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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 17, 2015

Barões da mídia na lista do HSBC – tem mais caroço neste angu


 
  
Estão na lista nomes dos proprietários do Grupo Folha (inclusive do atual presidente da Folha de S. Paulo, Luiz Frias), a família Saad – proprietária da Band e a falecida Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho.

Do Vermelho
 No dia 27 de fevereiro o Notas Vermelhas perguntava: “Por que O Globo e a mídia hegemônica escondem o ‘Suiçalão’?” Agora está explicado: na lista com os nomes dos donos das contas do HSBC em Genebra (usadas para lavar dinheiro e sonegar imposto) constam barões da mídia brasileira. Mas tem muito mais caroço neste angu.

A lista com os nomes dos correntistas brasileiros do HSBC só estava em poder do grupo Folha e depois do grupo Globo, escolhidos a dedo por uma organização “independente” (ICIJ) de jornalistas investigativos. Os grupos Folha e Globo davam explicações absurdas para justificar a divulgação de apenas alguns nomes. Amaury Ribeiro Jr., autor do livro Privataria Tucana, era membro do ICIJ e também estava atrás dos nomes.
Depois de escrever uma carta esculhambando a “dona” da lista na ICIJ, e pedindo seu desligamento da organização, Amaury continuou tentando o acesso aos nomes dos correntistas brasileiros. O autor da Privataria Tucana é talvez o mais competente repórter investigativo do Brasil e a lista, tudo indica, já tem outra cópia, desta vez nas mãos certas. Antevendo o que pode acontecer se Amaury estiver de fato com a lista e, de mais a mais, sabendo também que é inevitável que cedo ou tarde a lista caia no domínio público, o grupo Folha e o grupo Globo se anteciparam e divulgaram parte da verdade, apenas como álibi. A tática é sem dúvida inteligente, mas é como a velha peneira tentando tapar o velho sol, não consegue nublar o fato de que buscaram até o último momento sufocar a verdade. 

Pesos pesados da mídia na lista

Todos se lembram dos incríveis argumentos da ombudsman da Folha para justificar o vazamento seletivo de nomes da lista, como os de donos de concessões de ônibus no Rio de Janeiro, enquanto outros eram preservados. Mas agora, misteriosamente, o critério foi revisto e o site UOL (Grupo Folha), por exemplo, informa que “ao menos 22 empresários do ramo jornalístico e seus parentes, além de 7 jornalistas, estão na relação dos que mantinham contas na agência do HSBC em Genebra, na Suíça”.
Estão na lista nomes dos proprietários do Grupo Folha (inclusive do atual presidente da Folha de S. Paulo, Luiz Frias), a família Saad – proprietária da Band e a falecida Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho. Sabem o que alegou, na matéria do UOL, a família Frias, sobre as contas na Suíça? Pois não é que eles “informam não ter registro da referida conta bancária”? Agora, imaginem se é qualquer outro - que não seja tucano é claro - que vem com uma desculpa esfarrapada desta. A manchete irônica da Folha de S. Paulo de domingo seria: “Fulano diz que não lembra se tinha conta na Suíça”. 
Os caroços do angu

Outros nomes da lista envolvem gente ligada à TV Verdes Mares, à Rede Transamérica, ao Grupo Abril (olha a Veja aí, gente) e à Jovem Pan. O nome do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, também está lá. O membro do conselho editorial do grupo Abril (Veja) e um dos colunistas mais raivosos da direita, José Roberto Guzzo, sempre a bradar contra a “corrupção”, também consta da lista, cujo campeão é Aloysio de Andrade Faria, dono da Rede Transamérica, com US$ 120,5 milhões.
Não temos dúvidas de que tem muito mais caroço neste angu. Uma pergunta óbvia, que um jornalista investigativo realmente independente faria seria: qual a relação destas contas com o processo de privatização na era FHC? Como esta, existem ainda dezenas de outras perguntas a serem respondidas. A este respeito recomendamos a leitura de uma interessante especulação feita pelo blog Ponto e Contraponto. De qualquer maneira, com o que já se sabe espera-se para breve que o sempre atento, imparcial e destemido Ministério Público Federal tome rápidas providências. Espera-se, também para breve, uma visita do coelhinho da páscoa.

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