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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, julho 26, 2010

O aviso de Hugo Chávez


Vai passando batido um processo que se desenvolve no nosso quintal e que pode envolver bem mais do que se está suspeitando. O conflito entre Colômbia e Venezuela pode ser bem mais do que mera escalada retórica de Hugo Chávez, apresentada pela mídia brasileira como apenas mais uma manifestação de sua excentricidade.

A ruptura de relações diplomáticas por iniciativa de Chávez após novas denúncias do retirante governo de Álvaro Uribe sobre relações do homólogo venezuelano com as Farc coincide (?) com os ataques do índio de Serra e da mídia ao PT.

Na Folha de São Paulo dominical, extensa reportagem dando conta de uma grave situação econômica na Venezuela e, ao fim do domingo, os portais brasileiros noticiam que Chávez suspendeu viagem que faria a Cuba por suspeita de um suposto ataque iminente da Colômbia ao território venezuelano através do estado Zulia, governado pela oposição.

De início, fiquei com a impressão de que Chávez subira o tom contra a Colômbia e cortara relações com o país vizinho apenas como resposta às suas denúncias sobre as Farc, mas ataques à esquerda tendo como pretexto a guerrilha colombiana estranhamente vêm se espraiando também pelo nosso noticiário…

Em seu blog, Chávez denuncia que recebeu carta de um amigo que “vagueia pelos Estados Unidos” e que o avisou de que as Farc serão usadas como pretexto para uma invasão do território venezuelano por forças colombianas apoiadas por Washington, e ameaçou cortar o fornecimento de petróleo aos americanos em caso de agressão do país vizinho.

As relações entre o PIG venezuelano e o brasileiro vêm se estreitando desde a tentativa de golpe contra Chávez em 2002. De lá para cá, a mídia brasileira – Globo à frente – vem repercutindo, ipsis litteris, a retórica de Marcel Garnier (ex-proprietário da extinta televisão venezuelana RCTV), Pedro Carmona (presidente biônico e efêmero alçado ao poder pelos golpistas venezuelanos em 2002) e companhia limitada.

A pergunta que fica é se o uso das Farc pela coalizão tucano-pefelê-midiática contra o PT simultaneamente ao uso da mesma estratégia contra Chávez é apenas coincidência ou se faz parte de algum tipo de estratégia supranacional da direita que pode não se resumir somente a ataques verbais, como o escaldado Chávez vem alertando.

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