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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 11, 2012

A ''vitória'' de Putin

 

Laerte Braga
Boris Yeltsin foi eleito presidente da Rússia em 1991 em meio a uma campanha repleta de fraudes e a um processo de transformação dirigido de fora para dentro. O fim da União Soviética.
Gennady Zyuganov, candidato do Partido Comunista era o favorito – os comunistas fizeram maioria na DUMA, congresso do País.
Yeltsin era membro do Partido Comunista da União Soviética, foi levado para Moscou por Mikail Gorbachev onde se transformou num dos principais responsáveis pelo fim do sistema e da URSS. No curso das funções que desempenhou no período da Peristroika e da Glasnost acabou cooptado por forças internas que se opunham ao comunismo, aproveitou-se dos equívocos de Gorbachev e financiado pelos norte-americanos, então sob a presidência de Ronald Reagan.
O argumento usado àquela época que faltariam condições à URSS para opor-se aos planos militares de Reagan (um escudo contra mísseis de outros países) era falho e incorreto naquele momento. O chamado Projeto Guerra nas Estrelas.
Gorbachev não estava à altura de conduzir um processo de abertura política e econômica e os erros, aliados às defecções/cooptações dentro do PCUS acabaram por decretar o fim da URSS, além, evidente, das formulações equivocadas das próprias políticas de abertura de Gorbachev.
A eleição de Yeltsin se deveu ao fato de seu caráter moldável a qualquer circunstância que rendesse dinheiro, como a sua condição de bêbado vinte e quatro horas por dia, fácil de ser manipulado e dirigido.
Yeltsin foi uma figura grotesca e a história vai, cedo ou tarde, revelar a real dimensão de seu papel. A de um governante irresponsável e que no seu estado normal, passou a mão numa secretária. O mundo riu e achou exótico, pois convinha ser assim.
De lá para cá a antiga União Soviética – a Rússia principalmente – virou sede das maiores e mais brutais máfias do mundo atual, operando em todas as modalidades de crime. Desde os legalizados (especulação, corrupção nas antigas estatais, sonegação etc), aos ilegalizados, como tráfico de drogas, de mulheres, tudo montado sobre uma série de pilares.
Um país onde a fome virou realidade, o desemprego é crescente, os serviços públicos de educação e saúde que eram de excelência se evaporaram.
Putin só difere de Yeltsin na obsessão que mostra por exibir um corpo atlético, saúde impecável e força para dirigir a Rússia. Uma espécie de concepção que é um super homem. Mister Atlas.
Venceu as eleições montado em fraudes constatadas por observadores internacionais, admitiu a existência dessas fraudes e como todos prometeu apurar essas irregularidades e acabar com as mesmas.
Tem a perspectiva de exercer o próximo mandato presidencial e ser reeleito para mais um, seria o quarto.
Há cerca de uns quinze anos, pouco tempo depois do fim da União Soviética, um brasileiro tomando café num hotel em Moscou observou que os garçons iam retirando as mesas e colocando os pães, os biscoitos, os potes de manteiga, o que pudessem enfim, em seus bolsos. Perguntado um dos garçons respondeu – “a fome aqui é terrível”.
A Ucrânia hoje, segunda maior república soviética em dimensão territorial, é a maior exportadora de prostitutas para a América e Europa Ocidental. São constantes os protestos de mulheres ucranianas contra a ação de máfias voltadas para essa atividade criminosa e complacente a atitude dos governos, todos cúmplices.
Putin já percebeu a cobiça norte-americana tanto sobre as antigas repúblicas soviéticas – é sempre bom lembrar o que aconteceu na Geórgia, onde os americanos tentaram impor um governo ao seu feitio – como as tentativas dos sucessivos governos dos EUA de isolar a Rússia, ainda uma potência nuclear.
O povo russo já sentiu o engodo que foi a tal “revolução democrática”. O fosso criado entre as elites/máfias e a classe trabalhadora.
Gennady Zyuganov, candidato do Partido Comunista da Rússia obteve quase 18% dos votos nessas eleições e com certeza, excluída a fraude, teria alcançado percentuais mais altos.
Em toda a Rússia, como em boa parte das repúblicas da antiga União Soviética e muitos países do Leste Europeu, além da Alemanha Oriental existe e nem a mídia esconde, uma nostalgia dos tempos do comunismo. Alemães orientais até hoje se sentem discriminados diante dos alemães ocidentais. A queda do Muro de Berlim foi um show midiático do capitalismo. Norte-americanos e israelenses constroem muros em várias partes do mundo. Em território palestino para consumar o saque sionista e na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes, sem falar em grupos de cidadãos que defendem a pureza racial naquele país. Trabalham vinte e quatro horas por dia vigiando a fronteira EUA/MÉXICO e matando o que chamam de ilegais.
A integração da América do Norte no NAFTA – Tratado de livre comércio e integração – tem mão única. Norte-americanos excluem mexicanos da integração e acham que o Canadá é um “México melhorado”.
A força que o Partido Comunista grego mostra na reação ao processo de assalto que está em curso contra o seu país assusta as forças do capital. A própria presidente do Brasil, Dilma Roussef, criticou a forma como estão sendo conduzidas as políticas européias para enfrentar a crise que assola aquela Comunidade.
Espanha, Itália e Portugal são os próximos a serem devorados no tsunami que afeta bancos europeus, esses sim, senhores de governos e do controle do aparelho estatal daqueles países.
Os trabalhadores são adereços.
A crítica que norte-americanos fazem à volta de Vladimir Putin ao poder – de onde nunca saiu, o atual presidente é um fantoche, um artifício para driblar a constituição – não está só no fato de Putin se opor às políticas dos EUA em relação ao Irã e ao Oriente Médio em algumas situações. Os EUA querem mais que um presidente eleito pelo voto (com ou sem fraude), querem um presidente dócil em todos os sentidos.
A reação de Putin a algumas decisões dos EUA escora-se no poder ainda guardado pela Rússia e construído na antiga União Soviética e na certeza que o povo russo não aceitará a condição que aceitam, por exemplo, os britânicos, posição de colônia de luxo, de base militar norte-americana. De bucha de canhão nas guerras inconseqüentes e imperialistas dos Estados Unidos. 
Quando Mahamoud Ahmadinejad foi reeleito presidente do Irã os norte-americanos financiaram e chegaram a enviar mercenários – através de uma seita religiosa, prática comum deles, é só olhar como se construíram as igrejas neopentecostais no Brasil, por exemplo – para incentivar os protestos contra o presidente.
O povo russo está nas ruas protestando contra a volta de Putin ao poder.
Percebendo, cada dia mais, a farsa e o engodo que foi o fim da União Soviética. A tragédia que se abateu sobre a própria Rússia e as nações da antiga URSS.
Os riscos de virem a ser subjugados por um sistema político e assim anulados diante da ameaça terrorista/capitalista que paira sobre o mundo e se materializa na ação predadora de ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A.
Nações são dissolvidas e transformadas em conglomerados, inclusive Israel e os EUA.
Bancos, grandes corporações e latifúndio dominam a cena e impõem uma ordem cruel, perversa e bárbara.
Russos vão às ruas contra Putin não em busca de eleições que signifiquem um presidente dócil, mas o resgate dos valores políticos, econômicos e morais de uma grande nação.
O complexo terrorista acusa Putin, pois se lhes interessa um capacho como David Cameron, ou Ângela Merkel, ou Nicolás Sarkozy.
As declarações do “presidente” Obama chamando Israel de “aliado sacrossanto” têm apenas o sentido de buscar o voto sionista nas eleições presidenciais do final deste ano. Barack Obama é candidato à reeleição e sabe que seu governo não cumpriu à risca as determinações do complexo que controla o país.
Israel, por sua vez, aposta no quanto pior melhor para ampliar suas políticas terroristas em relação a palestinos – saque e genocídio –, controle do Oriente Médio através de ditaduras como no Egito –saiu Mubarak permanecem vários Mubarak fardados, aliás, Mubarak era general também –, ou na Arábia Saudita, intervenções criminosas como na Líbia, e agora a ação de mercenários na Síria, como aposta na alta vertiginosa dos preços do petróleo para forçar os EUA a uma guerra contra o Irã, sabendo que não podem vencê-la e precisam do “aliado sacrossanto”.
A “vitória” de Putin é uma bofetada no povo russo, uma nova ditadura se mostra clara e tão cruel como qualquer ditadura capitalista, mas desagrada ao complexo terrorista que controla o mundo “globalitarizado” – pela força das armas – que deseja o controle absoluto.
A China está longe de ser a ameaça que a Rússia ainda o é. O pragmatismo chinês elimina qualquer perspectiva de construção do comunismo. É capitalismo e o Partido Comunista Chinês e seus aliados mundo afora são empresas, corroídos pela escolha que fizeram. O risco de uma revolta popular na Rússia a médio prazo coloca ISRAEL/EUA TERRORISMO S/A em palpos de aranha. Daí porque a obsessiva política norte-americana de controle das antigas repúblicas soviéticas e dos países do leste europeu.
As ações de máfias, o tráfico de drogas, de mulheres, a lavagem de dinheiro de criminosos, isso não preocupa aos EUA, pois suas quadrilhas/empresas fazem os mesmo e o dinheiro dos mafiosos é guardado em bancos cristãos e ocidentais, inclusive o do Vaticano. É uma “preocupação” pró forma.
O que preocupa de fato são revoltas populares à medida que povos no mundo inteiro começam a perceber que o capitalismo é barbárie, é boçalidade.
Que trabalhadores continuam a ser as grandes vítimas desse sistema.
*Gilsonsampaio

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