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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 29, 2014

Apesar de alguns avanços no combate à miséria, pobreza e desigualdade, o Brasil continua sendo ainda hoje um país com um sistema extremamente injusto e desigual, beneficiando a grande burguesia em detrimento da maioria da população.

Em visita ao Brasil, Thomas Piketty defende taxação progressiva de grandes fortunas

Via  Diario Liberdade
O economista francês é autor do livro "O Capital do Século XXI" e visitou o país para discutir sobre a desigualdade social causada pelo capitalismo.
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Apesar de alguns avanços no combate à miséria, pobreza e desigualdade, o Brasil continua sendo ainda hoje um país com um sistema extremamente injusto e desigual, beneficiando a grande burguesia em detrimento da maioria da população.
"O Brasil poderia ter uma maior redução da pobreza e um crescimento maior da economia se tivesse menos desigualdade", disse Piketty em entrevista à BBC Brasil.
Nos 20 países analisados em seu estudo sobre a desigualdade de renda, esta aumentou nos últimos 30 anos, afirmou ele em uma palestra na USP. Nos EUA, o aumento é assombroso: os 10% mais ricos passaram da concentração de 33% da renda nacional em 1980 para 51% atualmente.
Mas o Brasil supera esses números já escandalosos. Aqui, os 10% mais ricos detêm 56% da fortuna do país. E enquanto nos EUA os 1% mais ricos acumulam 25% da renda, no Brasil essa cifra é de impressionantes 30%. De 100 pessoas, uma come um terço do bolo e deixa as outras 99 comendo migalhas.
Para o escritor, o problema da imensa desigualdade que assola o país está diretamente ligado à proteção que o Estado dá às grandes fortunas. "A falta de progressividade no sistema de impostos é uma das razões pelas quais a desigualdade é tão grande no Brasil", disse. "Seria possível ter impostos mais altos para quem ganha R$ 500 mil, R$ 1 milhão, R$ 5 milhões e por aí vai."
"Os impostos sobre herança também são particularmente baixos para padrões internacionais e históricos", defende Piketty. No Brasil, a taxa sobre herança é de ínfimos 4%, enquanto que nos EUA e países da Europa como Alemanha, Grã-Bretanha e França a porcentagem pode chegar a 40%.
À BBC Brasil ele também defendeu que a taxação progressiva de rendas altas e grandes heranças pode ser uma forma de obter recursos para investir no sistema de educação pública, que "é absolutamente essencial para se reduzir a desigualdade".
Talvez por isso o Estado brasileiro nunca tenha se preocupado com uma educação pública de qualidade para todos, pois isso implicaria em mexer no sistema de grandes privilégios da burguesia para reduzir a desigualdade por meio da taxação das grandes fortunas expropriadas do povo pelos capitalistas.
*GilsonSampaio

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