Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 11, 2012

"GUERRA" às DROGAS: O DINHEIRO DO TRÁFICO DE DROGAS, BENEFICIA OS EUA E OS BANQUEIROS CORRUPTOS

 do Burgos 
A HIPOCRISIA DA GUERRA ÀS DROGAS: O GRANDE DINHEIRO DO TRÁFICO DE DROGAS, BENEFICIA OS EUA E OS BANQUEIROS CORRUPTOS.
A hipocrisia da guerra às drogas é ultrajante quando comparado com a quantidade de tráfico de drogas que beneficia a CIA e o sistema bancário internacional. O filho de um mafioso notório e condenado, John Gotti Jr, quando questionado em um tribunal, se a família continuava no negócio de drogas ,responde, "Não, nós não podemos competir com o governo".
Hoje no Afeganistão, tropas americanas tem sido vistas guardando os campos de papoula usada para fazer heroína. Esses campos foram todos eliminados em 2001, quando os talibãs destruíram e proibiram esta solução agrícola. Agora eles estão florescendo novamente após a ocupação americana.
Isto não faz sentido, apesar de todos os relatórios “oficiais” que as tropas americanas estão protegendo os agricultores da papoula dos caras maus. Sites da internet, tais como Planet Prision, Info Wars, The Political Coffehouse e outros, relatam o contrário. Eles conectam a CIA e os militares dos EUA em terem reiniciado os campos de papoula no Afeganistão em 2002, aumentando o crescimento de papoula em mais de 650 por cento. Quem está dizendo o que acontece de fato?
A maneira que a CIA mantém seu tráfico de drogas escondido da opinião pública
As operações secretas da CIA para influenciar o jornalismo começou na década de 1950, infiltrando-se na mídia e subornando os jornalistas a serem agentes ativos para a CIA. Em 1976, então diretor da CIA, William Colby teria se gabado várias vezes de que a CIA possuía a imprensa. Supostamente, esta operação era secreta demais para nomear, fora então cunhado o nome "Operação Mockingbird", por Deborah Davis em seu livro “Katherine, a Grande”.
A Operação Mockingbird funcionou bem, contra o premiado jornalista Gary Webb quando o seu jornal, the “San Jose Mercury News”, apresentou sua aprofundada série sobre o tráfico de drogas da CIA que inundou os EUA para ajudar a financiar os Contras da Nicarágua apoiados pela CIA na década de 1980.
Jornalistas de todo os Estados Unidos caíram sobre a série, alegando que o jornalismo de Webb era de má qualidade. O jornal teve que se retratar e demiti-lo, e Gary Webb caiu na lista negra do jornalismo tradicional, completamente.
Webb retaliou, tendo seu livro “Dark Alliance” publicado e alcançando o topo lista best seller do NY Times, forçando alguns de seus críticos a comerem privadamente, suas próprias palavras após o fato. (em inglês eles comem um corvo).
Apesar do controle da imprensa pela CIA, no Mexico e na America Central, algumas cargas de cocaina apreendidas de avião e descobertas de grandes quantidades em restos de aviões que colidiram, com pilotos de empresas de fachada contratados pela CIA , foram notícia nos jornais principais, ainda que brevemente.
Lembra-se do filme "Air America?" Foi com base em uma verdadeira empresa de fachada da CIA, transportando toneladas de heroína dos campos de papoula do "Triângulo Dourado" no Sudeste da Ásia, durante e após os conflitos do Vietnã. Agora, o Afeganistão e o "Crescente Dourado" são as fontes condutoras de destaque do ópio /heroína.
Governo e Grandes Negócios usando os lucros do tráfico de drogas não é novidade
Quando o governo dos EUA fizeram acordos com a máfia Cosa Nostra, para ajudar a policiar portos e atracadouros durante a segunda guerra mundial, eles deram vida ao comércio de heroína. Eventualmente, em Marselha, na França, foi “armada” pela máfia da Córsega para se tornar a "conexão francesa" para o tráfico de heroína.
Mas a história do comércio do ópio remonta ainda, ao início do tempo colonial da América. É quando magnatas do transporte naval americanos usaram seus rápidos Navios Clipper para competir com a Companhia das Indias Orientais, sancionada pela Inglaterra no negócio de drogas, para transportar ópio para a China.
Alguns jogadores chave criaram fortunas de família do comércio de ópio da China, e que hoje em dia ainda existem, dentro de algumas famílias do "velho dinheiro" do Nordeste Americano.
Entre os nomes de família familiares, de acordo com a Wikipedia (fonte abaixo) é Forbes. Outra fonte cita Astor, uma família proeminente rica e filantrópica na Nova York de hoje (fonte Wiki abaixo). Naqueles dias, o tráfico de drogas foi um esforço de negócio legítimo, imoral mas não ilegal.
Agora é ilegal também. Ironicamente, isso permite aos maiores provedores de drogas ilícitas acabarem beneficiando financeiramente a CIA e os bancos internacionais.
Abril 2011
Documentos desclassificados revelam que a CIA financiou redes de tráfico de drogas
O Governo Federal dos EUA desclassifica 8.000 documentos em resposta à lei de informação pública que detalha como a CIA financiou o tráfico de drogas no Afeganistão e na América Latina.
Embora para muitos a notícia de que a CIA está envolvida em redes de tráfico de drogas não é novidade, o certo é que não deixa de ser relevante a confirmação desta "teoria" através de documentos oficiais. Forçado pela Lei de Informação Pública, o governo federal dos EUA desclassificou um arquivo com mais de oito mil documentos detalhando, entre outras coisas, o envolvimento da CIA em organizações de tráfico de drogas. A relação entre a CIA e o tráfico de drogas começou em finais dos anos setenta (ou talvez tenha começado mais cedo, mas isso não foi consolidado na época) e se intensificou nos anos noventa, década em que, alegadamente, deixaram essas atividades (vamos ter que esperar até 2030 para saber se em 2010 continuaram suas práticas sombrias).
Uma das operações específicas em que a CIA apoiou o narcotráfico foi na década de oitenta no Afeganistão. Durante a Guerra Fria entre os EUA e a URSS, quando os últimos ocuparam o Afeganistão. Naquele tempo se constata que a CIA usou pelo menos 2 milhões de dólares em financiamento a resistência afegã através dos cartéis de drogas locais, envolvidos principalmente no cultivo de papoula e maconha, e que controlava, como antes, o mercado de heroína ao redor do mundo. Curiosamente, estes mesmo rebeldes são conhecidos hoje como membros do Talibã que os EUA fortemente simulam combater, argumento principal para justificar a invasão dos EUA ao solo afegão.
Mas não só no Afeganistão foram forjados os laços da CIA com os traficantes de drogas. A mesma coisa aconteceu na América Latina, onde a agência de inteligência dos EUA apelou para organizações dedicadas ao tráfico de drogas para financiar movimentos para desestabilizar governos latino-americanos que se recusaram a alinhar-se com a agenda norte-americana. "No cenário norte-americano, o dinheiro da droga veio do Cone Sul e tornou-se dinheiro legítimo em Wall Street. No cenário da América Latina, esse mesmo dinheiro, uma vez lavado, voltou à região para os fundos dos paramilitares", disse o ex-agente federal Michael Ruppert. Por outro lado, a CIA também se ligou ao tráfico de drogas para deslegitimar os movimentos sociais dentro dos Estados Unidos e as organizações de luta pelos direitos civis e da população, ou de grupos com ideologias que ameaçavam a hegemonia psicocultural promovidas pelo governo com a ajuda do mainstream midiático.
E tendo em conta que, nesse contexto chama a atenção como a épica cruzada intitulada "luta contra as drogas", política iniciada por Ronald Reagan e alimentada pelos presidentes subsequentes dos EUA, poderia realmente ser uma farsa espetacular com uma agenda escondida, porém clara: o financiamento, a capitalização e vantagem geopolítica do fenômeno do tráfico de drogas.
Não deixa de ser curioso que mais de três décadas depois do lançamento da famosa luta contra o narcotráfico, os resultados estatísticos foram suspeitamente deploráveis: nunca na história havia se consumido tantas drogas como no presente, e a rentabilidade desta atividade nos nossos dias é de longe o maior da história.
O nível do uso de cocaína nos EUA aumentou de 80 toneladas em 1979 para 600 toneladas em 1987, de acordo com Ruppert, e a CIA sabia que isso ia acontecer. A razão porque a CIA vende drogas, de acordo com o mesmo ex-agente, é para apoiar a economia dos EUA, que pode estar relacionado com as evidências existentes de que bancos como Wells Fargo são lavanderias do dinheiro da droga. Curiosamente, os fundadores e diretores subsequentes da CIA têm fortes laços com Wall Street.
A Comissão de Juristas para a publicação de relatórios sobre o tráfico de drogas nos EUA estima que os montantes de dinheiro lavados das atividades ligadas ao tráfico de drogas excedam 100 bilhões de dólares (uma estimativa bastante conservadora, pois há versões que asseguram que o montante é de pelo menos US $ 600 bilhões).
Enquanto os relatórios desta mesma entidade asseguram que a elite financeira norte-americana, e na América Latina em geral, se beneficiam indiretamente, mas de maneira tangível, no negócio monumental que é gerado pelo tráfico de entorpecentes.
E considerando que Wall Street, Hollywood, os grandes bancos, a maioria dos governos, e até mesmo as classes altas, todos eles, lucram com esse fenômeno, podemos acreditar que há alguém dentro da esfera de poder, que genuinamente quer por um fim a esta prática? Seria a CIA o maior cartel de drogas no mundo?
Março de 2011
A CIA e o tráfico de cocaína!
No livro Peru - do império dos incas ao império da Cocaína de Rossana Bond, uma obra recomendadíssima, encontra-se o seguinte trecho:
Hoje, quando a população do Brasil e da América Latina é assombrada pelo poder descomunal do narcotráfico e do crime organizado vinculado a ele, é fundamental que a verdadeira origem de parte desta tragédia seja contada.
Sabe-se que desde 1963 a CIA e o Pentágono montaram "uma rede de produção e distribuição de narcóticos para gerar uma fonte de financiamento para futuras ações
contra-insurgência (na América Latina)", recordou o jornal A Folha da História em junho de 2000. E agregou:
"No final de 1964 Philip Agee, agente da CIA na América Latina, denunciou o começo da operação na Bolívia. ali os generais Barrientos e Banzer, também agentes da CIA, construíram uma primeira rede.
A produção de coca financiou grupos paramilitares os quais, desde os anos 60, já atuavam no Cone Sul. Parte de seus membros se incorporaram mais tarde a grupos operativos militares quando estes tomaram o poder.
Esses paramilitares foram organizados de acordo com o criminoso modelo do 'Plano Phoenix' aplicado no Vietnã pelo diretor da CIA Willian Colby. Foi o caso do 'Pátria e Liberdade', do Chile, da 'Aliança Anticomunista Argentina' que mataram centenas de militantes populares, antecipando-se ao genocídio 'Operação Condor' nos anos 70".
O ex-agente da DEA [Drug Enforcement Agency (Agência de Repressão às Drogas)] Michael Levine em seu livro The Big White Lie (A Grande Mentira Branca), de 1993, confirmou que desde muitos anos atrás a CIA tem vínculos e relações com narcotraficantes da América Latina, recordando os casos dos contras da Nicarágua, Noriega do Panamá, Hugo Blanco e García Meza na Bolívia.
--------------------------
Folhas de coca e cocaína: uma breve história de seus usos medicinais
Exemplos claros de integração harmoniosa entre o Homem e a Natureza, ou de como o Homem pode aproveitar a Natureza para viver saudavelmente mais disposto, incluem o uso secular de chá e ginseng pelos chineses, de café pelos povos do Oriente Médio, e de folhas de coca pelos nativos dos Andes na América do Sul. De fato, os indígenas do Peru, Bolívia e Colômbia cultivam há mais de 1000 anos o costume de mascar folhas de coca ou usá‐las para fazer uma espécie de chá, como forma de aliviar a fadiga e proporcionar bem‐estar.
E o “homem branco descobridor do Novo Mundo”, que de bobo não tem nada, logo se interessou pela planta que até então desconheciam. Já no século XVI, aparecem os primeiros relatos de europeus sobre o hábito de mascar folhas de coca da população andina. E se por um lado os espanhois chegaram a taxar o cultivo de coca, por outro lado forneciam as folhas para seus escravos nativos trabalharem mais, por mais tempo e com menos comida.
Tempos mais tarde, o "homem branco" passaria a introduzir o energizante ingrediente nas suas invenções. Na segunda metade do século XIX, o revigorante Vin Mariani, vinho Bordeaux tratado com folhas de coca, fez sucesso inclusive entre a nobreza britânica e os papas do Vaticano. E a fórmula original da Coca‐Cola, na mesma época, tinha como ingredientes básicos cocaína (das folhas de coca) e cafeína (da noz kola).
As observações iniciais sobre as propriedades salutares das folhas de coca inevitavelmente levaram os cientistas da época a investigar mais a fundo o que estava por trás destes efeitos.
Em 1855, isolava‐se, da folha de coca, a substância tida como responsável pelos seus efeitos saudáveis: o alcaloide benzoilme lecgonina, ou C17H21NO4, mas podem me chamar de cocaína.
Em pouco tempo o processo de purificação da cocaína seria aprimorado.
Um dos primeiros sujeitos a se interessar pela cocaína foi Sigmund Freud (1856‐1939). Sim, ele mesmo!
Em 1884, antes do mundo ouvir falar de psicoanálise e quando ainda era médico‐residente, Freud publicou um artigo que entraria para a História, descrevendo o uso da cocaína em seus países de origem, as características botânicas do arbusto da coca, o processamento das folhas, os efeitos da droga em animais e homens saudáveis, e suas ações terapêuticas anti‐melancolia, anti‐vômito e sedativas. Freud ainda exaltava os resultados da droga no tratamento de doenças do coração, diabetes, asma, caquexia, estresse, dependência de álcool e morfina, e dizia que tratava‐se de uma “droga mágica”.
O próprio Freud usou cocaína para tratar sua própria depressão e a indicou para colegas e familiares.
Ao mesmo tempo, um outro cidadão importante, Karl Köller (1857‐1944), descrevia
pioneiramente as propriedades anestésicas da cocaína em experimentos no olho, o que é considerado a descoberta da Anestesia Local. Tanto que os anestésicos locais posteriormente descobertos e desenvolvidos passariam a ganhar o sufixo –caína, como lidocaína, benzocaína e procaína.
Num claro exemplo de como a Ciência e a evolução tecnológica podem se aproveitar da Natureza para criar remédios em benefício do Homem, a cocaína era promovida a
medicamento.
Em pouco tempo, a produção de cocaína aumentaria drásticamente, sobretudo com o advento de uma técnica que permitia a produção de cocaína semi‐refinada no local do plantio, evitando as grandes perdas que ocorriam no conteúdo de cocaína quando as folhas de coca eram transportadas em condições precárias da América do Sul para o hemisfério norte.
Animados com a maior oferta de cocaína, preços mais baixos e suas propriedades euforizantes, os produtores começaram a incrementar o conteúdo de cocaína em seus produtos, que passaram a ser comercializados em maior escala. Em 1885, podia‐se comprar na esquina cocaína em várias formas, incluindo cigarros, pó e mesmo uma mistura que poderia ser injetada pela veia.
A companhia norte‐americana Parke‐Davis prometia que seus produtos a base de cocaína "subs tuiriam a comida, fariam do covarde um corajoso, do quieto um eloquente, e deixariam um sofredor insensível à dor".
Mas nem tudo era festa...
Ainda no final do século XIX, à medida que a cocaína era consumida de forma mais ampla e em maiores doses, começavam a aparecer os relatos de dependência e toxicidade, incluindo mortes. As revistas médicas começavam a publicar as encrencas e a população começava a entrar em pânico.
Questão de tempo para a cocaína ser rebaixada a vilã, proibida, perseguida e jurada de morte. E hoje o custo econômico e social planetário da dependência à cocaína e da sua ligação com a criminalidade dispensa comentários.
Ninguém mandou querer saber o que está por trás da energia dos nativos dos Andes que mascam folhas esverdeadas. Podia deixar quieto. Eles sim sabem usar o “medicamento” numa posologia correta.
PS:
A propósito, os bolivianos estão tentando modificar uma Convenção da ONU de 1961 que coloca a folha de coca no mesmo balde da cocaína e heroína, ou seja, considerando‐a ilegal salvo para uso medicinal ou cienSfico. A Convenção alega que é muito fácil extrair cocaína da folha de coca, jus(ficando a ordem de acabar com plantações ilegais e com o hábito de mascar folhas de coca. Os países andinos alegam que o hábito de mascar folhas ou beber chá de coca é uma tradição de séculos, utilizada por milhões de pessoas diariamente, que só traz benefícios à saúde, além de ser considerada sagrada para culturas indígenas. E que é um erro confundir folha de coca com cocaína. Afina de contas, a folha de coca contém apenas 0,5% a 1,0% de cocaína.
Fevereiro 2012
Em defesa da folha de coca, Bolívia deixa Convenção da ONU
Por leonardo Sakamoto
A partir do início deste ano, a Bolívia não figura mais entre os signatários da Convenção Única das Nações Unidas sobre Entorpecentes em protesto pela classificação da folha de coca como substância ilegal.
Após ter a saída aprovada pelo seu Senado em junho de 2011, e a retirada sido solicitada, o país pediu readmissão à Convenção com ressalvas quanto ao artigo que proíbe mascar folha de coca. Até que esse pedido seja analisado, a Bolívia ficará fora, tornando-se o primeiro país que abandona o acordo desde sua criação, em 1961. De acordo com informações da BBC, a manobra de saída e reentrada com ressalvas tem, como objetivo, tentar persuadir outros Estados membros. O Conselho Internacional para o Controle de Narcóticos das Nações Unidas lamentou, na época, a decisão da Bolívia.
Há mais de 3 mil anos, os povos andinos já mascavam a folha de coca, seja para amenizar os efeitos da altitude, reduzir o cansaço ou outras finalidades medicinais. Em certa medida, é equivalente ao café, que serve de estimulante ou revigorante em todo o mundo. Em sua forma natural, não tem os efeitos da cocaína, obtida através de um processo químico de refino.
Posso falar isso por experiência própria, por já ter mascado folhas de coca na Bolívia. Bem mais saudável do que tomar uma dose de uísque, um copo de cerveja ou fumar um cigarrinho e outras drogas consideradas legais, mas que causam danos ao organismo e deixam multinacionais ricas. Além de destruir comunidades, explorar famílias de trabalhadores e atingir o meio ambiente por impactos não-controlados em suas cadeias produtivas.
Mesmo representando um símbolo da cultura de um povo, o cultivo da coca é duramente condenado pela política norte-americana de combate às drogas, que tem pressionado pela eliminação dessas lavouras na América do Sul. Como se isso resolvesse o problema de demanda por psicotrópicos pelos Estados Unidos.
Durante reunião da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, em Viena, em 2009, o presidente boliviano Evo Morales – ele próprio um liderança cocaleira – mastigou folhas de coca em frente aos ministros de mais de 50 países para defender que a planta seja retirada da lista de entorpecentes proibidos, organizada pela convenção internacional de 1961. Morales defendeu o combate à cocaína e refutou a pecha de narcotraficante dado a produtores dessa planta: “Isto é uma folha de coca, não é cocaína. Não é possível que esteja na lista de entorpecentes da ONU”, disse. Foi aplaudido.
É impossível o governo dos Estados Unidos, mesmo sob uma administração mais progressista como a de Barack Obama, mudar sua política ineficaz e violenta de guerra contra as drogas. Ou deixar que ocorra alguma alteração em convenções internacionais sobre o tema. Quando se pode confortavelmente jogar a culpa em um inimigo externo por um problema interno, para que mudar?
Fontes:
*Gilsonsampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário