Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 25, 2014

"Caminhamos quando mudamos do eu para o nós" afirma filha de Che Guevara



Uma mulher cubana de andar tranquilo e olhar utópico. Aleida Guevara, filha de Ernesto Che Guevara, seguiu a mesma formação médica de seu pai e  tornou-se pediatra, trabalha hoje em um HOSPITAL cubano.

Em sua fala durante o 14º Acampamento da Juventude Latinoamericana Aleida apontou os desafios no processo de luta de classes e disse apostar nos mais novos COMO peça chave para o fortalecimento dos processos de transformação na América Latina.  

"Revolução é precisamente isto: MUDAR o que pode ser mudado. E, nesse sentido, é necessário a força. E esta só pode vir da unidade. Portanto, esqueça o "EU”. Temos que trabalhar no “NÓS”. O que queremos? O que vamos fazer? O que aspiramos?", ressaltou.
 
A seguir, trechos da entrevista concedida à equipe de comunicação  acampamento, composta por diversos movimentos campesinos e a Mídia NINJA. 

Juventude 

Che Guevara sempre disse que falar de juventude é ganhar energia. Esta é uma realidade. Quando não se fala com os jovens, não se preenche com o poder extraordinário que EXISTE e que você pode perder com a luta ao longo dos anos. Os jovens têm a capacidade de estimular as pessoas, que pela idade, as situações da vida, perdem um pouco de fé na mudança, no progresso. A juventude pode nos estimular com a sua presença, a sua força, para continuar trabalhando. Continuar a criar um mundo diferente.

Em todo o processo revolucionário a presença dos jovens é muito importante. Porque primeiro é a força, o ímpeto e também a pessoa que não tem cordas ou COSTUMES de conforto tomadas por homens e mulheres que já atingiram um certo nível de vida, têm seu carro, casa e família. Os jovens geralmente são muito livres neste sentido e muito mais propensos a fazer coisas novas.

É muito importante que os jovens sintam-se donos, responsáveis e sejam PARTE do processo revolucionário. Esta é uma das maiores conquistas da Revolução Cubana: A juventude sentiu-se parte do processo revolucionário. Ainda precisamos trabalhar mais, temos 50 anos de revolução socialista e ainda temos que trabalhar muito nessa direção.

Sobre ego

"Há coisas que são básicas e invioláveis: A unidade entre todas as pessoas que querem fazer uma mudança, que querem provocar uma revolução. Revolução é precisamente isto: MUDAR o que pode ser mudado. E, nesse sentido, é necessário a força. E esta só pode vir da unidade. 

Portanto, esqueça o "EU”. É um tema interessante porque "EU" é algo muito exaltado na sociedade em que vivemos, o "EU" COMO uma pessoa. Temos que esquecê-lo e trabalhar no “NÓS”. O que queremos? O que vamos fazer? O que aspiramos ter?

Universidade da VIDA

Temos que respeitar uns aos outros para manter a unidade. A diversidade de todos nós é ensino também. Porque se são culturas diferentes, podemos APRENDER o positivo e o melhor de cada cultura para levar à nossa realidade e ver se isso nos convém. Precisamos entender e respeitar o tempo dos outros, para entender o que queremos fazer, como o queremos e por que é necessário fazê-lo. Isso leva tempo, mas isto mostra as pessoas o que podemos e queremos alcançar.

Não podemos dizer às pessoas "para fazer isso". Nós temos que dizer: "vamos fazer isso? Mostrei-lhe como fazer e por que fazê-lo, depois você decide". Esta é uma das perguntas MAIS simples: fazer acompanhamento, não ter que empurrar. Isto é importantíssimo, por que se empurra as pessoas pode ser que caminhe um grupo delas. Mas, se falta o empurrão as pessoas se detém ou retrocede. Considerando que se você convence as pessoas do por quê têm que caminhar com convicção, não importa se você está ou não está, eles caminham, porque estão conscientes da necessidade da existência de andar para a frente.

Dessa forma estamos em unidade, a força que nos dá essa unidade, o respeito é o que provoca essa unidade. Porém, ao mesmo tempo, essa força e unidade traz mais uma questão, que é a solidariedade. Solidariedade com outros povos e movimentos. Os jovens, por exemplo, que têm o privilégio de estudar em universidades deve estar muito em contato com as realidades da VIDA do seu povo. Não se pode graduar somente na Universidade, tem que se graduar na Universidade e na vida. E o povo é quem realmente dá este título, porque você é socialmente útil este povo.  

Quando mudamos o "EU" para "NÓS", caminhamos. Realmente vamos adiante.

Ideologias

Estas são algumas das coisas que a juventude deve ter PRESENTE. Estudamos e trabalhamos para o benefício do nosso povo. E o que estamos conseguindo é para caminharmos para um objetivo comum. Isto é importante.

 Portanto, temos que ter união, respeito, força e solidariedade. Estes são conceitos mesclados muito importantes para os jovens e para qualquer pessoa em geral. Mas especialmente para os jovens, porque são os que arrastam por meio do exemplo, as pessoas que podem estar perdendo um pouco de força para a própria VIDA. Os jovens que quebram essa estática e fazem as pessoas seguir.

 Por isso, é tão importante em um movimento revolucionário, a participação ativa da juventude. Mas com consciência, não somente para alguma emoção. E sim, porque há convicção, há princípio, há ideologia. Isto é muito importante para seguir em frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário