Via Carta Maior
O pesadelo de Fukushima ainda mais assustador
O
despejamento de isótopos no Pacífico é a pior notícia vinda do Japão
desde Hiroshima e Nagasaki - a chuva radioativa de Fukushima foi de 20 a
30 vezes maior do que nos bombardeios de 1945. Apesar disso, a nova
administração japonesa tem falado de voltar a operar os 48 reatores que
continuam fechados desde o acidente em Fukushima.
Harvey Wasserman, do site The Progressive
Assim que tudo parecia estar sob controle em Fukushima, descobrimos que a situação estava pior do que nunca. Imensamente pior.
Quantidades
massivas de líquidos radioativos estão agora vazando, através do reator
destruído, para o Oceano Pacífico. E o que tem vazado é muito mais
letal do que o "mero trítio" que dominou as manchetes até agora.
Tepco,
a proprietária e operadora de Fukushima - e uma das maiores e mais
tecnológicas empresas de tecnologia elétrica avançada - admitiu que não
pode controlar a situação. Sua performance vergonhosa fez com que o
antigo comissário de regulação nuclear dos EUA os acusasse de "não
saberem o que estavam fazendo".
O governo
japonês está se envolvendo, mas não há nenhuma garantia - nem mesmo a
probabilidade - de que farão melhor. Na verdade, não há certeza sobre o
que está causando este vazamento de morte e destruição sem controle.
Cerca
de 28 meses depois que três dos seis reatores explodiram na região de
Fukushima Daichi, ninguém pode oferecer uma explicação definitiva do que
está acontecendo ali ou de que maneira lidar com isso.
Além
de estar situada numa região propensa a terremotos e sujeita a
tsunamis, Fukushima Daichi estava situada sobre um grande aquífero. Este
fato gravíssimo estava ausente de quase todas as discussões sobre o
acidente desde que ele ocorreu.
Não há a menor dúvida de que a água do lago subterrâneo foi totalmente contaminada.
Na
sequência do desastre do dia 11 de março de 2011, a Tepco levou o
público a acreditar que ela havia contido o vazamento de água
contaminada para o Pacífico. Mas agora ela admite que essa não foi a
única mentira, mas que as quantidades de água envolvidas - aparentemente
cerca de 1.500.000 litros por dia - são muito grandes.
Parte dessa água pode estar vazando do aquífero. Uma parte escorre das encostas íngremes japonesas pela região e para o mar.
Até
agora, a empresa e as autoridades regulatórias asseguraram que o único
contaminante da água é o trítio primário. O trítio é um isótopo
relativamente simples, sua meia-vida
é de 8 dias. Seus efeitos na saúde podem ser substanciais, mas sua
meia-vida curta tem sido usada para proliferar a ilusão de que não há
muito para nos preocuparmos.
Relatos agora
indicam que o vazamento em Fukushima também inclui quantidades
substanciais de iodo radioativo, césio e estrôncio. Isso indica que há
ainda mais do que ouvimos até agora. E essa é uma péssima notícia.
O
iodo-131, por exemplo, pode ser absorvido pela tireoide, onde emite
partículas beta (elétrons) que danificam o tecido. Uma epidemia de
tireoides danificadas atingindo cerca de 40% das crianças da área de
Fukushima já foi relatada. Esse percentual pode subir. Em crianças em
desenvolvimento, isso pode prejudicar o crescimento físico e mental.
Entre os adultos, pode causar um leque diversificado de doenças,
inclusive câncer.
O césio-137 vindo de Fukushima
foi encontrado em peixes pescados em locais tão distantes quanto a
Califórnia. Esse elemento se espalha pelo corpo, tende a se acumular nos
músculos.
O estrôncio-90 possui meia-vida de cerca de 29 anos. Similar ao cálcio, se acumula nos ossos.
A
notícia de que esses isótopos estão sendo despejados no Pacífico é a
pior notícia que vem do Japão desde os bombardeios de Hiroshima e
Nagasaki, que ocorreram há 68 anos atrás, e cuja chuva radioativa foi
amplamente excedida em Fukushima.
Na verdade,
especialistas japoneses já estimaram que a chuva radioativa em Fukushima
foi de 20 a 30 vezes maior do que nos bombardeios de 1945. A realidade é
esta: não há absolutamente nenhuma indicação de como ou quando este
vazamento letal irá parar.
Até aqui, a Tepco
construiu proteções para conter o quanto pudesse da água contaminada.
Mas a companhia não é capaz de contê-la inteiramente, e está ficando
cada vez mais sem espaço. Alguns tanques, é claro, já apresentaram
vazamentos.
Não está claro se o vazamento está
ou não se acelerando. A Tepco injetou produtos químicos no solo para
endurecê-lo, formando uma barreira entre os reatores e o mar. Há também a
possibilidade surreal de se fazer um super-resfriamento de parte do
terreno para formar uma barreira de gelo. Mas a água de alguma maneira
escorre entre dispositivos tão frágeis.
Continua
incerto o que ocorreu com os núcleos derretidos dos três reatores que
explodiram. A aparição recente de fumaça no local fez ressurgir a
preocupação de que a fissão ainda esteja ocorrendo nos arredores da
usina.
Também é incerto o destino de centenas
de toneladas de combustível nuclear acumulado precariamente num tanque
suspenso no ar, 100 pés acima da Unidade Quatro.
Sustentar
o sistema de resfriamento até que as barras de combustível possam ser
retiradas - e ainda é absolutamente incerto quando isso ocorrerá - é um
dos maiores desafios.
Se um terremoto acontecer
antes que sejam retiradas as barras - ou se elas caírem do tanque e
quebrarem, o que incendiaria seus revestimentos de zircônio – a situação
só poderá ser descrita como apocalíptica.
Apesar
disso tudo, a nova administração japonesa pró-energia nuclear tem
falado de voltar a operar os 48 reatores que continuam fechados desde o
acidente em Fukushima.
A Tepco é uma das empresas que pressionam o recomeço das operações em outras usinas.
Nos EUA, se diz que os reatores nucleares vão de alguma forma solucionar o problema do aquecimento global.
O
que sabemos muito bem é que Fukushima foi a pior catástrofe atômica do
mundo e está muito longe de terminar. A única coisa que podemos prever é
que notícias piores estão por vir.
E, quando elas vierem, nosso planeta cada vez mais frágil estará ainda mais irradiado, custo imensurável para todos nós.
Tradução de Roberto Brilhante
*GilsonSampaio
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