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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Depois da Grécia Espanha Europa Esquerdizando Podemos encena em Madrid o início da “mudança”

http://www.publico.pt/n1684601





Podemos encena em Madrid o início da “mudança”


Marcha mobilizou mais de 100 mil pessoas. “Quem disse que não é possível? Na Grécia, foi feito mais em seis dias do que em muitos anos”, disse Pablo Iglesias.

Orgulhoso pelo êxito, Pablo Iglesias disse a certa altura à multidão: “Esta foto aparecerá nos livros.” Referia-se à foto da que foi, até agora, a maior acção de rua de apoio ao partido que lidera, o Podemos, que este sábado reuniu no centro de Madrid uma multidão, seduzida pela mensagem de que “a mudança é possível”.
“O vento de mudança começa a soprar na Europa”, gritou à multidão concentrada nas Portas do Sol, que abarrotava de gente ida de toda a Espanha. “Quem disse que não é possível? A Grécia tem hoje um Governo de mudança. Na Grécia, foi feito mais em seis dias do que em muitos anos”, disse.
Bandeiras republicanas, algumas gregas, também do partido Syriza, cartazes em que se podia ler: “Políticos, o povo despertou”, pontuavam a “Marcha da Mudança”. Foi mais uma concentração, no dizer do diário espanhol El Mundo, porque no quilómetro que separa a Praça Cibeles, onde começou a iniciativa, e as Portas do Sol, não se podia desfilar, apenas caminhar.
O Podemos afirma que se concentraram no centro histórico de Madrid 300 mil pessoas, a polícia quantificou o número em 100 mil. O diário El País calculou-as em 153 mil.
Iglesias, que se insurgiu contra os “defensores do totalitarismo da austeridade”, comparou o dia de ontem a outros momentos históricos de Espanha e quer fazer dele uma data para aparecer nos livros. Referiu-seaos que se concentraram em Madrid como os herdeiros do levantamento de 2 de Maio de 1808 contra os franceses; dos que proclamaram a II República, em 1931; e dos indignados de 2011.
"Sim é possível, sim é possível” e “tique taque, tique taque”, cantou a multidão, num sinal de contagem decrescente para afastar do poder “a casta”. “Está a acabar o vosso tempo ppsoe”, lia-se em cartazes, num alusão aos dois partidos que têm governado a Espanha: PP (Partido Popular, no poder) e PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol, actualmente na oposição).
“As pessoas estão fartas da classe política”, disse, citada pela Reuters, Antonia Fernandez, uma pensionista madrilena de 69 anos, que se assumiu como antiga votante do PSOE. “Queremos mudar as coisas a partir da base. Espero que o Podemos mude o sistema”, disse Juan Francisco Pacheco, 47 anos, desempregado há dois.
A enorme concentração foi uma demonstração de força e o tiro de partida para o ano eleitoral que começa com as eleições autonómicas na Andaluzia, em Março, e culmina com as legislativas, antes do fim do ano. O Podemos quis “encenar a ruptura com a ‘velha política’ e o arranque da sua campanha eleitoral”, escreveu o El País.
Tornar o sonho realidade
Depois de ter irrompido nas eleições europeias de Maio de 2014, quando conseguiu 1,2 milhões votos e elegeu cinco deputados, a nova força política de esquerda quer chegar ao Governo. Desde Novembro que as sondagens indicam que pode vencer as legislativas.
“Hoje sonhamos tornar o nosso sonho realidade. Este ano começamos algo de novo, este ano é o ano da mudança e vamos ganhar as eleições ao PP”, disse Iglesias, aclamado várias vezes aos gritos de “presidente, presidente”, pelos manifestantes que pediam a demissão do chefe do Governo, Mariano Rajoy, líder do conservador PP. “Em 2005, o povo vai recuperar a soberania”, disse o número dois do partido, Iñigo Errejon.
Embora tenha falado do exemplo grego, ainda que o vencedor das eleições helénicas tenha sido o Syriza, com quem o Podemos partilha a rejeição datroika, Pablo Iglesias separou as situações, dizendo que os espanhóis terão que fazer o seu trabalho e conseguir dar forma ao seus sonhos. Mas declarou-se convicto de que este é o “momento” do Podemos.
É também isso que pensa Blanca Salazar, 53 anos, auxiliar de apoio a idosos, desempregada, que foi de Bilbau, de carro, com os primos e o marido, “que ganha mil euros por mês”. “Creio que a mudança tão esperada, há tanto tempo, vai enfim acontecer”, afirmou à AFP.
“Fazem falta sonhadores valentes que saibam sonhar um mundo melhor e que se atrevam a chamar as coisas pelos nomes, fazem falta sonhadores que se atrevam a defender os de baixo e enfrentar os de cima”, disse Iglesias, citado pelo El Mundo. “Sonhamos como Dom Quixote mas levamos muito a sério os nossos sonhos”, gritou à multidão, no lugar onde em 2011 nasceu o movimento dos indignados, 15-M, que exigia mais participação dos cidadãos na política.
*http://www.publico.pt/mundo/noticia/dezenas-de-milhares-de-espanhois-na-rua-em-resposta-a-apelo-do-podemos-1684601

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