve ser obedecida ao pé da letra, apesar de ter surgido há 1.400 anos atrás.
É o que acontece na Arábia Saudita, por imperativo constitucional.
Lá,
todas as religiões não islâmicas são banidas. Não há igrejas de outros
cultos, embora a pequena minoria cristã possa realizar suas cerimônias
em residências privadas.
As mulheres são discriminadas.
Não podem guiar carros, nem viajar para o exterior sem autorização do marido, nem mesmo sair à rua desacompanhadas.
Só recentemente puderam votar e assim mesmo apenas para os conselhos municipais.
Recentemente,
várias ativistas de direitos humanos foram condenadas à 10 meses de
prisão e 2 anos de proibição de viajar, por “incitarem uma esposa contra
seu marido”. Na verdade, elas ajudarem uma mulher que fora fechada em
casa, sem alimentos, enquanto o marido viajava.
Pior de tudo: a conversão de um wahabita para outra religião é punida com a pena de morte.
Com a Primavera Árabe, a pequena oposição interna se intensificou.
A
monarquia saudita reagiu, abrindo a mão para conceder 10 bilhões de
dólares para construção de habitações e medidas a favor do emprego.
Mas
fechou a outra mão, para golpear com mais força os manifestantes
xiitas, 10% da população, e os jovens que começavam a pedir democracia.
Apesar da repressão, os xiitas continuam saindo às ruas, pedindo igualdade de direitos com os sunitas wahabitas.
Impedidos
de se manifestar em público, os jovens usam as mídias sociais para
veicular seus comentários e críticas às violências do regime.
Comentando as punições que eles vem sofrendo, disse Joe Stork , vice-diretor do Human Rights Watch, Oriente Médio: “Colocar pessoas na prisão devido a pacíficos posts no Facebook, prova que não há onde expressar opinião, nem mesmo nas redes sociais.”.
Os
EUA – firme defensor e proselitista da democracia no Oriente Médio,
duro denunciante das ditaduras violadoras dos direitos humanos – teria
todos os motivos para tratar a Arábia Saudita como um Estado pária.
Mas não, continua in love pelo reino dos Saud.
Afinal, depois de Israel, é seu maior e mais forte aliado no Oriente Médio, importante para complicar a vida do hostil Irã.
Além
de ser o maior produtor mundial de petróleo e maior fornecedor dos EUA,
ainda é um excelente mercado para as exportações americanas.
Só no ano passado, comprou 60 bilhões de dólares em armamentos, muito bem vindos num país assolado pela crise e pelo desemprego.
Por
isso mesmo, para a Casa Branca, vale a pena esquecer que a Arábia
Saudita foi um dos 3 únicos países do mundo que reconheceram o regime
Talibã, antes da invasão.
Seus petrodólares
financiam armas para movimentos radicais islâmicos próximos ao Wahabbi,
na África e na Ásia, muitos deles inimigos do Ocidente.
Conforme
relatório da então secretária de Estado, Hillary Clinton, revelado pelo
Wikki Leaks em 2009: “Os doadores na Arábia Saudita representam a mais
significativa fonte de financiamento dos grupos terroristas sunitas em
todo o mundo.”
Quanto ao acordo que o príncipe
saudita propôs, como se a política externa de um país fosse um negócio
de compra e venda, o porta- voz do Kremlin negou tudo. Jamais teria
acontecido.
Não poderia ser diferente.
Um governo que revelasse, publicamente, questões tratadas em off com outros países ficaria sujo na comunidade internacional.
*GilsonSampaio
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