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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 06, 2012

Mesmo desacelerando, PIB brasileiro fica acima de países ricos

MAÍRA TEIXEIRA

DE SÃO PAULO
Mesmo com o resultado fraco da economia brasileira –que viu seu PIB desacelerar para 2,7% em 2011, ante alta de 7,5% em 2010–, o crescimento do país ficou acima de economias ricas, como a dos Estados Unidos, Japão e até da França e do Reino Unido.
No quarto trimestre, foi registrada alta de 0,3%, ante recuo de 0,1%, no terceiro trimestre (dado revisado hoje pelo IBGE).
Os possíveis culpados pelo menor crescimento brasileiro são o agravamento da crise europeia e a demorada recuperação dos EUA, que modificam o cenário econômico internacional e dificultam a retomada global.
Jason Vieira, analista internacional da corretora Cruzeiro do Sul, afirma que já era esperado o maior crescimento do Brasil em relação aos países desenvolvidos. “O Brasil aproveitou um movimento inercial forte de 2010 e da primeira metade de 2011, por isso conseguiu apresentar tal número. O problema é este ano, onde a média mundial tende a crescer, mas o Brasil pode não acompanhar com tal ímpeto e por isso o governo tem esse viés expansionista no início do ano [de adotar medidas para manter a economia aquecida].”
No quarto trimestre, algumas economias europeias registraram quedas, levando seis países a recessão técnica (crescimento negativo por dois trimestres consecutivos): Portugal, Grécia, Itália, Holanda, Bélgica e República Tcheca.
As maiores preocupações, no entanto, são os países que capitaneavam os resultados no bloco europeu, mas que passaram a apresentar resultados ruins, como Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Itália.
O PIB da União Europeia se contraiu em 0,3% nos últimos três meses de 2011 (resultado idêntico ao do bloco dos países que usam o euro), mostrando as dificuldades enfrentadas pelos países para conciliar crescimento com os cortes nos gastos públicos. O crescimento do de 2011 da zona do euro foi de 1,4%, de acordo com a segunda estimativa da agência de estatísticas Eurostat.
Segundo analistas, o péssimo momento econômico internacional reflete fortemente no Brasil que passa a apostar na demanda interna e a tentar controlar as intervenções protecionistas, além do despejo de moeda por parte dos países em crise com o intuito de dar liquidez a seus mercados e fazer a economia girar.
O país também enfrenta sérias dificuldades de crescimento, como o chamado “custo Brasil” caracterizado por dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional.
Notícias desagradáveis também chegam da potência chinesa, cujo primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou ontem que a expectativa do PIB avance 7,5% em 2012, abaixo da meta estipulada para anos anteriores, que era de 8%. Em 2011, a economia chinesa cresceu 9,2%.
Para Vieira, a questão do crescimento chinês pesa negativamente em cenário econômico adverso. “Todavia ainda é cedo para mensurar se tal movimento trará efeitos negativos na recuperação da economia mundial.”
*Luis Favre

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