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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 07, 2011

O palpite infeliz de Bill Gates


Fundador da Microsoft, Bill Gates passou pelo Brasil e disse, em entrevista a Patrícia Campos Mello, que nós precisamos colaborar mais com os países pobres.

Nós ajudamos, disse, mas é pouco. Já os Estados Unidos, seguiu, são o pais que mais ajuda os pobres no mundo.

Confesso que deve ser gostoso ser americano e pensar como Bill Gates. Ele parece firmemente convencido de que seu país fazem bem à humanidade.

Os Estados Unidos quebraram a economia mundial com seus derivativos. Torraram 4 trilhões de dólares em guerras que só contribuiram para elevar a tensão política e diplomática no planeta. Num esforço para recuperar o terreno perdido de suas empresas, os EUA mantém o dólar artificialmente baixo. Isso prejudica a industria dos países emergentes e atrapalha a criação de empregos.

Eu poderia lembrar outros exemplos mas acho que basta, não? Nenhuma dessas medidas contribuiu para o bem-estar da humanidade. Nenhum problema foi resolvido.

É certo que, com uma pequena fração desses ganhos, os EUA estimulam a filantropia. Nada contra os bons sentimentos. Mas vamos combinar que se trata de uma técnica conhecida: a mão que retira a riqueza com um caminhão devolve uma parte que cabe numa colher de sopa.

Deve ser bom ver o mundo como Bill Gates. Mas é dificil acreditar que seja verdade.

Amigo dele, Warren Buffett, bilionário e benfeitor, deixou toda sua herança para obras de caridade. Seus filhos receberam uma quantia tão pequena que devem ter ficado trauma pelo resto da vida, tamanha foi a malvadeza. Mas Warren Buffett admite que ainda assim não era suficiente.

Depois de olhar para a crise americana, concluiu que os ricos tem feito pouco para recuperar o país e escreveu um artigo dizendo que pessoas com sua fortuna deveriam pagar mais impostos. Mostrou que pagava, relativamente, menos imposto do que seus funcionários de renda muito menor. Buffett ficou do lado certo. Pouco depois, começou o Ocupe Wall Street, que denuncia uma economia onde 99% trabalham para enriquecer 1%.

*esquerdopata

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