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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 14, 2010

A derrota neoliberalismo e a afirmação de novos projetos de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho.






O contrato entre China e Argentina no valor de 10 bilhões dólares assinado em Pequim na terça-feira (13) é emblemático das mudanças que estão em curso na conjuntura econômica internacional, num contexto geral de crise do capitalismo e da ordem imperialista mundial.

A ascensão da China e a decadência dos EUA na América Latina


Por Umberto Martins

O financiamento destinado ao ramo ferroviário do país sul-americano consolida um novo status do gigante asiático, o de provedor de capitais para os países posicionados na chamada periferia do sistema, condição que até então era privilégio exclusivo das grandes potências capitalistas (EUA, Europa, Japão) e das instituições da banca, o FMI e o Banco Mundial.
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Exportação de capitais

A China se destacou na exportação de mercadorias, tornando-se, sob este aspecto, a maior potência comercial do planeta, exteriorizando a extraordinária expansão de sua indústria. Em 2009, ano de crise e contração do mercado mundial, o país ultrapassou a Alemanha no ranking das exportações, arrebatando o primeiro lugar. Os EUA recuaram para a terceira posição. No mesmo ano, a próspera nação asiática tornou-se a maior parceira comercial do Brasil, deslocando os EUA.

A exportação de mercadorias é fundamental, mas não é tudo. Mais relevante na projeção de poder e influência econômica internacional das nações é o que Lênin, o líder da Revolução Soviética, caracterizou como exportação de capitais, que podemos traduzir como investimentos diretos (sobretudo aquisições e instalações de empresas) e indiretos (empréstimos). É isto que a China passa a fazer, e em alto estilo, neste momento histórico, rivalizando com as potências capitalistas do chamado Ocidente.

O potencial de investimentos chinês deriva de suas reservas internacionais de cerca de 2,5 trilhões de dólares, as maiores do mundo. Ao priorizar os investimentos diretos, o governo comunista procura o caminho para transformar reservas em ativos reais no exterior, em vez de títulos emitidos pela Casa Branca ou hipotecas, aplicações que Karl Marx contabilizaria como capital fictício, sujeito a brusca depreciação como se viu na crise imobiliária.

Deslocamento geopolítico

Este movimento da economia, que tem caráter objetivo, tem notáveis repercussões geopolíticas, pois ocorre num momento de crise da hegemonia econômica e política dos Estados Unidos e da ordem econômica mundial, em que também rola o drama da decadência (relativa) da Europa e do Japão. É a expressão do que alguns observadores chamam de deslocamento do poder econômico global do Ocidente para o Oriente (leia-se China).

Enquanto avança o papel da China no jogo internacional das aquisições e implantação de empresas no exterior, declina a posição dos EUA que, conforme notou Hobsbawm, virou um importador líquido de capitais. Hoje, os norte-americanos comparecem ao fabuloso mercado de aquisições mais como vendedores que como compradores.

O novo status econômico da China, ou seja, o de provedor de capitais, é um fator que pode contribuir para reduzir ou mesmo tornar irrelevante a dependência histórica das economias latino-americanas em relação a fontes de financiamento tradicionais (EUA, Europa e Japão).
Neste sentido, a ascensão da China dialoga com o novo cenário político vivido por muitos países da América Latina e tem a ver com a luta por mudanças e o anseio de soberania, que passa, em primeiro plano, pela contestação do domínio imperialista exercido pelos EUA, a derrota do neoliberalismo e a afirmação de novos projetos de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho.
dovermelho.org


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