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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 14, 2015


Latuff greciaPassaram-se menos de 10 dias desde que milhões de gregos disseram ‘OXI’ (não) ao imperialismo alemão e decidiram seguir o caminho de um desenvolvimento soberano para o país, sem as imposições da troica, do FMI ou de outras instituições que, nos últimos anos, trataram de fazer definhar sua economia.
O governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras e do partido Syriza, no entanto, não teve coragem para defender a decisão popular e vergonhosamente capitulou ante as redobradas chantagens do imperialismo alemão e de seu ministro da fazenda, Wolfgang Schäuble. A verdade é que Tsipras usou o apoio que recebeu no referendo para voltar à mesa de negociação, onde esperava encontrar condições mais favoráveis. Ao invés disso, encontrou uma Alemanha disposta a humillhar a Grécia tanto quanto fosse necessário.
O novo acordo imposto sobre a Grécia inclui regras tão reacionárias quanto a revisão das leis trabalhistas do país, facilitando as demissões imotivadas; a privatização de quase todo o patrimônio nacional, com a criação de um fundo privado de mais de 50 bilhões de euros; e a obrigação do parlamento grego de aprovar todas as cláusulas em 48 horas, de maneira sumária.
Paul Krugman, economista keynesiano e prêmio nobel de economia, afirmou: “o que aprendemos nas últimas semanas é que ser um membro da zona do euro significa que os credores podem destruir a economia de um país caso este saia da linha… É mais evidente do que nunca que impor duras medidas de austeridade e sem alívio da dívida é uma política condenada ao fracasso, não importa o quanto o país esteja disposto a aceitar o sofrimento. E isso, por sua vez, significa que mesmo uma capitulação completa da Grécia seria um beco sem saída”. 
Já Yanis Varoufakis, ex-ministro das finanças da Grécia demitido logo após o plebiscito para facilitar as negociações, declarou: “Nós fizemos a nossa dívida ainda menos sustentável em uma condição que prolongou ainda mais a austeridade e afundou a economia, transferindo essa carga para os pobres e criando uma crise humanitária”.
Na votação preliminar realizada no parlamento grego na última quarta-feira, 17 deputados do Syriza se abstiveram ou votaram contra o governo, fazendo com que Alexis Tsipras perdesse a maioria absoluta. As negociações com a Alemanha só prosperaram por contar com o apoio dos velhos partidos que levaram a Grécia à bancarrota, o PASOK (Social-democrata) e o Nova Democracia (Direita). A própria presidente do parlamento, Zoi Konstandopulu, se absteve da votação e outros quatro ministro do governo têm criticado o acordo.
Nas votações que devem ocorrer entre hoje e amanhã no parlamento grego, está claro que Alexis Tsipras não poderá aprovar este vergonhoso plano acordado com a Alemanha se não contar com o apoio do PASOK e do Nova Democracia, o que por si só demonstra o caráter reacionário e antidemocrático da proposta. Ao povo grego, não resta outra alternativa se não retomar um caminho há muito conhecido desde que este ajuste começou a ser aplicado: realizar greves e massivas manifestações para conquistar nas ruas a soberania popular.
Sandino Patriota, São Paulo.
*AVerdade

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