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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 16, 2012

Os negócios escondidos da ajuda alimentar mundial. Novo colonialismo

O planeta poderia suportar uma alimentação condigna para todos. No entanto numerosos países sofrem de subnutrição permanente.


Os países ricos, Estados Unidos à cabeça, fazem questão de divulgar nos "media" a sua ajuda alimentar desinteressada aos mais pobres.





Mas será mesmo assim?




Quais são os interesses opacos da ajuda alimentar mundial?







A FAO e o PAM








A FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) é uma organização que depende directamente da ONU.Fundada em 1945, tem a sua sede actual em Roma e tem por missão eliminar a fome e a subnutrição no mundo.




Calcula-se que actualmente a fome atinga 800 milhões de indivíduos no mundo.




A Fao dispõe de um orçamento bienal de 867 milhões de Dólares e emprega cerca de 3 600 pessoas.




Em termos de comparação, o orçamento bienal da ONU é de 4 mil milhões de Dólares. Este é proveniente das quotas dos países membros, sendo os USA o que fornece o maior valor, 22% desse total. O orçamento da ONU para as operações de manutenção da paz é feito à parte, e representa 7 mil milhões de Dólares anuais.


http://ictsd.net/i/news/35332/


http://www.un.org/apps/newsFr/storyF.asp?NewsID=15289&Cr=FAO&Cr1=budget


http://www.un.org/french/pubs/ourlives/fao.htm







O PAM (Programa Alimentar Mundial), também sediado em Roma, tem como missão o fornecimento urgente de alimentos, enquanto que a FAO tem uma função reguladora da agricultura mundial. O director executivo da PAM, é eleito pelo Secretário Geral das Nações Unidas e o director geral da FAO.




O seu orçamento é de 3,7 mil milhões de Dólares.




O financiamento provém dos donativos de cerca de 80 governos, grandes empresas e particulares. O PAM não recebe qualquer ajuda das contribuições dos estados membros da ONU. A principal contribuição vem dos USA com cerca de 2 mil milhões de Dólares.


http://www.wfp.org/




Criticas à ajuda alimentar.


O presidente do Senegal, Wade, acusa a FAO de gastar 20% do dinheiro dos seus projecto em despesas de estudos dos mesmos.


A grande maioria dos projectos são financiados pelo Banco Mundial dominado pelos Estados Unidos.


http://www.france24.com/fr/20080603-fao-faim-crise-alimentaire-rome-jacques-diouf-banque-mondiale-fmi-abdoulaye-wade




Muitas são as vozes, que cada vez mais se fazem ouvir, criticando o facto de que grande parte do orçamento gasto pela FAO (mais de 50%) destina-se ao seu próprio funcionamento. Burocráticamente pesadíssimo a FAO enriquece assim os seus "colarinhos brancos".


http://www.congoforum.be/fr/analysedetail.asp?id=160310&analyse=selected





Quem é que realmente beneficia com a ajuda alimentar?


Cada vez mais, os programas de ajuda alimentar são feitos tendo em conta os interesses dos fornecedores e não dos beneficiados.


Os alimentos são comprados aos agricultores americanos, permitindo-lhes o escoamentos dos seus produtos, trata-se também de uma subvenção disfarçada da sua agricultura.


A ajuda alimentar aos país pobres, permite também criar novos mercados nesses países, por exemplo através do fornecimento de sementes. A agricultura local é assim substituida por monoculturas com baixos custos de produção que depois é exportada para os países desenvolvidos. A agricultura tradicional que permitia o fornecimento alimentar adequado a muitas populações encontra-se assim em risco. Trata-se pois, de uma nova forma de colonialismo.


Sob o pretexto da ajuda alimentar, esta, ajuda sobretudo os Estados Unidos a escoarem os seus produtos. Os países vizinhos dos que recebem a ajuda internacional, muitas vez possuem alguns excedentes agricolas, estes poderiam ser adquiridos pelas organizações internacionais num contexto loco-regional, contribuido assim para o desenvolvimento da região.
Pelo contrário esta política leva a um desequilíbrio do mercado agricola regional, fazendo com que esses produtos vejam os seus preços baixarem devido ao fornecimento gratuito dos mesmo localmente.


Como já vimos, as monoculturas introduzidas nos países subdesenvolvidos, comprometem a agricultura tradicional de subsistência. Chegando-se ao paradoxo de esses agricultores terem de, após venderem os produtos que são "obrigados" a produzir para obterem capitais, terem de comprar os alimentos de que necessitam; fechados numa armadilha, sem alimentos e sem dinheiro.






Trangénicos, um exemplo típico.




Inicialmente, nos anos 90, o milho transgénico foi criado para ser utilizado na alimentação do gado. Só mais tarde foi proposto para consumo humano.
O problema é que os Estados Unidos, o principal produtor mundial de transgénicos, não sabe o que fazer para escoar o excesso da sua produção, devido sobretudo às restrições (por enquanto) impostas pela União Europeia. Assim o escoamento para os países subdesenvolvidos apresenta-se como uma grande oportunidade.


A ajuda alimentar dos Estados Unidos beneficia as suas grandes empresas agro-alimentares.


No inicio deste ano, a Fundação Bill e Melinda Gates doou 5,4 milhões de Dólares à Donald Danforth Plant Science Center dos USA, para "ajudar na luta contra a fome". Atitude filantrópica? Não, este dinheiro destina-se à introdução e desenvolvimento de culturas genéticamente modificadas em África...



Do blogue Octopus

*Guerrasilenciosa

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