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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 16, 2012

Desculpem o transtorno, governo Dilma Rousseff trabalhando

CONJUNTURA »
Imposto menor por emprego
Desconto de 20% da contribuição do INSS na folha de pagamento e de 1,5% da alíquota de imposto sobre o faturamento atraiu confecções, calçados e tecnologia da informação. Móveis e têxteis querem mais. Governo promete apresentar nova proposta em duas semanas

» ROSANA HESSEL



Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer estimular indústria para manter empregos e direitos trabalhistas  (Iano Andrade/CB/D.A Press)
Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer estimular indústria para manter empregos e direitos trabalhistas

O governo da presidente Dilma Rousseff cobrará contrapartidas dos empresários para ampliar os setores que poderão ter desoneração na folha de pagamento. Garantia do quadro de funcionários e dos direitos trabalhistas são as exigências para o benefício. A intenção é manter a taxa de desemprego nos níveis atuais, um dos mais baixos da história do país. “Estamos próximos do pleno emprego e vamos continuar assim. Esse é o nosso objetivo”, afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O pleno emprego ocorre quando a taxa de desocupação fica  abaixo de 4%. “O Brasil vai ser um dos países que mais vai empregar em 2012. Queremos continuar assim. Portanto, vamos garantir as condições. Para isso, vamos exigir a contrapartida da indústria”, afirmou. Em 2011 a taxa de emprego foi de 6%, mas subiu para 9,5% em janeiro.

Mantega manteve encontros ontem com representantes de quatro setores da indústria – têxtil, moveleiro, autopeças e aeroespacial. Ele convocou as associações patronais para negociar a adesão de seus associados ao programa de desoneração da folha de pagamento proposta pelo programa Brasil Maior, lançado em agosto do ano passado. Pelo programa, a indústria tem o desconto de 20% da contribuição ao INSS na folha e passa a pagar 1,5% a 2,5% sobre o faturamento. Somente os setores de confecções, de calçados e de tecnologia da informação aderiram ao programa. Apesar de contemplado, o moveleiro preferiu não aderir. Já o têxtil pediu para sair por considerar baixa a alíquota de 1,5%.

O ministro, agora, quer ampliar o benefício para mais setores e admitiu que uma nova alíquota sobre o faturamento está sendo definida para tornar o programa mais atraente. “Ela será menor que 1,5%”, revelou.

Pela manhã, Mantega recebeu os presidentes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Agnaldo Diniz Filho, e da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóveis), José Luiz Diaz Fernandez. Ambos sugeriram redução da alíquota sobre o faturamento de 1,5% para 0,8%, mas podem aderir ao programa se ela chegar a 1%. A expectativa deles é que esse acordo saia até o fim do mês. Segundo Fernandez, da Abimóveis, somente o polo moveleiro de São Bento do Sul (SC), com 175 empresas e 280 mil trabalhadores, teria ganho anual de R$ 7 milhões com a alíquota de 1%.

Para Mantega, a prioridade do governo é reduzir os custos do trabalho. “Lá fora estão reduzindo salários e direitos trabalhistas. Aqui precisamos reduzir encargos. A desoneração vai dar mais competitividade para a indústria”, disse. Ele destacou ainda que os exportadores serão os mais beneficiados uma vez que a nova alíquota sobre o faturamento incide somente nas vendas domésticas. “Aquele que exporta não paga nada. Então, é a desoneração completa da folha para o exportador brasileiro.”

Porta aberta

O presidente da Associação Nacional de Sindicatos da Micro e Pequena Indústria (Assimpi), Joseph Couri, já avisou que irá fazer barulho. Ele quer a inclusão das pequenas e médias no pacote de medidas de desoneração de impostos. Não será o único setor a fazer barulho. Outros dirigentes começam a bater na porta de Mantega.

Sem IPI, preços caem
A decisão do governo de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) fez bem ao bolso do consumidor nos últimos 12 meses, encerrados em março, sobretudo na hora da compra de eletrodomésticos de linha branca. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), a redução atingiu o preço de máquinas de lavar (recuo de 6,24%), fogões (4,28%), aparelhos de telefonia móvel (7,58%) e aparelhos de televisão (8,65%). Com isso, esses produtos tiveram redução acentuada de preço enquanto outros, como vestuário infantil, com destaque para as roupas que aumentaram 9,85% e para os calçados que elevaram seus preços em 9,78% registraram alta , com impacto nos índices de inflação. O levantamento mostrou ainda que as mercadorias classificadas como bens duráveis e semiduráveis registraram alta de 1,85%, entre abril de 2011 e março deste ano, o que representou nível abaixo da inflação analisada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), de 5,74%.

México cede a apelo

O México está disposto a limitar as exportações de veículos para o Brasil à cota de US$ 1,4 bilhão (aproximadamente R$ 2,5 bilhões) pelos próximos três anos. A informação é do ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que retornou do México e participou ontem, em Goiana, no interior de Pernambuco, da inauguração de uma fábrica de vidros planos. Pimentel acompanhou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que permanece na Cidade do México, finalizando os termos desse acordo com os ministros mexicanos de Relações Exteriores, Patricia Espinosa, e da Economia, Bruno Ferrari.

A cota, confirmada pela assessoria do ministro Pimentel, foi fixada com base no valor médio das exportações de carros mexicanos para o Brasil nos últimos três anos, que cresceram bastante e contribuíram para o deficit brasileiro de US$ 1,7 bilhão no comércio com o México no ano passado.

Suspeitas
No ano passado, as importações brasileiras de veículos produzidos em solo mexicano aumentaram 70%. Ambos os países assinaram um acordo automotivo em 2002 e neste concordaram com o tema de cotas de exportação em caso de desconforto ou litígio comercial entre as partes.

O crescimento acentuado das exportações de veículos mexicanos levantou inclusive suspeitas, por parte do governo brasileiro, de que montadoras dos Estados Unidos, da China e da Europa estariam usando aquele país como plataforma de vendas para o Brasil, livrando-se da taxação de 35% imposta aos automóveis fabricados fora do Mercosul e do México.

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