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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 20, 2010

No momento em que toda a América Latina se une contra as ameaças do imperialismo dos EUA






Quando não devemos calar

Guardei esse texto do nosso grande arquiteto Oscar Niemeyer, e nesses
tempos de baixaria de campanha, qdo o candidato a vice da chapa tucana faz
uma acusação absurda, que já havia acontecido na campanha de 2002 e
requentada em 2005, pretendendo ligar o PT ao narcotráfico, lembrei-me dele
que aproveito para enviar agora.



Vale lembrar que por causa dessa denúncia, Serra teve que ceder ao Lula
direito de resposta em seu horário de propaganda eleitoral gratuita.



Sonia Montenegro.











Quando não devemos calar

OSCAR NIEMEYER Na Folha de São Paulo 16/3/08, o arquiteto mais jovem do
Brasil.




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No momento em que toda a América Latina se une contra as ameaças do
imperialismo dos EUA, a Colômbia resolve invadir território do Equador


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QUANDO OCORREU a invasão do Equador pela Colômbia, no dia 1º do mês
corrente, que resultou na morte de 20 combatentes e de um dos principais
líderes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes,
escrevi um texto, revoltado com o que havia acontecido.

Infelizmente, o texto que redigi não chegou aos jornais antes da solução
adotada graças à pronta e corajosa intervenção dos governos
latino-americanos, que deram ao mundo uma demonstração de unidade e força em
defesa de sua soberania nacional.

Como eu não me limitava a comentar as notícias sobre as Farc que surgiam nos
jornais, mas mencionava fatos ou contatos que tive com aquele grupo, tomei a
decisão de divulgar o artigo que havia elaborado e agora transcrevo:

"É bom, quando nos vemos diante da necessidade de escrever sobre qualquer
assunto, verificarmos que a seu respeito já nos tínhamos manifestado
anteriormente, que a nossa reação não surge de um fato novo ocorrido, mas de
qualquer coisa que já nos tinha ocupado e sobre ela havíamos assumido uma
posição definida.

Refiro-me ao que vem se passando com as Farc, um grupo de revolucionários
que, instalados no território da Colômbia, vem-se opondo há décadas ao
governo reacionário ainda existente naquele país.

É importante aqui registrar, aos que insistem em falar da violência dos
revoltosos das Farc, a opinião do historiador britânico Eric Hobsbawm
("Globalização, democracia e terrorismo", Companhia das Letras): o combate
ao terrorismo, ao longo dos últimos anos, por parte das autoridades
colombianas, tem superado, em muito, a violência política desses
guerrilheiros.
Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em
meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o
Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava
intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.

Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da
revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano
tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me
pedido - um protesto contra aquele plano odioso.

Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele
cartaz utilizado até na Europa.
O tempo correu e, sem possuir a força para eliminar o movimento político já
instalado no país, o governo reacionário de Bogotá passou a acusar a direção
das Farc de ser conivente com o narcotráfico em crescente expansão na
Colômbia.


Agora, no momento em que toda a América Latina se une contra as ameaças do
imperialismo norte-americano, é que, numa atitude de violência e desrespeito
inexplicável, o governo da Colômbia resolve invadir o território do Equador,
comprometendo a unidade com que a América Latina tão bem vem se organizando
contra todas essas pressões vindas dos Estados Unidos.


Com sensatez e firmeza, o governo brasileiro, por meio de seu ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim, reclamou uma palavra de desculpa por
parte do presidente colombiano, Álvaro Uribe. E de Hugo Chávez, presidente
da Venezuela, veio a resposta direta e corajosa que a esquerda
latino-americana esperava.


Sabemos muito bem que os Estados Unidos têm a ambição de se apossar das
riquezas existentes na Amazônia e que o governo da Colômbia se presta a
servir de ponta-de-lança para essa finalidade.
"Mas agrada-nos, principalmente, constatar a maneira altiva e vigorosa com
que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem atuando frente aos problemas
desta América Latina tão vulnerável e ofendida".


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OSCAR NIEMEYER , 100, arquiteto, é um dos criadores de Brasília (DF). Tem
obras edificadas na Alemanha, na Argélia, nos EUA, na França, em Israel, na
Itália e em Portugal, entre outros países.
dogilsonsampaio

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