Mídia empenha-se de novo em desqualificar manifestações. E volta a pedir repressão
Por Zé Dirceu
Se fizemos uma rápida cronologia, o movimento dos orgãos de imprensa foi
assim: no começo, pediam repressão contra os manifestantes que
diariamente promovem concentrações em diversas cidades e capitais do
país há dois meses; depois abraçaram as manifestações e tentaram
cooptá-las, ignorando e em alguns casos estimulando os atos violentos;
agora se posicionam de novo contrariamente aos atos públicos,
justificando a reviravolta como decorrência da violência que encerra os
protestos.
Em outras palavras, primeiro a mídia pediu repressão e depois tentou
manipular e dirigir as manifestações. Agora quer repressão de novo.
Alguns articulistas já invocam a ordem e um salvador da pátria. No fim
de semana, direta ou veladamente na linha imprimida ao noticiário, a
mídia pedia o fim das manifestações. Articulistas, editorialistas,
comentaristas no rádio e TV, todos voltaram a essa postura.
A Veja, a Folha, o Estadão (e o Globo na 6ª feira) agora defendem o fim
das manifestações. Na 6ª, O Globo tinha usado a manchete para criticar
os manifestantes. Agora uma entrevista da ex-senadora e presidenciável
Marina Silva, com uma única declaração em que ela afirma que a violência
nos atos públicos extrapola limites, virou a principal manchete da
Folha de S.Paulo no domingo.
Governo deu resposta às ruas; mídia esconde o fato
Dentro da volta dessa política, há uma matéria também na Folha de
S.Paulo hoje - "Voz das ruas ainda não ecoa no Planalto" - na qual vão
nessa linha, a pretexto de publicarem a agenda política e administrativa
da Secretaria-Geral da Presidência da República. Deixam de lado os
cinco pactos propostos pelo governo da presidenta Dilma Rousseff em
resposta às reivindicações das ruas e as medidas, também em resposta,
aprovadas pelo Congresso Nacional.
O fato é que a mídia ficou contra o plebiscito proposto inicialmente
pelo governo em resposta às manifestações. Para ela povo só protestando;
decidindo não. Soberania só em palavra de ordem; já seu real exercício
em um plebiscito para acabar com a corrupção via reforma politica, não.
A proposta de plebiscito foi enterrada na Câmara dos Deputados com o
apoio aberto da mídia. Já na página seguinte a essa matéria da "voz das
ruas", a Folha dá uma materinha tipo pegadinha, sobre as viagens e
acompanhantes do presidente Lula quando no governo.
Como vocês observam, o movimento de oscilação da mídia quanto às
manifestações é aberto e direto. Para os jornalões, manifestações só
contra o governo e o PT. Como não conseguiram converter os protestos das
ruas em atos antipetistas, agora eles querem repressão de novo. Vale
tudo. Volta a criminalização dos movimentos e a tentativa de
desconstituição de lideranças. Sem contar a ofensiva contra o Mídia
Ninja, o site que convocou os primeiros protestos e acompanha online as
manifestações.
Mais um triste capítulo na história da velha mídia e de seus donos
Volta o jornalismo investigativo dirigido e os apelos ao Judiciário para
punir os manifestantes. Tudo ao contrário de junho, quando os protestos
se iniciaram e a mídia fechou os olhos. Foi conivente. Chegou a
justificar a violência contra os partidos registrada em alguns atos e a
agressão organizada pela repressão policial contra os manifestantes.
Nossa condenação feita desde a primeira hora contra violência e o
vandalismo caiu no vazio. A velha mídia se limitou a separar em sua
narrativa os manifestantes dos vândalos. Nada mais. E assim, com mais
uma reviravolta na linha da cobertura, vive-se agora mais um triste
capítulo na história da velha mídia e de seus donos.
*Ajusticeiradeesquerda
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