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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 17, 2012

Rótulo de "emergente" precisa ser repensado, dizem economistas

Por PRABHA NATARAJAN - WSJ

Como se pode descrever um país como a China?

Em um mundo onde a "desenvolvida" Itália está às voltas com um déficit orçamentário disparado e um governo instável, e a China, considerada "emergente", é a segunda maior economia do mundo, com um produto interno bruto de US$ 6 trilhões, cresce o clamor por uma mudança na forma como os países são classificados.

Os investidores, em especial, gostariam de ver um mundo onde o prêmio pelo risco se aplica a todas as dívidas soberanas, e não apenas aos mercados rotulados como emergentes. O rendimento dos títulos de dívida com vencimento em 10 anos da "desenvolvida" Grécia já chegou a 32,365% e os de Portugal já passaram de 12,443%, sinalizando temores crescentes de inadimplência. Em contraste, títulos de dívida com vencimento em 2021 do Brasil, país "emergente", estão sendo negociados com um rendimento de 11,47% – e isso diante de uma taxa de juros de referência de 11%, enquanto o juro básico do euro é de apenas 1%.

Em vista de tais discrepâncias, alguns investidores argumentam que os ativos dos mercados emergentes são, na verdade, "portos seguros". No entanto, a imagem persistente de que os mercados emergentes são ativos de risco pode afetar o panorama das negociações, como ocorreu com a recente queda das suas moedas frente ao dólar.

"É um absurdo que exista essa linha arbitrária entre uma metade do mundo e a outra", disse Robert Abad, analista de mercados emergentes na Western Asset Management. "Vivemos em mercados globais."

A questão é como chamar os países agora considerados "emergentes".

A expressão "mercados emergentes", cunhada em 1981 por Antoine van Agtmael, na época na International Finance Corp, afiliada ao Banco Mundial, já foi uma tentativa de encontrar uma designação menos ofensiva para as nações em rápida industrialização, então conhecidas como "subdesenvolvidas" ou "Terceiro Mundo".

Os investidores logo adotaram o termo, que lançava uma luz positiva sobre as economias em rápido crescimento da Ásia e da América Latina. Ao mesmo tempo, o termo reconhecia as preocupações com a estabilidade política e a capacidade de decisão política desses governos, especialmente após a crise financeira asiática no final da década de 1990 e as tribulações de vários países latino-americanos durante esse tempo.

Mas depois da última década de prosperidade e em vista da capacidade desses países de enfrentar a crise do crédito de 2008, o termo perdeu sua utilidade, dizem alguns.

Segundo várias métricas, como a relação entre a dívida pública e o PIB, ou os índices de crescimento, os países emergentes estão em melhor forma do que o mundo desenvolvido. E nações desenvolvidas como a Grécia e a Itália caíram nas mesmas armadilhas — dívida pública em disparada e gastos extravagantes — que definiam muitas economias emergentes quando o termo foi inventado.

"O que eu acho ofensiva é a ideia de que esses países subiriam de nível, de alguma forma, e se tornariam economias desenvolvidas", disse Jerome Booth, membro do comitê de investimentos da Ashmore Investment Management Ltd., parte do Ashmore Group PLC, com quase US$ 66 bilhões em ativos de mercados emergentes. "Os países emergentes estão em melhor situação do que os mercados desenvolvidos."

Ainda assim, Booth disse que gosta do termo "mercados emergentes"; é a categoria dos "desenvolvidos" que precisa de uma renovação.

Sua sugestão: "Economias velhas, para ser educado; ou então economias em submersão, se quisermos ser exatos".

Outros sugerem acabar com ambos os conceitos e usar uma expressão ampla, de abrangência geral, como mercados globais, mercados em crescimento ou mercados locais.

"Estamos em uma economia global, e as estruturas existentes são antigas e precisam mudar", disse Abad.

Uma definição mais simplista de países devedores e países credores encontra aceitação entre os clientes, disse Robert Stewart, gerente de carteira de clientes do J.P. Morgan Asset Management em Londres. Ele já começou a referir-se ao grupo já existente de países desenvolvidos, muitos dos quais estão altamente endividados, como países devedores, e a mercados emergentes como países credores.

Tem havido tentativas de, pelo menos, dividir o grupo dos mercados emergentes, para diferenciar entre os países de desempenho mais forte e mais fraco. Em 2001, Brasil, Rússia, Índia e China foram agrupados sob a sigla BRIC e considerados as economias maiores e de mais rápido crescimento. O índice FTSE 100 do Reino Unido tomou um rumo diferente e classificou o resto do mundo em três categorias de mercados — emergentes avançados, emergentes e mercados de fronteira.

A MSCI Inc., que supervisiona os índices de ações de mercados emergentes, informa que sua classificação de países é baseada nas necessidades dos investidores institucionais internacionais.

"O fator acessibilidade é extremamente importante", disse Sebastien Lieblich, chefe global de gesto de índices da MSCI Inc., em Genebra. "Para se qualificar como mercado em desenvolvimento, gostaríamos que um país tenha acessibilidade absoluta e abertura à propriedade estrangeira."

Mas tais argumentos podem tornar-se irrelevantes e o poder vai mudar de cores quando China, Índia, Brasil e México se tornarem as cinco maiores economias do mundo, juntamente com os Estados Unidos, em 2050, segundo previsões da Goldman Sachs.
*Brasilmostraatuacara

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