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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, agosto 14, 2013

Fukushima: o pior está por vir


O pesadelo de Fukushima ainda mais assustador

O despejamento de isótopos no Pacífico é a pior notícia vinda do Japão desde Hiroshima e Nagasaki - a chuva radioativa de Fukushima foi de 20 a 30 vezes maior do que nos bombardeios de 1945. Apesar disso, a nova administração japonesa tem falado de voltar a operar os 48 reatores que continuam fechados desde o acidente em Fukushima.

Harvey Wasserman, do site The Progressive
Assim que tudo parecia estar sob controle em Fukushima, descobrimos que a situação estava pior do que nunca. Imensamente pior.
Quantidades massivas de líquidos radioativos estão agora vazando, através do reator destruído, para o Oceano Pacífico. E o que tem vazado é muito mais letal do que o "mero trítio" que dominou as manchetes até agora.
Tepco, a proprietária e operadora de Fukushima - e uma das maiores e mais tecnológicas empresas de tecnologia elétrica avançada - admitiu que não pode controlar a situação. Sua performance vergonhosa fez com que o antigo comissário de regulação nuclear dos EUA os acusasse de "não saberem o que estavam fazendo".
O governo japonês está se envolvendo, mas não há nenhuma garantia - nem mesmo a probabilidade - de que farão melhor. Na verdade, não há certeza sobre o que está causando este vazamento de morte e destruição sem controle.
Cerca de 28 meses depois que três dos seis reatores explodiram na região de Fukushima Daichi, ninguém pode oferecer uma explicação definitiva do que está acontecendo ali ou de que maneira lidar com isso.
Além de estar situada numa região propensa a terremotos e sujeita a tsunamis, Fukushima Daichi estava situada sobre um grande aquífero. Este fato gravíssimo estava ausente de quase todas as discussões sobre o acidente desde que ele ocorreu.
Não há a menor dúvida de que a água do lago subterrâneo foi totalmente contaminada.
Na sequência do desastre do dia 11 de março de 2011, a Tepco levou o público a acreditar que ela havia contido o vazamento de água contaminada para o Pacífico. Mas agora ela admite que essa não foi a única mentira, mas que as quantidades de água envolvidas - aparentemente cerca de 1.500.000 litros por dia - são muito grandes.
Parte dessa água pode estar vazando do aquífero. Uma parte escorre das encostas íngremes japonesas pela região e para o mar.
Até agora, a empresa e as autoridades regulatórias asseguraram que o único contaminante da água é o trítio primário. O trítio é um isótopo relativamente simples, sua meia-vida é de 8 dias. Seus efeitos na saúde podem ser substanciais, mas sua meia-vida curta tem sido usada para proliferar a ilusão de que não há muito para nos preocuparmos.
Relatos agora indicam que o vazamento em Fukushima também inclui quantidades substanciais de iodo radioativo, césio e estrôncio. Isso indica que há ainda mais do que ouvimos até agora. E essa é uma péssima notícia.
O iodo-131, por exemplo, pode ser absorvido pela tireoide, onde emite partículas beta (elétrons) que danificam o tecido. Uma epidemia de tireoides danificadas atingindo cerca de 40% das crianças da área de Fukushima já foi relatada. Esse percentual pode subir. Em crianças em desenvolvimento, isso pode prejudicar o crescimento físico e mental. Entre os adultos, pode causar um leque diversificado de doenças, inclusive câncer.
O césio-137 vindo de Fukushima foi encontrado em peixes pescados em locais tão distantes quanto a Califórnia. Esse elemento se espalha pelo corpo, tende a se acumular nos músculos.
O estrôncio-90 possui meia-vida de cerca de 29 anos. Similar ao cálcio, se acumula nos ossos.
A notícia de que esses isótopos estão sendo despejados no Pacífico é a pior notícia que vem do Japão desde os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, que ocorreram há 68 anos atrás, e cuja chuva radioativa foi amplamente excedida em Fukushima.
Na verdade, especialistas japoneses já estimaram que a chuva radioativa em Fukushima foi de 20 a 30 vezes maior do que nos bombardeios de 1945. A realidade é esta: não há absolutamente nenhuma indicação de como ou quando este vazamento letal irá parar.
Até aqui, a Tepco construiu proteções para conter o quanto pudesse da água contaminada. Mas a companhia não é capaz de contê-la inteiramente, e está ficando cada vez mais sem espaço. Alguns tanques, é claro, já apresentaram vazamentos.
Não está claro se o vazamento está ou não se acelerando. A Tepco injetou produtos químicos no solo para endurecê-lo, formando uma barreira entre os reatores e o mar. Há também a possibilidade surreal de se fazer um super-resfriamento de parte do terreno para formar uma barreira de gelo. Mas a água de alguma maneira escorre entre dispositivos tão frágeis.
Continua incerto o que ocorreu com os núcleos derretidos dos três reatores que explodiram. A aparição recente de fumaça no local fez ressurgir a preocupação de que a fissão ainda esteja ocorrendo nos arredores da usina.
Também é incerto o destino de centenas de toneladas de combustível nuclear acumulado precariamente num tanque suspenso no ar, 100 pés acima da Unidade Quatro.
Sustentar o sistema de resfriamento até que as barras de combustível possam ser retiradas - e ainda é absolutamente incerto quando isso ocorrerá - é um dos maiores desafios.
Se um terremoto acontecer antes que sejam retiradas as barras - ou se elas caírem do tanque e quebrarem, o que incendiaria seus revestimentos de zircônio – a situação só poderá ser descrita como apocalíptica.
Apesar disso tudo, a nova administração japonesa pró-energia nuclear tem falado de voltar a operar os 48 reatores que continuam fechados desde o acidente em Fukushima.
A Tepco é uma das empresas que pressionam o recomeço das operações em outras usinas.
Nos EUA, se diz que os reatores nucleares vão de alguma forma solucionar o problema do aquecimento global.
O que sabemos muito bem é que Fukushima foi a pior catástrofe atômica do mundo e está muito longe de terminar. A única coisa que podemos prever é que notícias piores estão por vir.
E, quando elas vierem, nosso planeta cada vez mais frágil estará ainda mais irradiado, custo imensurável para todos nós.
Tradução de Roberto Brilhante
*GilsonSampaio

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