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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 02, 2013

Foro de São Paulo: grupos de ultradireita atacam manifestantes na capital paulista


Pomar coordena o Foro de São Paulo
Pomar coordena o Foro de São Paulo
Um grupo de cerca de 20 pessoas mascaradas e vestidas com roupas pretas agrediu participantes do Foro de São Paulo na noite passada, por volta das 22h, em um restaurante próximo a um dos hotéis que abriga o evento, na Rua Martins Fontes, em São Paulo. A Polícia Militar, que reforçou o efetivo na região central da capital paulista a pedido dos organizadores do Foro de São Paulo, prendeu parte dos agressores.
A maior parte das vítimas participa do V Encontro de Juventudes do Foro, como explicou Valter Pomar, secretário-executivo da organização de esquerda. Ninguém ficou ferido com gravidade. O restaurante, no entanto, teve sua porta de entrada, que era de vidro, quebrada.
– É a confirmação da campanha que vimos nos últimos dias por atos agressivos contra o Foro de São Paulo – afirmou Pomar.
Em junho, uma página foi criada no Facebook com o objetivo de “organizar ações contra o Foro de São Paulo”.
O evento, iniciado oficialmente ontem e que reúne dezenas de partidos de esquerda, vai até o próximo domingo. Estão previstas as presenças de Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira e do presidente da Bolívia Evo Morales, no domingo.
À esquerda
Pomar, que conversou com jornalistas na manhã desta quinta-feira, pediu aos governos “progressistas” da América Latina para “avançarem em direção à esquerda” para conter o “esgotamento” de um modelo que permitiu reduzir a pobreza, mas está ameaçado pela crise global e a “reação” da direita.
– O esgotamento é relativo, mas é visível em vários sentidos – disse Pomar à agência espanhola de notícias Efe.
Segundo Pomar, “por um lado se esgotou” o modelo de distribuição de renda entre os mais pobres, embora “tenha sido muito mais bem-sucedido do que poderia ser”, e também “se esgotou no sentido de que gerou forças sociais que desejam mais do que receberam até agora”. Esse seria o motivo das recentes e massivas manifestações no Brasil, já que, na última década, cerca de 40 milhões de pessoas saíram da miséria – apesar das imensas desigualdades sociais permanecerem – e exigem serviços melhores e faz isso ocupando as ruas com protestos.
Também considerou que o “esgotamento” do modelo se deve a que “as classes dominantes têm uma tolerância cada vez menor frente às experiências de distribuição de renda” e começaram a encorajar uma “reação”, que apela para métodos “antidemocráticos”.
A direita “está recuperando terreno em parte pelas fragilidades e erros” da esquerda, reconheceu o dirigente do Foro de São Paulo, formado por 100 partidos de esquerda da América Latina e que se reúne esta semana na cidade. O secretário apontou, no entanto, que a direita conta com “o imenso apoio que tem” em setores econômicos, políticos e na imprensa.
Pomar acrescentou que, nos protestos no Brasil, ou nos que ocorrem de forma recorrente na Argentina e na Venezuela, entre outros países, se somaram alguns setores de esquerda, que “exigem mais” de governos considerados progressistas.
– As dissidências da esquerda política e social falam sobre os que desejam mais do que tiveram até agora – e exigem um aprofundamento das políticas voltadas aos setores populares, afirmou.
Processo de mudança
O líder petista apontou, no entanto, que as manifestações também foram infiltradas por “movimentos antidemocráticos”, que ligou à “reação das classes dominantes”.
Na opinião de Pomar, “a solução para esses problemas passa por um aprofundamento do processo de mudanças, não só na economia, mas também na política”.
O secretário do encontro também alertou que, no aspecto puramente econômico, o cenário latino-americano se deteriora com o esfriamento da economia chinesa e a queda dos preços das matérias-primas e pode afetar as “forças progressistas” em termos eleitorais. A resposta, segundo Pomar, deve ser “mais democracia econômica, mais democracia social e mais democracia política”.
Isso aponta, em sua opinião, para uma “saída pela esquerda, no sentido de reduzir a influência econômica, social e política do grande capital e, sobretudo, do capital transnacional e financeiro e das potências imperialistas”. Para isso, segundo Pomar, é necessário “aumentar a presença do investimento público, do Estado, das pequenas e médias empresas e as cooperativas; e aumentar a força política dos trabalhadores e dos setores progressistas” das classes médias.
As sessões do Foro de São Paulo serão abertas oficialmente nesta sexta-feira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e se encerram no domingo, quando é esperada a presença do presidente da Bolívia, Evo Morales.
*CorreiodoBrasil

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