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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, julho 31, 2010

Wikileaks: cortina de fumaça política?






Os documentos militares no Wikileaks: cortina de fumaça?

Por carloslbf

Posto este Comunicado de la Red Voltaire sobre o episódio dos documentos militares revelados pelo Wikileaks - seria uma distração, uma cortina de fumaça? Com que objetivos?


Comunicado da Rede Voltaire (29 de julio de 2010)

Wikileaks: cortina de fumaça política?

O site Wikileaks entregou há várias semanas uma série de documentos militares de caráter confidencial a três veículos de imprensa (The New York Times, The Guardian y Der Spiegel) para que pudessem examiná-los antes de publicar-los.

Em 25 de julho de 2010, o site publicou os 92.000 documentos originais e os três jornais mencionados publicaram simultaneamente seus próprios artigos. Trata-se do maior vazamento de documentos militares em toda a história.

Estes documentos foram utilizados pelas tropas envolvidas no Afeganistão. Alguns são relatos de combate, outros contêm relatórios de inteligência. O seu nível de confiabilidade não é alto (o que significa que passaram por muitas mãos), mas seu número é bastante elevado (o que implica em poucas pessoas com potencial de reuni-los). Sua autenticidade não está sendo questionada. A imprensa internacional e muitos líderes mundiais comentaram sobre as conclusões dos três jornais, considerando que tratam-se de informações seguras.

Nossos detratores esperam que a Rede Voltaire congratule-se com esses vazamentos e explore esses documentos contra as forças norteamericanas, para acusá-las de crimes e incompetência. Nós não vamos fazer nada disso.

Tudo indica que esses vazamentos foram organizados por um setor do aparato norteamericano que deseja impor seus próprios pontos de vista simultaneamente à destituição do general McChrystal pelo presidente Obama. E o fato de que este último parou de realizar qualquer investigação interna destinada a identificar a fonte dos vazamentos mostra que ele próprio conhece sua origem, que não quer enfrentá-la e que a aprova.

Estes documentos não descrevem a realidade no terreno, mas constituem um testemunho do grau de auto-envenenamento das forças americanas. Os relatos de inteligência afegãos, nas quais se baseam as operações das tropas da aliança no Afeganistão apenas relatam fofocas tão estúpidas, que não se pode deixar de perguntar como é possível que esses informantes tenham sido recrutados. É particularmente ridículo apresentar um oficial paquistanês de 74 anos, o general aposentado Hamid Gul, como o manipulador oculto dos insurgentes e único responsável pelo fracasso militar da OTAN.

Não nos surpreende que os três jornais escolhidos, conhecidos por seu alinhamento cego com o bloco do atlântico, estejam participando de uma operação de distração cujo objetivo é criticar um general que acaba de ser destituído para justificar as responsabilidades políticas desta catástrofe humana.

Em qualquer caso, é preocupante a unanimidade da grande mídia, que vem repetindo constantemente ao longo de anos as mentiras de Washington.

A guerra do Afeganistão é ilegal. Independente de gostarmos deles ou não, os insurgentes exercem seu direito fundamental e legítimo em defender o próprio país contra a ocupação estrangeira. Quando se fala de crimes não se trata apenas dos excessos cometidos por esta ou aquela unidade militar, mas de todas as operações que estão sendo desenvolvidas nesse país e da presença em si das tropas estrangeiras.

A pedido de muitos leitores, a Rede Voltaire acredita que é importante situar o debate em seu verdadeiro contexto. A Rede Voltaire denuncia, por meio desta, uma manobra de distração midiática e reafirma que a guerra no Afeganistão é ilegal.

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