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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 29, 2015

Tão boa para oferecer soluções para o Brasil e para o mundo, a Economist não encontra saída para si própria.

Sabe aquela revista inglesa que vive dando aula para o Brasil? Está à venda. Por Paulo Nogueira



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Sabe aquela revista que vive dando lições para o Brasil? Façam isso, façam aquilo, sempre pontificando, sempre doutoral.
Por Paulo Nogueira Do DCM
A inglesa Economist.
Ela está à venda. Não está conseguindo sobreviver à Era Digital. Tão boa para oferecer soluções para o Brasil e para o mundo, a Economist não encontra saída para si própria.
E não está também encontrando comprador.
A Economist é 50% da Pearson, que acaba de vender para um grupo japonês o também professoral diário Financial Times.
Algumas grandes editoras — Bloomberg, Thomson Reuters e Axel Springer — foram procuradas para ver se se interessavam pela Economist.
Nenhuma topou.
Calcula-se que a fatia da Pearson valha 400 milhões de libras, quase 2 bilhões de reais.
A Pearson, aparentemente, quer se encontrar apenas em seus negócios no campo da educação.
Mas quem quer comprar jornal e revista em pleno ano de 2015?
Talvez em países emergentes, por razões específicas. Chineses, no ano passado, arrebataram a Forbes, que foi símbolo de publicação de negócios nos Estados Unidos durante décadas.
No caso do FT, o comprador é também asiático — japonês.
Pode ser importante para países emergentes, em sua escalada internacional, ter a posse de companhias respeitadas de mídia.
E aí chegamos a uma situação anedótica.
Os donos das grandes empresas de jornalismo do Brasil não podem vendê-las para compradores de fora.
Isso por causa da reserva de mercado.
Foi uma forma de protegê-las da competição externa. Quando quase todos os setores da economia brasileira já tinham sido abertos ao mundo, a proteção – algo que vai contra o espírito puro do capitalismo — continuou a vigorar para a mídia, tamanha a força do lobby da mídia.
Era mais uma mamata, até virar uma desvantagem.
Presumivelmente, a China gostaria de comprar alguma empresa relevante de mídia brasileira, dada a importância do Brasil em sua geopolítica.
Digamos a Abril, ou o Estadão, as duas grandes empresas familiares em situação mais dramática.
Mas isso não vai acontecer.
Pela lei, apenas 30% das ações das empresas de mídia podem estar em mãos estrangeiras.
Privilégios, depois de algum tempo, podem virar o oposto: esta é a lição da reserva de mercado para a mídia.
Quanto à Economist, que salva a humanidade toda semana mas não a si própria, convém ler com cuidado cada vez que ela disser o que o governo brasileiro deve fazer ou não fazer.
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