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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, julho 06, 2015

PF investiga contratos da Globo com a CBF

Por José Antonio Lima, na Carta Capital

A Polícia Federal está investigando os contratos entre aConfederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro há décadas. A informação é do portal UOL.

De acordo com a reportagem, não pesam suspeitas sobre a Globo, mas o "escrutínio de especialistas da PF" é parte da colaboração da PF do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, e outras autoridades estrangeiras que apuram casos de corrupção na administração do futebol mundial. A PF deseja entender, diz o site, quais são as regras do relacionamento entre a CBF e a Globo.

A investigação sobre a corrupção na Fifa e em outras entidades futebolísticas foi tornada público pelo FBI em maio. Entre os presos está José Maria Marin, ex-presidente da CBF, que estaria ligado a ao menos dois esquemas, envolvendo os direitos de transmissão da Copa América e da Copa do Brasil, campeonato anual de clubes brasileiros.

Segundo a acusação das autoridades norte-americanas, a Traffic, empresa de marketing esportivo do empresário brasileiro J. Hawilla, pagava como suborno a Marin e a outros dois dirigentes da CBF dois milhões de reais por ano pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil. A Traffic, então, revendia esses direitos para emissoras brasileiras.

Um desses dirigentes era, provavelmente,Ricardo Teixeira. Por décadas, ele coordenou por parte da CBF a aliança com a Globo. No caso específico do Campeonato Brasileiro, que não está sob investigação do FBI pelo que se sabe até aqui, não havia uma empresa intermediária como a Traffic. Por anos, a CBF organizava a competição e a própria Globo comprava diretamente os direitos de transmissão, junto ao Clube dos 13, entidade que reunia diversos clubes do futebol brasileiro.

O fim do Clube dos 13

Como lembra a reportagem do UOL, em 2011, a Globo parou de comprar os direitos do Clube dos 13 e passou a negociar diretamente com os clubes. A nova prática teve início por conta de uma decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que considerou irregular a preferência dada à Globo.

O conselho determinou a realização de uma licitação por parte do Clube dos 13 para a venda dos direitos de transmissão do campeonato, mas a concorrência, na qual Record e Rede TV! manifestaram interesse, acabou não tendo efeito prático. Isso ocorreu porque o Clube dos 13 rachou e acabou fechando as portas.

A cisão se deu por conta de uma disputa entre as agremiações que defendiam a Globo, como a CBF desejava, e as que planejavam contratos com outras emissoras.

O grupo anti-Globo não teve sucesso justamente por conta de uma ação conjunta entre a emissora e a entidade. De um lado, a Globo passou a emprestar dinheiro diretamente para os clubes, por meio do adiantamento de cotas de tevê, e de outro estabeleceu as negociações diretas com eles, fragilizando a coesão do Clube dos 13.

De outro lado, a CBF passou a tentar implodir o Clube dos 13, objetivo que Ricardo Teixeira buscava desde 2010. Naquele ano, Teixeira reconheceu uma série de títulos que permaneceram sob disputa por anos, como a Taça Brasil, a Taça Roberto Gomes Pedrosae a Copa União, para tentar atrair clubes para sua esfera de influência. Em 2011, empenhado em garantir a vitória da Globo na disputa, Teixeira reforçou a ofensiva e deu seu golpe final ao manobrar pela saída do Corinthians do grupo.

Então presidido por Andrés Sanchez, hoje deputado federal pelo PT-SP, o clube paulista conseguiu um bom contrato com a Globo e também a possibilidade de construir um estádio próprio. Erguido pela Odebrecht, com intermediação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o estádio do Corinthians substituiu o Morumbi como sede da cidade de São Paulo na Copa do Mundo de 2014. Pertencente ao São Paulo, clube que naquele momento fazia oposição a Teixeira, o Morumbi foi descartado como sede da Copa pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, então presidido pelo próprio Ricardo Teixeira.

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