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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 20, 2014

A geração BES, yuppies, o botox e a sucata liberal que nos governa - Portugal

segunda-feira, outubro 20, 2014

A geração BES, yuppies, o botox e a sucata liberal que nos governa

Se a história deste desgraçado país fosse um filme valia a pena rebobinar e ver o que diziam, faziam ou defendiam alguns dos manjericos que por aí andam. Recuemos, por exemplo, aos tempos de Cavaco Silva primeiro-ministro e procuremos nos seus discursos, nos seus programas de governo ou nas suas propostas eleitorais uma preocupação com a importância dos famosos “bens transaccionáveis” de que se lembrou quando precisou de dar coerência económica ao seu ataque ao governo de Sócrates.
  
Aliás, se a história pudesse ser rebobinada para ajudar a memória colectiva o percurso de Cavaco seria uma preciosa ajuda para percebermos o que se passa agora. Seria muito interessante ir rever a privatização do BPA ou os discursos em que apresentava a banca de sucesso como o exemplo da liberalização económicia por si defendida.
  
Mas deixemos de bater no “ceguinho”, o percurso político de Cavaco é de tal modo desastroso que bater em tal figurar já começa a meter algum dó. Pequemos antes num Vítor Gaspar que atingiu o pico de notoriedade quando escreveu um editorial para um livro com teses por provar assentes em erros. Seria interessante ver se nos seus escritos Vítor Gaspar alertou com a devida antecedência para a crise das dívidas soberanas.
  
Recuando dez ou quinze anos iríamos descobrir um Horta Hosório em boa forma jogando squash com um ainda jovial Belmiro de Azevedo, esquecido o problema das heranças o Belmiro era um caso de sucesso enquanto o Horta Osório era a prova de que qualquer jovem podia ter sucesso sem grandes doutoramentos, bastava estar no dia certo no lugar certo e tornar-se amigo da filha de um grande banqueiro.  O que um e o outro diziam era bebido avidamente pelos jovens tigres do liberalismo tuga. Hoje um está velho e outro tem aa cara com tantos inchaços que aprece ter sido insuflado com alguma mezinha da juventude.
  
Mais ou menos nessa época o Ricardo Salgado era dono disto tudo, todos os jornalistas económicos estavam disponíveis para o lamber dos pés à cabeça, ditos cujos incluídos. Era um tempo em que as grandes vedetas do liberalismo iam a Belém defender os centros de decisão tugas e todos se reuniam sob o patrocínio do dono num Compromisso Portugal. 
  
Hoje o Cavaco está em decadência acelerada, o Horta Osório apresenta sinais de velhice, do Mexia nem se fala, a geração BES está retirada, gorda e enriquecida. Deixaram a sucata liberal, com licenciaturas tiradas em universidades da treta, com um pensamento económico cheio de citações coladas a cuspo e uma ideologia onde se misturam, as ideias do Gaspar com o fundamentalismo cristão da sua avozinha de Manteigas.

*http://jumento.blogspot.com.br/2014/10/a-geracao-bes-yuppies-o-botox-e-sucata.html

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