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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 09, 2014

cu cunha naum, primeira fissura na blindagem de Cunha

Folha abre primeira fissura na blindagem de Cunha

 Miguel do Rosário
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Conforme havíamos previsto, será muito difícil a imprensa manter a blindagem de Eduardo Cunha, candidato a presidente da Câmara dos Deputados.
O presidente do Congresso é o terceiro nome da sucessão presidencial. Se Dilma morrer (toc, toc, toc), assume Michel Temer. Se os dois morrerem, assume o presidente do Câmara.
Então é impossível que não se discuta, a fundo, o passado de quem será o novo presidente do Congresso.
Henrique Alves e Renan Calheiros atravessaram um verdadeiro calvário midiático antes de se afirmarem como presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente.
Ambos são lobistas da mídia, sendo que Alves é dono da concessão da Globo em seu estado, então isso naturalmente ajudou a atravessarem a fase mais difícil, e se consolidarem.
Cunha tenta se blindar fazendo juras de amor à mídia, prometendo que vai “engavetar” qualquer regulação do setor.
Não será suficiente. Se a imprensa corporativa o blindar, ficará exposta demais.
Hoje, a Folha abriu a primeira fissura na blindagem de Cunha. Publicou matéria lembrando que o deputado já moveu mais de 50 ações contra a imprensa.
A nota vem meio escondida na parte inferior da página A11, mas já é um começo.
A matéria revela que, Cunha não é, exatamente, nenhum amigo da liberdade de imprensa.
O tipo de postura de Cunha é particularmente odiosa nas redes sociais e blogs. Porque a mídia até consegue suportar esse tipo de assédio judicial, por ser rica, mas ele é sempre profundamente antidemocrático em se tratando de uma figura pública, e lesa sobretudo veículos pequenos e independentes.
O certo é que haja regulação da mídia, para haver direito de resposta imediato, evitando a indústria de calúnias.
A indústria de processos contra jornalistas, porém, apenas beneficia os poderosos, tanto os da política quanto os da mídia, porque somente ambos tem recursos ilimitados para pagar advogados.
*
Na Folha.
Peemedebista moveu mais de 50 ações contra a imprensa
De 51 casos localizados, ele perdeu 28 e ganhou três; os outros estão tramitando ou não têm resultado identificável
AGUIRRE TALENTO
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
Favorito para presidir a Câmara no próximo ano, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), já moveu mais de 50 processos contra veículos de comunicação e jornalistas, em ações cíveis e criminais.
A Folha localizou 51 ações dele contra veículos de comunicação ou jornalistas na Justiça do Rio, de São Paulo e do Distrito Federal. O levantamento considerou processos abertos a partir de 2005.
Desses, ele perdeu 28 em primeira e segunda instâncias e ganhou três. Os demais ainda estão tramitando ou não foi possível identificar a atual fase dos processos.
A reportagem não localizou processos contra a Folha.
Em geral, Cunha contesta reportagens que relatam sua atuação política para emplacar aliados em cargos e favorecer o PMDB ou que o relacionam a escândalos.
Cunha está em seu quarto mandato consecutivo como deputado. Sua atuação já resultou em duros embates com o governo petista.
Jornalistas e veículos do Rio são os que contabilizam maior número de processos.
“O Globo” foi condenado, em primeira instância, a pagar R$ 5.000 por danos morais por ter escrito que Cunha tinha “folha corrida” inadequada para ajudar na elaboração de normas das licitações da Copa e das Olimpíadas.
À Justiça, o deputado alegou que o veículo publicou material “calunioso e difamatório contra a honra”.
O jornal sustentou que o assunto tratado era de interesse público e que as informações foram extraídas de investigações existentes. Há um recurso em segunda instância, sem julgamento. O “Globo”, contudo, foi absolvido em outros processos.
Numa das derrotas, a Justiça determinou que Cunha pagasse custas e honorários no valor de R$ 4.650 ao jornal “O Estado de S. Paulo”, depois que o periódico publicou que ele fez “chantagem” ao exigir –e conseguir– a presidência de Furnas para um aliado em troca da conclusão do relatório da CPMF, o imposto do cheque que acabou derrubado no Congresso.
Cunha disse que foi alvo de “nota agressiva”. A defesa do jornal negou intenção de ofendê-lo e disse que o termo “chantagem” foi usado “no sentido claro de pressão política'”. O Tribunal de Justiça do Rio confirmou esse entendimento do periódico.
À Folha, Cunha afirmou que aciona a Justiça somente quando se sente atacado ou não teve espaço para se defender. “Eu não entro contra crítica, entro contra a agressão, a calúnia, a injúria”, disse.
*Tijolaço

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