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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 24, 2012

Alckmin foi destituído do governo durante o domingo?

http://www.tj.sp.gov.br/Institucional/CanaisComunicacao/Noticias/Noticia.aspx?Id=12936

O povo perdoa muitas coisas num político, inclusive coisas que não deveria, mas se tem coisa que não pega bem é covardia.

O poderoso governador de São Paulo dormiu sábado como o rei da esperteza, pois na manhã seguinte, a polícia teria exterminado 1.700 lares, expulsando crianças, mulheres e trabalhadores pobres, pegando-os de surpresa na calada da noite de um domingo, em uma operação relâmpago.

A coisa desandou no extermínio do Pinheirinho, e a cidade de São José dos Campos virou uma praça de guerra, com repercussão nacional e internacional.

Mesmo assim, o poderoso governador ainda dormiu se vendo no programa Fantástico, da TV Globo, com a imagem "triunfal" de um ditador mão-de-ferro, mantenedor da lei (que nem sempre tem a ver com justiça), que impõe a "ordem" sobre "baderneiros" e "bandidos", coisa que agrada boa parte de seu eleitorado de índole fascista.

A coisa mudou de figura quando o telejornal "Bom Dia, Brasil" de segunda-feira (*) mostrou o mal-estar de uma mãe aflita com uma criança no colo, expulsa de sua casa por policiais do batalhão de choque, e que mal pôde pegar a mamadeira para o bebê, sem ter um lar para onde ir, só com a roupa do corpo.






O alerta vermelho dos marqueteiros tucanos soou no Palácio dos Bandeirantes.

Não há como um governador justificar a covardia de exterminar 1.700 lares com crianças e mães, deixando-as desalojadas, para entregar o terreno "limpo" à massa falida de um mega-especulador.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP) tornara-se irremediavelmente o "açougueiro do Pinheirinho".

Então, na segunda-feita, o governador tucano quis abdicar do cargo retroativamente, por 24 horas, e voltar a ser apenas um "picolé de chuchu" durante o domingo.

O tribunal de Justiça soltou uma nota prá lá de esquisita, onde o Presidente do Tribunal disse que assumiu o comando da Polícia Militar naquela operação, tirando o poder de comando sobre a polícia das mãos do governador.

É constitucional isso?

O Poder Judiciário pode fazer uma intervenção no poder executivo, "destituindo" o governador do comando?

Que eu saiba o Poder Judiciário emite ordem judicial dizendo o quê tem que fazer. Como fazer é atribuição do Governador, pois a Polícia Militar está sob sua hierarquia.

Faltou coragem a Alckmin duplamente:

Faltou coragem para assumir a responsabilidade pela operação policial, que é intransferível.

E faltou coragem para desautorizar uma nota que o "destituiu" do cargo.

De hoje em diante, é o Presidente do Tribunal de Justiça quem decide quem governa São Paulo e quando. Basta uma ordem judicial, que Alckmin cede o comando para o desembargador Ivan Sartori governar, sem ter sido eleito para isso.

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 (*) A TV Record podia passar sem essa. A reportagem do Bom Dia, Brasil foi a melhor e mais realista, apesar da matéria do Fantástico ser fascista, e a do Jornal Nacional ter estragado a boa edição da manhã para aliviar Alckmin.
*osamigosdopresidentelula

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