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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 19, 2013

Arábia Saudita: a feroz ditadura alimentada pelo império terrorista e silenciado na mídia vassala


 

A Arábia Saudita joga pesado.

Luiz Eça
A imprensa brasileira não deu muita importância, mas foi um verdadeiro escândalo a tentativa da Arábia Saudita subornar a Rússia.
Numa recente reunião com Putin, o príncipe Bandar, chefe do Conselho de Segurança Nacional do reino, ofereceu comprar 15 bilhões de dólares em armamentos russos. Mais uma série de concessões políticas e econômicas.
Em troca, Moscou deveria parar de apoiar Assad na ONU e de continuar lhe fornecendo armamentos.
E o príncipe Bandar acalmou os receios russos de que a Síria caísse nas mãos de radicais islâmicos: qualquer regime que viesse pós- Assad estaria completamente nas mãos de Ryad.
Putin recusou a proposta: não ia vender sua política externa. De fato, a Rússia é muito grande para poder ser comprada.
Aí, o príncipe Bandar declarou que, então, só restava a opção militar. E que era melhor esquecer a projetada reunião de paz em Genebra, pois os rebeldes jamais topariam participar.
Tudo isso foi informado à agência Reuters por diplomatas de vários países do Golfo e do Líbano e por líderes da oposição síria.
Não dá para negar que a oferta de businness saudita fosse um tanto anti- ética. Chocante até.
A Arábia Saudita pouco se preocupa com esses aspectos.
Ela joga pesado, mesmo.
Na Síria, é talvez a principal provedora de armamentos aos rebeldes, além de não perder chance de apelar para que o Ocidente deixe de figuração e entre na guerra pra valer.
A forte ajuda militar prestada à insurgência não discrimina os grupos islâmicos radicais,             também fartamente aquinhoados.
Daí sua grande influência até mesmo sobre essas facções, o que levou  Bandar a garantir a Putin que quem assumisse depois de uma eventual queda de Assad seria controlado pelo reinado saudita.
A Arábia Saudita já gastou centenas de milhões de dólares (ou mais) para derrubar Assad por ser ele o principal aliado do Irã, o grande inimigo do reino.
Eles temem o poder militar dos iranianos e a possibilidade deles virem a ter bombas nucleares.
Por fim, como aliada dos EUA, a Arábia Saudita tem mesmo de criar problemas para o Irã.
Tanto a Arábia Saudita quanto o Irã tem governos islâmicos porém de seitas opostas. Os sunitas wahabitas sauditas consideram os shiitas iranianos como hereges e inimigos irreconciliáveis.
A mão pesada do governo de Ryadh também se faz sentir em outros países da África do Norte e do Oriente Médio. O reino lhes oferece recursos financeiros e seus eficientes serviços de inteligência para reforçar dinastias autoritárias, destruir democracias nascentes e reprimir insurreições populares.
Ryad acusa Teerã de estimular movimentos de protesto dos xiitas na região leste do seu país e no Bahrein, seu satélite.
Defendeu o quanto pôde os ditadores Mubarak, no Egito, e Saleh, no Iemen.
No norte do Iemen, um movimento separatista shiita, apoiado pelo Irã, já enfrentou vários ataques do exército saudita.
No Bahrein, desde 2011, a maioria xiita promove protestos, exigindo igualdade de direitos com os sunitas. O governo acusa os iranianos de estar por trás dos manifestantes. Em 2012, o exercito saudita interveio, reprimindo as manifestações a ferro e fogo.
Na guerra da Líbia, Ryadh forneceu armas e dinheiro para os rebeldes.
Ali o adversário era o ditador Gadafi, com quem a casa real de Saud mantinha uma rixa há muitos anos.
Tanto na revolução da Síria, quanto na Líbia, os sauditas se apresentaram como defensores da democracia e dos direitos humanos, contra os regimes desses países que os desrespeitavam com violência.
Interessante que todos eles são muito parecidos.
A Arábia Saudita é uma monarquia absoluta. O rei concentra poderes totais: executivo, legislativo e mesmo judiciário.
Conforme informa o príncipe Kaled Farhan, exilado em Dusseldorf, Alemanha, ao site RT: “Não há judiciário independente já que a polícia e os procuradores prestam contas ao Ministério do Interior.”
Os partidos são proibidos e os oposicionistas, severamente perseguidos. Diz o príncipe Farhan:”Esse ministério (do Interior) investiga os “crimes” relacionados à liberdade de expressão. Eles fabricam evidências, não permitem que as pessoas tenham advogado.”
E prossegue: ”Mesmo se a corte judicial decide pela absolvição dos acusados, o Ministério os mantém na prisão.”
Aliás, segundo a “Associação de Direitos Políticos”, existem 30 mil prisioneiros políticos.
Eleições, só de conselhos civis, que tem apenas poderes consultivos.
Recentemente, o mais alto conselho religioso (muito poderoso) declarou as demonstrações de protesto categoricamente anti-islâmicas porque “criam divisões e causam conflitos civis.”
O Estado saudita está profundamente ligado à religião oficial- o wahabismo sunita, a mais conservadora versão do islamismo.
Os wahabitas sustentam que a sharia, conjunto de leis do Alcorão, deve ser obedecida ao pé da letra, apesar de ter surgido há 1.400 anos atrás.
É o que acontece na Arábia Saudita, por imperativo constitucional.
Lá, todas as religiões não islâmicas são banidas. Não há igrejas de outros cultos, embora a pequena minoria cristã possa realizar suas cerimônias em residências privadas.
As mulheres são discriminadas.
Não podem guiar carros, nem viajar para o exterior sem autorização do marido, nem mesmo sair à rua desacompanhadas.
Só recentemente puderam votar e assim mesmo apenas para os conselhos municipais.
Recentemente, várias ativistas de direitos humanos foram condenadas à 10 meses de prisão e 2 anos de proibição de viajar, por “incitarem uma esposa contra seu marido”. Na verdade, elas ajudarem uma mulher que fora fechada em casa, sem alimentos, enquanto o marido viajava.
Pior de tudo: a conversão de um wahabita para outra religião é punida com a pena de morte.
Com a Primavera Árabe, a pequena oposição interna se intensificou.
A monarquia saudita reagiu, abrindo a mão para conceder 10 bilhões de dólares para construção de habitações e medidas a favor do emprego.
Mas fechou a outra mão, para golpear com mais força os manifestantes xiitas, 10% da população, e os jovens que começavam a pedir democracia.
Apesar da repressão, os xiitas continuam saindo às ruas, pedindo igualdade de direitos com os sunitas wahabitas.
Impedidos de se manifestar em público, os jovens usam as mídias sociais para veicular seus comentários e críticas às violências do regime.
Comentando as punições que eles vem sofrendo, disse Joe Stork , vice-diretor do Human Rights Watch, Oriente Médio: “Colocar  pessoas na prisão devido a pacíficos posts no Facebook, prova  que não há onde expressar opinião, nem mesmo nas redes sociais.”.
Os EUA – firme defensor e proselitista da democracia no Oriente Médio, duro denunciante das ditaduras violadoras dos direitos humanos – teria todos os motivos para tratar a Arábia Saudita como um Estado pária.
Mas não, continua in love pelo reino dos Saud.
Afinal, depois de Israel, é seu maior e mais forte aliado no Oriente Médio, importante para complicar a vida do hostil Irã.
Além de ser o maior produtor mundial de petróleo e maior fornecedor dos EUA, ainda é um excelente mercado para as exportações americanas.
Só no ano passado, comprou 60 bilhões de dólares em armamentos, muito bem vindos num país assolado pela crise e pelo desemprego.
Por isso mesmo, para a Casa Branca, vale a pena esquecer que a Arábia Saudita foi um dos 3 únicos países do mundo que reconheceram o regime Talibã, antes da invasão.
Seus petrodólares financiam armas para movimentos radicais islâmicos próximos ao Wahabbi, na África e na Ásia, muitos deles inimigos do Ocidente.
Conforme relatório da então secretária de Estado, Hillary Clinton, revelado pelo Wikki Leaks em 2009: “Os doadores na Arábia Saudita representam a mais significativa fonte de financiamento dos grupos terroristas sunitas em todo o mundo.”
Quanto ao acordo que o príncipe saudita propôs, como se a política externa de um país fosse um negócio de compra e venda, o porta- voz do Kremlin negou tudo. Jamais teria acontecido.
Não poderia ser diferente.
Um governo que revelasse, publicamente, questões tratadas em off com outros  países ficaria sujo na comunidade internacional.
*GilsonSampaio

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