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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 01, 2014

    Nos 90 anos de seu falecimento: Lênin vive!


*Esse texto foi escrito pela Comissão de Ideologia do Comitê Central do Partido Comunista do México
Traduzido por João Melato

No dia 21 de Janeiro de 1924 parou de bater o coração de Vladimir Ilich Lênin, mestre e chefe do proletariado mundial.

Sua vida e sua obra, entregues completamente à causa do comunismo, mantêm plena vigência e são guias para as lutas contemporâneas, fontes teóricas para a ação revolucionária, bem como constituem o caminho imutável a ser traçado pelos partidos comunistas e operários para alcançar seus objetivos históricos.

Lênin restabeleceu o caráter revolucionário do marxismo, que havia sido distorcido pelo revisionismo da II Internacional, que entraria em decomposição acelerada no período da Primeira Guerra Mundial. Mas a contribuição de Lênin consiste não só em resgatar o marxismo, mas também em desenvolvê-lo, enriquecê-lo de forma criativa, levando a um estágio superior a visão de mundo da classe operária, bem como a teoria e a prática da revolução proletária. É justo, portanto, que a ideologia proletária seja chamada de “marxismo-leninismo”.

Lênin e a classe operária

Assim como os fundadores do socialismo científico, Lênin colocou acima de tudo a centralidade da classe operária como classe mais revolucionária da história; a classe operária como componente vital do Partido Comunista, a classe operária como organizadora das outras classes e camadas oprimidas e exploradas, a classe operária como protagonista da Revolução, a classe operária como dirigente do novo poder estatal, a ditadura do proletariado. O critério classista foi o norte do pensamento e da ação de Lênin.

Resgatando a obra de Marx e de Engels

O oportunismo, o revisionismo e o reformismo predominavam nos partidos socialdemocratas no final do século XIX. Administrando as obras marxistas, eles as deformavam e as publicavam convenientemente com seus interesses. Ainda durante a vida de Engels, a sua Introdução à luta de classes na França em 1948-1850 foi publicada pela socialdemocracia alemã, mas de forma mutilada, alterando o seu sentido negativamente; o mesmo era feito com toda a obra marxista, despojando-a de seu caráter revolucionário. Inicialmente Bernstein, ao qual mais tarde se somaria Kautsky, mostravam como inviável a revolução e exaltavam o caminho da reforma, da transformação gradual do capitalismo. O parlamentarismo e a defesa da institucionalidade da democracia burguesa desdenhavam da necessidade da ruptura a partir da falsa premissa da transição pacífica ao socialismo.

O papel de Lênin foi fundamental para confrontar e derrotar o oportunismo, para resgatar o objetivo da ditadura do proletariado e a teoria da revolução. Não foram alheias à prática bolchevique a aliança, a manobra e a operação conjunta com outras forças que representavam as classes revolucionárias da Rússia. Mas fica a lição de que a Revolução de Outubro, o assalto ao poder pelo proletariado dirigido pelo Partido Bolchevique, haveria sido impensável se esse não houvesse reafirmado a firmeza de suas posições, vencendo teoricamente aos economicistas, populistas, marxistas legais, trudovikes, otzovistas, mencheviques, trostkianos¹, liquidacionistas, etc.

Em muitas de suas obras está presente essa contribuição contra a adulteração e dogmatização do marxismo.

Porém, sua contribuição não se limita a esse período e permanece como uma tese básica: a luta contra o oportunismo é uma condição para o desenvolvimento dos partidos comunistas. Deixar de lado uma questão tão importante abriu a porta para retrocessos à classe operária, como o surgimento do eurocomunismo, que levou à liquidação de vários partidos comunistas e mudou a natureza de muitos outros, em uma operação corrosiva cujas sequelas estão presentes ainda hoje.

O oportunismo é o principal auxiliar do capitalismo para conter a luta revolucionária. O Partido Comunista do México² assume a tarefa da revolução levantando a bandeira de Lênin.

Desenvolvimento do capitalismo, desenvolvimento da teoria revolucionária

Lênin também enriqueceu o marxismo a partir do estudo do desenvolvimento do capitalismo que não puderam estudar Marx e Engels. A concentração e centralização que conduziram à formação de monopólios levaram à fase superior e última do capitalismo: o imperialismo.

A teoria leninista do imperialismo foi tergiversada reduzindo-a a um simples sistema de dominação de uns países centrais sobre outros. Isso limita a tese leninista, que se trata de toda uma época do capitalismo, na qual esse entra em sua fase de decomposição, onde chega a seus limites históricos e se torna inevitável a revolução.

A teoria leninista do imperialismo revelou o caráter parasitário do capital financeiro, o caráter de classe do militarismo, das guerras agressivas, das disputas interimperialistas. Ataques de toda laia surgem contra a obra de Lênin, buscando o embelezamento do imperialismo.

Para além disso, a teoria leninista do imperialismo demonstra que se pode romper a cadeia imperialista em seu elo mais débil, em favor do mundo novo, como ocorreu em Outubro de 1917.

A teoria do Partido

Uma contribuição essencial de Lênin para o desenvolvimento do marxismo é o papel do partido comunista como organizador consciente da classe trabalhadora, como união voluntária de militantes, como organização de revolucionários profissionais. Ele enfatiza o caráter conspirativo do Partido e suas normas de organização baseadas no centralismo democrático que asseguram a luta revolucionária.

A firmeza leninista frente ao culto do espontaneísmo e à chamada “liberdade de crítica” se prolongam aos nossos dias, onde o movimentismo, os “sujeitos emergentes”, pretendem suplantar e diluir o papel dos partidos comunistas, dissolver e liquidar o caráter de vanguarda do partido da classe trabalhadora.

A combinação de todas as formas de luta

Lênin era contrário ao esquematismo, nos ensinou a realizar a análise concreta da situação concreta, a compreender as mudanças na situação objetiva e a ter permanente atenção nas condições subjetivas. A não nos agarrar a nenhuma forma de luta, mas a ser ágeis para variar de uma para outra de acordo com as mudanças que ocorrem na luta de classes e, também, a possibilidade de exercer várias formas de luta simultaneamente.

A Grande Revolução de Outubro e a construção socialista

Lênin conduziu o Partido Comunista (bolchevique) e o proletariado russo em aliança com os camponeses pobres à conquista do poder na Rússia e à formação da URSS, iniciando assim a construção da sociedade onde os capitalistas foram derrotados, o que inaugurou uma nova época para a humanidade, a da transição do capitalismo ao socialismo.

A experiência do poder operário soviético ilumina o caminho dos explorados na luta contra a exploração e a opressão. É uma lição irrenunciável no combate pelo socialismo-comunismo

O internacionalismo proletário

Desde o reagrupamento dos marxistas contra a guerra imperialista até a formação da Internacional Comunista há um processo de luta contínuo por fazer do internacionalismo proletário uma característica inerente à ação dos comunistas.

A Internacional Comunista construiu e forjou os partidos comunistas em quase todos os países do mundo, os destacamentos de vanguarda que em primeira plano da luta de classes combatem pela revolução que fará emancipar a classe operária e o conjunto da humanidade.

O Partido Comunista do México, no caminho traçado por Lênin, busca a derrubada do poder dos monopólios em nosso país, para construir o socialismo-comunismo, o poder operário.

Lênin, sua vida e sua obra, são estudados pelos militantes do PCM e pela Liga da Juventude Comunista, convencidos de que seus ensinamentos são indispensáveis para cumprir nossas tarefas atuais e históricas.
Proletários de todos os países, uni-vos!
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¹ Refere-se às polêmicas de Lênin com Trótski no período pré-revolucionário. O texto original dizia "trotskistas", no entanto, julgamos mais adequado o emprego do termo "trotskianos", uma vez que o trotskismo é um fenômeno posterior. (N do T)
² O texto foi escrito para leitura e divulgação em território mexicano. Sua tradução e divulgação em português é iniciativa do blog Centro do Socialismo. (N do T)

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