Governo tirou anéis da canalha bancária, falta tirar os da Gang das Teles
Via SUL 21
Teles brasileiras lucram quase R$ 10 bi e oferecem serviço mais caro do mundo
Rachel Duarte
As
operadoras de telecomunicações fixas e móveis que atuam no Brasil
lucraram R$ 9,77 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento
de 8% em relação a 2010. Os dados foram divulgados pela empresa de
consultoria Econométrica e demonstram que o ramo da teles está em quinto
lugar em lucratividade no país, se excluídos os resultados da Petrobras
e Vale do Rio Doce. Esta projeção ainda deverá aumentar no próximo
período, já que o governo federal anunciou no começo de abril um
programa de desoneração fiscal na ordem de R 3,8 bilhões para a
construção de redes no Brasil. Com o hegemônico monopólio das operadoras
de telecomunicações, a desoneração proposta pelo Ministério das
Comunicações poderá não ser sinônimo de garantia de acesso e qualidade
dos serviços.
A desoneração se aplica para os
equipamentos comprados a cada ano. A expectativa do governo é que a
medida deve antecipar em aproximadamente 40% o investimento anual das
teles, que gira em torno de R$ 18 bilhões por ano.
Lucro
das operadoras de telecomunicações no Brasil em 2011 cresceu 8% em
relação a 2010. Clique na imagem para ampliar | Foto: Reprodução
Na
avaliação do especialista em Gerência em Engenharia de Software e
ex-presidente da Telebras, Rogério Santanna, a política do governo Dilma
Rousseff em priorizar a relação com as teles ao invés de fortalecer a
Telebras é clara e lamentável. “Está barato construir rede no Brasil.
Com a desoneração do governo os custos do backbone de banda
larga diminuem, mas o desafio são os monopólios. Essa medida
dificilmente repercutirá no preço aos usuários e ficaremos sustentando
matrizes em crise, como é o caso da Telefônica”, defende.
Rogério
Santanna: "As teles tem uma combinação extremamente desfavorável ao
usuário. É o serviço mais caro do mundo. Pagamos o dobro da média
mundial" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Na demanda
de infraestrutura de banda larga de qualidade as carências ainda são
muitas e há regiões do país muito mal atendidas, como a região Norte.
Mas, para uma infraestrutura adequada e a garantia de serviços de
qualidade, o Plano Nacional de Banda Larga é defendido por Santanna como
fundamental para estabelecer maior competitividade entre as operadoras e
aumentar a participação da Telebras. “As teles tem uma combinação
extremamente desfavorável ao usuário. É o serviço mais caro do mundo.
Pagamos o dobro da média mundial. E a prova de que os serviços não são
de qualidade é a liderança das operadoras nas reclamações dos
consumidores”, compara.
De acordo com
levantamento pela TeleSíntese, os valores das multas não pagas pelas
operadoras à Anatel por processos aplicados em defesa dos consumidores
chegam a superar o próprio lucro das empresas. A empresa OI, líder em
reclamações no Procon, por exemplo, deve à Anatel R$ 4,5 bilhões em
multas.
Controle de qualidade é questionável
Speedtest é obrigatório para todas as operadoras com mais de 50 mil clientes | Foto: Reprodução
Não
bastassem os problemas ocasionados pela desalinhada relação entre lucro
e serviço ofertado no mercado brasileiro de telecomunicações, desde
fevereiro deste ano, as operadoras foram obrigadas a oferecer um
aplicativo para medição da velocidade de acesso nas páginas que mantêm
na internet. A determinação se alinha à obrigatoriedade de as operadoras
de acesso à banda larga entregarem, em outubro deste ano, na média
mensal, 60% da velocidade contratada. Em outubro de 2013, essa média
deverá chegar a 70%, e a 80% um ano depois. Um avanço, para o devagar
quase parando atual, com uma das mensalidades mais caras do mundo. E, no
instante da medição, 20% do que foi adquirido (30% em 2013 e 40% em
2014).
A notícia seria uma medida considerada
boa pelos consumidores, se não houvesse incerteza quanto à capacidade de
o software escolhido pela Anatel, o SpeedTest, cumprir os requisitos
propostos pela agência. “É estranha a posição da Anatel em homologar
este teste, que avalia apenas dois parâmetros dos seis definidos por ela
mesma. Mais estranho ainda é a Anatel anunciar a Price como aferidora,
paga pela empresas e contrária aos padrões de qualidade da agência”,
critica Rogério Santanna.
*GilsonSampaio
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