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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 08, 2010

Festival de Jerusalém é boicotado pelas pessoas de bem com Deus






Dustin Hoffman boicota festival de Jerusalém

Dustin Hoffman, o anti-herói mais atraente da história do cinema americano, é uma das personalidades que boicota o festival internacional de cinema que abriu as suas portas esta quinta-feira em Jerusalém. Artigo CAPJPO-EuroPalestine.
Dustin Hoffman cancelou a presença no festival no dia seguinte ao  ataque à "flotilha da liberdade" em águas internacionais. Foto  wvs/Flickr
Dustin Hoffman cancelou a presença no festival no dia seguinte ao ataque à "flotilha da liberdade" em águas internacionais. Foto wvs/Flickr

Numa declaração ao Jerusalem Post, o patrão do certame, Molad Hayo, indica que a actriz americana Meg Ryan, outra estrela de Hollywood, não se deslocará.

Meg Ryan Pictures

O príncipe Albert de Mónaco, convidado no âmbito de uma homenagem do festival à sua mãe, a falecida Grace Kelly – que, seja dito de passagem, teve gestos de solidariedade para com os combatentes da independência argelina, no final dos anos 1950 – também desistiu.

O príncipe  Alberto II.

«Nenhuma dessas personalidades nos deu oficialmente motivos para esses cancelamentos. Mas fomos avisados logo no dia a seguir ao ataque contra a Flotilha e é evidente que existe uma relação de causa a efeito entre esses acontecimentos», comentou Hayo.

Molad Hayo queixa-se. Argumenta a favor da sua actividade «que tem o mérito de ter posto em contacto desde há vários anos cineastas palestinianos e israelitas». Mas é no entanto obrigado a constatar que o mundo cultural israelita, a partir do momento em que se coloca sob a alçada do Estado de Israel – o que é evidentemente o caso do festival –, não se pode alhear dos crimes do seu governo. A não ser demarcando-se abertamente, o que fazem vários intelectuais israelitas corajosos, mas não Hayo.

Com 73 anos de idade, Dustin Hoffman ganhou a partir de 1970 uma popularidade imensa por interpretar no grande écrã personagens nos antípodas do herói de Hollywood tradicional, que são os cowboys musculados a matar os selvagens dos índios Peles-Vermelhas ou soldados valentes triunfando sobre astuciosos homenzinhos amarelos com cabeça de macaco que eram os japoneses. De «Little Big Man" a "Tootsie", passando por "Macadam cow-boy" ou "Rain Man", Dustin Hoffman tornou-se assim, aos olhos de milhões de espectadores, o mais glorioso dos perdedores da sociedade: Índios sobreviventes do genocídio, sem-abrigo, doentes, desempregados, etc.

Dustin Hoffman é de origem judaica e, em entrevistas recentes, declarou que, com a idade, a sua prática da religião se fazia mais assídua. Isso não impedirá muitos de o tratarem de antisemita, como o “são” todos os que criticam a política israelita.



Artigo traduzido pelo Comité de Solidariedade com a Palestina.

doesquerda.net

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