A mudança no modelo chinês
A
China decidiu radicalizar a mudança do seu modelo econômico e dividir o
bolo, isto é, focar mais no mercado interno como motor do
desenvolvimento. Significa, de um lado, reduzir as expectativas de
crescimento, baixando para 7,5% este ano – abaixo do número mágico de
8,5%.
É interessante comparar o modelo chinês com o Brasil Grande dos anos 70.
Em
ambos os casos, eram governos autárquicos, com plenas condições de
monitorar a economia, definir vencedores e impor as regras do jogo.
O
Brasil dos anos 70 definiu o mercado externo como a grande mola do
crescimento. Por outro lado, abandonou o mercado interno, contentando-se
apenas com a nova classe média operária que surgia no bojo da nova
industrialização. Foi quando surgiu a teoria do “bolo” – de crescer
primeiro para dividir depois.
Quando
sobreveio a crise internacional, a única âncora na qual a economia
brasileira se apoiou foi na construção civil e no amplo endividamento
público: não havia mercado interno capaz de cobrir a crise do modelo
anterior.
Já a China há anos vem
arrostando os limites de crescimento. Tem problemas enormes com o meio
ambiente, com o abastecimento de água, com as disparidades regionais,
com a tensão interna
O lado
interessante do modelo chinês é a extrema competência do Partido
Comunista, de extravasar as tensões internas de duas formas.
Uma,
permitindo a alternância de linhas econômicas, tal e qual numa
democracia ocidental – a um governo “neoliberal” sempre sucede um
governo “populista”.
A segunda maneira é a de permitir canais de crítica a decisões do governo, desde que não se coloque como alvo o próprio Partido.
Na
verdade, as etapas do desenvolvimento chinês – desde Mao – tem
obedecido a uma racionalidade enorme, em que pese as loucuras da
Revolução Cultural. Mao massificou os serviços sociais, especialmente
educação e saúde, fornecendo apenas o básico, mas para uma população
enorme.
Em cima dessa base
inicial, os sucessores investiram em ensino técnico, superior e
aprenderam os princípios capitalistas através de um processo gradativo
de criar regiões especiais, em que se experimentassem as regras de
mercado.
De início atraíram as
grandes multinacionais devido ao câmbio super-desvalorizado e
mão-de-obra de baixo custo. Mas o alvo de médio prazo sempre foi o
mercado interno chinês.
À medida
em que a foi sendo criada uma classe média quase ocidentalizada, a
maneira de mantê-la sob controle foram as expectativas de melhoria de
emprego e de salário.
Agora, o PC
deu-se conta de que não bastaria o crescimento acelerado para o
atendimento das demandas dessa enorme população. E passou a investir em
serviços públicos e a descomprimir gradativamente as pesadas condições
de trabalho em muitas regiões – que têm sido objeto de denúncias
internacionais variadas.
Vai-se ter uma população com a renda crescendo, os hábitos de consumo modernizando-se.
A
diferença do Brasil atual é que ambas as economias se basearão no seu
mercado interno: mas apenas uma (a China) têm um parque industrial capaz
de se beneficiar desse boom.
*Luis Nassif
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