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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 08, 2012

Guerra do Iraque: um milhão de milhões de dólares e um milhão de mortos depois...


6 de Janeiro de 2012
octopedia.blogspot.com
Fonte: octopedia.blogspot.com
Oito anos após o início da “Operação Liberdade do Iraque” (Operation Iraqi Freedom) a coligação liderada pelos Estados Unidos deixa no país um rasto de morte e destruição. 
Esta guerra terá tido um custo de um milhão de milhões de dólares, mas é sobretudo o custo humano que tem números arrepiantes: mais de 70 000 soldados americanos e cerca de 1 000 000 de iraquianos mortos, sem contar um número astronómico de feridos e deficientes.


A guerra dos números.

Nada justifica a perda de uma única vida, aqui estamos perante números aterradores. 
Oficialmente, terão sido 3 865 os soldados americanos vítimas da guerra do Iraque (1). A Associação dos Antigos Combatentes americanos aponta para mais de 70 000, o seja um número superior ao dos soldados mortos durante a guerra do Vietname que terão sido de  58 195. 
Segundo essa associação, terão morrido, no Iraque, 73 846 americanos, dos quais 17 847 soldados no campo de batalha e 55 999 do pessoal de apoio. 
Aparece também um número curioso, para meditar, é o número das chamadas doenças não-diagnosticas que terão sido de 14 874. 
O número de queixas interposto pelos soldados por deficiência adquirida durante a guerra é de 1 620 906, ao todo 36% dos soldados dizem-se vitimas de uma qualquer deficiência. 
Um assunto tabu é o número de suicídios de antigos combatentes que o Pentágono procura esconder. Só no ano de 2005, a televisão CBS, após um inquérito, descobriu 6 256, o que dá uma média de 120 suicídios por semana.
 
Mais de um milhão de iraquianos mortos.
O número exacto de iraquianos mortos durante esta guerra é difícil de estabelecer. Na realidade, ninguém sabe ao certo quantos iraquianos morreram durante este conflito. A frieza dos números aponta para um valor que varia entre 100 000 e 1,2 milhões de mortos, dependendo da fonte.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o ministério da saúde iraquiano, durante um inquérito realizado durante o ano de 2007, tinham chegado à conclusão de que teria havido 151 000 mortos iraquianos durante os primeiros 3 anos de guerra, ou seja uma média de 120 por dia.
Um outro inquérito da revista médica “The Lancet”, publicado em 2006 dava conta de mais de 600 000 iraquianos mortos. Este número arrepiante, significa mais de 500 mortos por dia e um total de 2,5% da população.
Por fim, o instituto de sondagens britânico Opinion Research Business (ORB) dava conta, em 2007, que 16% dos iraquianos entrevistados afirmavam ter tido um membro da família morto, e 5% dois. Chegaram à conclusão que, contas feitas, terá havido mais de um milhão de iraquianos mortos durante a guerra, numa população de 26 milhões de habitantes.
 
Estados Unidos abandonam um Iraque radioactivo.
Mais de 1820 toneladas de resíduos radioactivos (urânio empobrecido) rebentaram no solo iraquiano. Um enorme desastre ecológico. Em comparação, a bomba de Hiroshima tinha 64 kg, o que representa mais de 14 000 bombas de Hiroshima. 
Durante centenas de anos esses resíduos radioactivos irão continuar a matar. Alguns cientistas pensam que actualmente existe matéria radioactiva suficiente para matar um terço da população mundial.
Apesar de nunca terem sido encontradas armas de destruição massiva no Iraque, são os Estados Unidos que colocaram agora no terreno essas ditas armas, sob a forma de material radioactivo. A taxa de malformação congénita aumentou 600%.

Quanto maior a destruição, maior o negócio da reconstrução.
O custo da reconstrução do Iraque está avaliado em 100 mil milhões de dólares. O negócio do século. Praticamente tudo foi destruído pelos bombardeamentos: poços de petróleo, hospitais, estradas, aeroportos, portos, redes eléctricas e de água, escolas... 
As empresas escolhidas para a reconstrução são apenas seis, todas americanas, todas seleccionadas pelo ministério da defesa americano. A cabecear esta lista: Halliburton, cujo o antigo presidente era o vice-presidente americano Dick Cheney, o qual ainda faz parte do conselho de administração da filial Kellog Brown & Root. Também temos a empresa Bechtel Corp. que era presidida por George Shultz, antigo secretário de estado americano.
A principal diferença entre o plano Marshall e a reconstrução do Iraque é que o primeiro destinava-se a reconstruir o que os nazis tinham destruído durante a a guerra, enquanto que no Iraque, foram os próprios Estados Unidos que destruíram as redes de água, electricidade, aeroportos, escolas e hospitais. 
Tudo leva a crer que essa destruição foi premeditada, senão como explicar, por exemplo, o bombardeamento das redes de água e electricidade em Bagdade, quando os americanos não se cansavam de referir que as suas “bombas inteligentes” apenas destruíam com grande precisão objectivos bem definidos.
Como é o Pentágono que decide quais são as empresas que vão participar na reconstrução, os Estados unidos contrataram-se a eles próprios. Na escolha das empresas de reconstrução não intervêm quaisquer organizações internacionais.
Do ponto de vista puramente comercial, o acordo de Camp David, em 1989, previa que as empresas egípcias e israelitas teriam um tratamento preferencial nos casos em fossem necessárias reconstruções em países do Médio-Oriente. O Egipto nunca beneficiou desse tal acordo, enquanto que as empresas de Israel já obtiveram contratos de mais de 7 mil milhões de dólares.
Nota:
1- 4484 militares dos EUA mortos no Iraque, segundo icasualties.org (nota do TMI)
 
*GrupoBeatrice

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