Chávez rompe com Colômbia e pede alerta na fronteira
Claudia Jardim
BBC Brasil
Chávez já havia ameaçado romper relações com Colômbia antes
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou nesta quinta-feira o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia logo depois que Bogotá acusou, em uma reunião extraordinária da OEA, a Venezuela de abrigar guerrilheiros colombianos em seu território.
A denúncia foi feita durante uma reunião extraordinária da OEA (Organização dos Estados Americanos), na qual a Colômbia apresentou o que qualificou de “provas” de que os rebeldes estão escondidos no país vizinho.
"Não nos resta, por dignidade, mais que romper totalmente as relações com a Colômbia, com lágrimas no coração", afirmou Chávez, na sede do governo em Caracas, ao lado de Diego Maradona, que visita o país.
"Esperamos que não aconteça nada mais grave nesses dias que restam a (o presidente colombiano, Álvaro) Uribe (...). Há uma loucura desatada no palácio de Nariño (sede do governo colombiano)", afirmou.
"Uribe é capaz de montar um acampamento simulado do lado venezuelano para atacá-lo e causar uma guerra."
Alerta
O presidente venezuelano disse ter pedido "alerta máximo" aos militares na fronteira com a Colômbia. "Não aceitaremos nenhum tipo de agressão".
Chávez disse esperar que o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, modifique a relação entre os dois países e negou que seu governo seja conivente com as guerrilhas colombianas.
"Não permitimos acampamento guerrilheiro na Venezuela. Se houvesse acampamento na Venezuela seria sem a permissão do governo venezuelano", afirmou.
Venezuela rompeu relações com a Colômbia em 2008, quando o exército colombiano invadiu o Equador para bombardear um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o principal grupo rebelde de esquerda colombiano), mas depois voltou atrás.
Em 2009, Chávez "congelou" as relações políticas e comerciais com Bogotá depois da assinatura do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos que permite a tropas americanas o uso de sete bases militares colombianas.
OEA
Durante a reunião da OEA, a Colômbia e disse que há 1,5 mil rebeldes no país vizinho e pediu à organização que crie uma comissão internacional para visitar os supostos acampamentos da guerrilha colombiana que estariam instalados na Venezuela, em um prazo não maior que 30 dias.
O embaixador colombiano na OEA, Luis Hoyos, mostrou uma série de fotos de líderes guerrilheiros em acampamentos.
No entanto, as fotos, definidas como "provas" pelo colombiano, não deixam claro em que local foram feitas. A maioria delas mostra os líderes rebeldes sentados, onde se pode ver a selva de fundo.
O embaixador colombiano também mostrou coordenadas geográficas de onde estariam instalados três acampamentos rebeldes no Estado venezuelano de Zulia. Segundo Hoyos, os acampamentos estariam 23 km dentro da fronteira venezuelana.
"Se tudo isso é falso e tudo isso é uma montagem, não haverá nenhuma dificuldade para que a comissão possa ir", afirmou Hoyos.
O embaixador da Venezuela na OEA, Roy Chaderton, disse que as fotos não mostram se são território venezuelano ou colombiano.
"A foto que (o governo colombiano diz ser) Chichiriviche (praia no litoral venezuelano) me chama a atenção, porque conheço bem essa praia e, pela cor da areia, poderia ser Santa Marta (Colômbia)", afirmou.
Chaderton disse que deveria ser criada uma comissão também para visitar as sete bases militares colombianas que estão sendo utilizadas por tropas americanas, que foi pivô da crise entre os vizinhos no ano passado.
Por que Chávez rompeu relações com a Colômbia
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generalizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
(*) Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi
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