Bernardo Malamut - Minha questão diz respeito a esse
tempo que vivemos do “cogito televisivo” – não o “vejo, logo existo”,
mas como você mesmo esclarece, “sou visto, logo existo”. Que tipos de
sujeito você pensa que a televisão de hoje tem produzido?
Marcia Tiburi - Olho de vidro é a filosofia como
exposição do aparelho televisivo visto enquanto objeto doméstico, mas
também como dispositivo de poder político e econômico. Me interessei
pela fenomenologia desta arma ideológica, arma imagético-discursiva
letal que, utilizando do mecanismo de distração e amansamento da
percepção, joga com sutil violência a sociedade inteira dentro de um
campo de concentração. Tratei a imagem como a moldura, como cercado que
define um campo de concentração feito de olho, tela e distância. Nele
reside o corpo do “telespectador”, a figura subjetiva de um tempo em que
o olhar foi perdido, eviscerado na forma de um aparelho. Olho de Vidro é
a metáfora desse processo de protetização do olhar. A televisão é como
nosso olho, arrancado de nós, substituindo nossa visão de mundo, nossa
compreensão de um real. A televisão produz uma verdade assumida pelo
sujeito no lugar de qualquer outro. Sujeito é já um termo ultrapassado
se considerarmos que uma de suas características na tradição que o criou
e na qual ele sobreviveu era a autonomia. Esta autonomia é o que o
telespectador não tem mais. Assim, vamos deixar o sujeito e pensar em
telespectador, alguém que, diante da televisão é prisioneiro do que
chamei de lógica do espectro.
* Egregorasecarrancas
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