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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 07, 2015

"Até quando vamos aceitar calados as agressões dos derrotados nas urnas, uma elite iletrada, egoísta, ignorante e preconceituos

Furtado sobre onda conservadora: Silenciar é ser cúmplice do fascismo

Em artigo publicado no Jornal GGN, o renomado diretor de cinema Jorge Furtado voltou a escrever sobre política para se manifestar contra o crescimento do fascismo. Ele cita agressões sofridas pelo ex-ministro Guido Mantega e as ameaças ao jornalista Jô Soares, após entrevista com a presidente Dilma Rousseff.


Cineasta Jorge Furtado também criticou a atuação da mídiaCineasta Jorge Furtado também criticou a atuação da mídia
"Até quando vamos aceitar calados as agressões dos derrotados nas urnas, uma elite iletrada, egoísta, ignorante e preconceituosa, que ficou 500 no poder e transformou o Brasil no país mais desigual do planeta?", questiona

Furtado afirmou que esperava que os derrotados das eleições deixassem passar os primeiros meses do novo governo para cobrar resultados, mas, no entanto, a oposição aumentou a grosseria das críticas. "Muitos pregam em voz alta, sem qualquer pudor, a volta da ditadura militar ou qualquer outro golpe que lhes devolva o poder que perderam nas urnas", aponta.

"A história ensina que os inimigos da democracia se utilizam da frustração e dos anseios legítimos da sociedade, das pessoas de boa fé, para chegar ao poder, e então passam a exercê-lo com tirania, perseguindo minorias, promovendo a intolerância e a violência. E aí é tarde demais para combatê-los pacificamente", explica ele, revelando o atual momento político do país.

Para ele, o perfil do atual Congresso é uma vergonha para o Brasil. "Não é possível ficar quieto quando o congresso é dominados pelo que há de pior na sociedade brasileira, bandidos e falsos pastores, achacadores em nome de Cristo, picaretas envolvidos em todo tipo de falactrua, legislando em causa própria, manobrando votações, chantageando empresários para garantir seu butim, promovendo cultos religiosos no plenário, fomentando a homofobia e a ignorância. O atual congresso brasileiro, comandado por Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ambos investigados por uma dúzia de crimes e toda sorte de imoralidades, é uma vergonha para o país", disse.

Ele também critica a postura de Gilmar Mendes, ministro do Superior Tribunal Federa, que retém a decisão sobre o financiamento privado de campanha. "Uma única pessoa sem um único voto, por uma manobra rasteira, mantenha engavetado, por mais de um ano, um projeto de mudança da legislação eleitoral já aprovado pela maioria dos juízes, projeto este que, se não impede, dificulta em muito a roubalheira nas eleições e na política".

Jorge Furtado ressaltou ainda que a imprensa "tornou-se irrelevante quando abriu mão de fazer jornalismo para fazer oposição partidária".

"É constrangedor ver jornalistas ou similares pensando exatamente como seus patrões mandam. Talvez pela profunda crise que o setor atravessa, com jornais e audiências minguando, velhos jornalistas e jovens sedentos de poder e fama se agarrem aos seus empregos com unhas e dentes, repetindo bobagens até a náusea. A verdade não agrada o patrão? Esqueça! O bandido disse que também deu dinheiro aos tucanos? Ignore! O patrão esconde dinheiro na Suíça e sonega fiscais para não pagar impostos? Não é comigo! O mensalão foi criado para eleger o presidente do PSDB? Concentre-se no plágio petista! A acusação contra um petista não faz sentido? O que importa? A antiga imprensa, que já estava seriamente ameaçada por conta da revolução digital, acelerou seu caminho para o fim abrindo mão do princípio básico do jornalismo: a defesa da verdade factual. Quando a história da antiga imprensa brasileira for contada descobriremos que ela não morreu, suicidou-se", salientou.

Furtado também falou sobre a onda fascista de agressões como as sofridas pelo ex-ministro Guido Mantega e o apresentador Jô Soares. "Pela segunda vez, imbecis agrediram o ex-ministro Mantega num restaurante. Outro dia foi num avião, um jornalista - sozinho - que lia uma revista, foi atacado por um punhado de trogloditas. Jô Soares foi ameaçado de morte por entrevistar a presidente da república, eleita democraticamente. Os sinais de intolerância crescem, tornam-se mais frequentes e mais violentos, é de se esperar que a ignorância dos mal informados covardes que andam em bando logo produza vítimas. Silenciar é ser cúmplice deste fascismo crescente", defendeu.

O cineasta destaca as mudanças vividas pelo país nos últimos anos. "Votei no Lula e na Dilma na esperança de promover a inserção social, a melhor distribuição de renda, para garantir a geração de empregos, o acesso dos filhos dos trabalhadores às universidades, na esperança de melhorar a vida dos mais pobres, para ver a corrupção ser investigada e punida. Tudo isso aconteceu, menos do que eu esperava, porém mais do que nunca. 40 milhões de pessoas passaram a ter uma vida mais digna, a fome foi praticamente erradicada, os níveis de emprego se mantém altos, milhares de jovens passaram a ter acesso ao ensino superior, a mortalidade infantil no Brasil caiu pela metade".

"Felizmente - talvez pela cretinice evidente dos seus apoiadores na mídia - a direita brasileira tem perdido eleições com agradável regularidade, foram quatro, em dois turnos, nos últimos 13 anos. Oito vezes o povo brasileiro foi às urnas dizer não à intolerância, ao egoísmo e a hipocrisia. Espero que eles percam outra vez em 2018, mas se até lá o PT não se livrar desta direita truculenta, homofóbica, picareta e ignorante, pode até ganhar as eleições, mas não terá mais o meu voto", finaliza.


Do Portal Vermelho, com informações do Jornal GGN

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