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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 29, 2010

A voz de um bom Judeu que é proibido de entrar em israel a Ditadura








A América Latina é o lugar mais estimulante do mundo: Chomsky

A América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo, diz Noam Chomsky. Há aqui uma resistência real ao império; não existem muitas regiões das quais se possa afirmar o mesmo.

Entrevistado por La Jornada, um dos intelectuais dissidentes mais relevantes do nosso tempo assinala que a esperança na mudança anunciada por Barack Obama é uma ilusão, já que são as instituições e não os indivíduos que determinam o rumo da política. No máximo, o que o mandatário representa é uma viragem da extrema-direita para o centro da política tradicional estadunidense.

Presente no México para celebrar os 25 anos de La Jornada, o autor de mais de cem livros, o linguista, crítico anti-imperialista, analista do papel desempenhado pelos meios de comunicação na fabricação do consenso, explica como a guerra às drogas se iniciou nos Estados Unidos como parte de uma ofensiva conservadora contra a revolução cultural e a oposição à invasão do Vietname.



Seguidamente, apresentamos a transcrição completa das suas declarações.

A América Latina é hoje o lugar mais estimulante do mundo. Pela primeira vez em 500 anos há movimentos para uma verdadeira independência e separação do mundo imperial; estão a integrar-se países que historicamente têm estado separados. Esta integração é um pré-requisito para a independência. Historicamente, os Estados Unidos derrocaram um governo após outro; agora já não podem fazê-lo.

O Brasil é um exemplo interessante. Em princípios dos anos 60, os programas de [João] Goulart não eram tão diferentes dos de [Luiz Inácio] Lula. Naquele caso, o governo de [John F.] Kennedy organizou um golpe de Estado militar. Assim, o Estado de segurança nacional propagou-se por toda a região como uma praga. Hoje em dia, Lula é o bom rapaz, a quem estão a tratar de cultivar, em reacção aos governos mais militantes na região. Nos Estados Unidos não são publicados os comentários de Lula favoráveis a [Hugo] Chávez ou a Evo Morales. São silenciados porque não são o modelo.

Há um movimento para a unificação regional: começam a formar-se instituições que, embora não funcionem de todo, começam a existir. É o caso do Mercosul e da Unasul.

Outro caso notável na região é o da Bolívia. Depois do referendo houve uma grande vitória, e também uma sublevação bastante violenta nas províncias da Meia Lua, onde estão os governadores tradicionais, brancos. Um par de dezenas de pessoas morreram. Houve uma reunião regional em Santiago do Chile onde se expressou um grande apoio a Morales e uma firme condenação da violência, e Morales respondeu com uma declaração importante. Disse que era a primeira vez na história da América Latina, desde a conquista europeia, em que os povos tinham tomado o destino dos seus países nas suas próprias mãos sem o controle de um poder estrangeiro, ou seja, Washington. Essa declaração não foi publicada nos Estados Unidos.

A América Central está traumatizada pelo terror reaganiano. Não é muito o que ali sucede. Os Estados Unidos continuam a tolerar o golpe militar nas Honduras, embora seja significativo que não o possam apoiar abertamente.

Outra mudança, ainda que atropelada, é a superação da verdadeira patologia da América Latina, provavelmente a região mais desigual do mundo. Trata-se de uma região muito rica, sempre governada por uma pequena elite europeizada, que não assume nenhuma responsabilidade para com o resto dos seus respectivos países. Pode constatar-se em coisas muito simples, como o fluxo internacional de capital e bens. Na América Latina, a fuga de capitais é quase igual à da dívida. O contraste com a Ásia oriental é muito impactante. Aquela região, muito mais pobre, teve muito mais desenvolvimento económico substantivo, e os ricos estão sob controle. Não há fuga de capitais; na Coreia do Sul, por exemplo, castiga-se com a pena de morte. O desenvolvimento económico lá é relativamente igualitário.

CONTROLE DEBILITADO

Havia duas formas tradicionais com as quais os Estados Unidos controlava a América Latina. Uma era o uso da violência; a outra, o estrangulamento económico. Ambas foram debilitadas.

Os controles económicos são agora mais débeis. Vários países libertaram-se do Fundo Monetário Internacional através da colaboração. Também foram diversificadas acções entre o sul, no que a relação do Brasil com a África do Sul e a China entrou como factor. Puderam enfrentar alguns problemas internos sem a poderosa intervenção dos Estados Unidos.

A violência não acabou. Houve três golpes de estado no que vai deste século. O venezuelano, abertamente apoiado pelos Estados Unidos, foi revertido, e agora Washington tem que recorrer a outros meios para subverter o governo, entre eles ataques mediáticos e apoio a grupos dissidentes. O segundo foi no Haiti, onde França e os Estados Unidos retiraram o governo e enviaram o presidente para a África do Sul. O terceiro é o das Honduras, que é um caso misto. A Organização de Estados Americanos assumiu uma postura firme e a Casa Branca teve que segui-la, e proceder muito lentamente. O FMI acaba de outorgar um enorme empréstimo às Honduras, que substitui a redução de assistência estadunidense. No passado, estes eram assuntos rotineiros. Agora, essas medidas (a violência e o estrangulamento económico) foram debilitadas.

Os Estados Unidos estão a reagir e têm dado passos para remilitarizar a região. A Quarta Frota, dedicada à América Latina, tinha sido desmantelada nos anos 50, mas está a ser reabilitada, e as bases militares na Colômbia são um assunto importante.

A ILUSÃO DE OBAMA

A eleição de Barack Obama gerou grandes expectativas de mudança para a América Latina. Mas são só ilusões.

Sim, há uma mudança, mas a viragem é porque o governo de Bush foi tão ao extremo do espectro político estadunidense que quase qualquer um se teria movido para o centro. Aliás, o próprio Bush, no seu segundo mandato, foi menos extremista. Desfez-se de alguns dos seus colaboradores mais arrogantes e as suas políticas foram mais moderadamente centristas. E Obama, de forma previsível, continua com esta tendência.

Virou para a posição tradicional. Mas qual é essa tradição? Kennedy, por exemplo, foi um dos presidentes mais violentos do pós-guerra. Woodrow Wilson foi o maior intervencionista do século XX. O centro não é pacifista nem tolerante. De facto, Wilson foi quem se apoderou da Venezuela, expulsando os ingleses, porque tinha sido descoberto petróleo. Apoiou um ditador brutal. E dali continuou com o Haiti e a República Dominicana. Enviou os marines e praticamente destruiu o Haiti. Nesses países deixou guardas nacionais e ditadores brutais. Kennedy fez o mesmo. Obama é um regresso ao centro.

É o mesmo com o tema de Cuba, onde durante mais de meio século os Estados Unidos se envolveram numa guerra, desde que a ilha ganhou a sua independência. No princípio, esta guerra foi bastante violenta, especialmente com Kennedy, quando houve terrorismo e estrangulamento económico, ao qual se opõe a maioria da população estadunidense. Durante décadas, quase dois terços da população esteve a favor da normalização das relações, mas isso não está na agenda política.

As manobras de Obama foram para o centro; suspendeu algumas das medidas mais extremas do modelo de Bush, e até foi apoiado por boa parte da comunidade cubano-estadunidense. Moveu-se um pouco para o centro, mas deixou muito claro que não haverá mudanças.

AS “REFORMAS” DE OBAMA

O mesmo sucede na política interna. Os assessores de Obama durante a campanha foram muito cuidadosos em não o deixar comprometer-se com nada. As palavras de ordem foram «a esperança» e «a mudança, uma mudança em que acreditar». Qualquer agência de publicidade sensata teria feito com que essas fossem as palavras de ordem, pois 80 por cento do país pensava que este seguia pelo carril errado. McCain dizia coisas parecidas, mas Obama era mais agradável, mais fácil de vender como produto. As campanhas são apenas assuntos de mercadotecnia, assim se entendem a si mesmas. Estavam a vender a “marca Obama” em oposição à “marca McCain”. É dramático ver essas ilusões, tanto fora como dentro dos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, quase todas as promessas feitas no âmbito da reforma laboral, de saúde, de energéticos, ficaram quase anuladas. Por exemplo, o sistema de saúde é uma catástrofe. Trata-se provavelmente do único país no mundo no qual não há uma garantia básica de cuidados médicos. Os custos são astronómicos, quase o dobro de qualquer outro país industrializado. Qualquer pessoa que tenha a cabeça no lugar sabe que é a consequência de se tratar de um sistema de saúde privado. As empresas não procuram saúde, estão aí para obter lucros.

Trata-se de um sistema altamente burocratizado, com muita supervisão, altíssimos custos administrativos, onde as companhias de seguros têm formas sofisticadas de evadir o pagamento das apólices, mas não há nada na agenda de Obama para fazer algo a esse respeito. Houve algumas propostas light, como por exemplo “a opção pública”, mas ficou anulada. Se lermos a imprensa de negócios, descobrimos que a manchete da Business Week reportava que as seguradoras celebravam a sua vitória.

Foram realizadas campanhas com muito êxito contra esta reforma, organizadas pelos meios de comunicação e pela indústria para mobilizar segmentos extremistas da população. Trata-se de um país no qual é fácil mobilizar as pessoas com o medo, e inculcar-lhes todo o tipo de ideias loucas, como que Obama lhe vai matar a avó. Assim conseguiram reverter propostas legislativas já por si débeis. Se na verdade tivesse havido um verdadeiro compromisso no Congresso e na Casa Branca, isto não teria singrado, mas os políticos estavam mais ou menos de acordo.

Obama acaba de fazer um acordo secreto com as companhias farmacêuticas para lhes assegurar que não haverá esforços governamentais para regular o preço dos medicamentos. Os Estados Unidos são o único país no mundo ocidental que não permite que o governo use o seu poder de compra para negociar o preço dos medicamentos. 85 por cento da população opõe-se, mas isso não implica diferença alguma, até que todos vejam que não são os únicos que se opõem a estas medidas.

A indústria petrolífera anunciou que vai utilizar as mesmas tácticas para derrotar qualquer projecto legislativo de reforma energética. Se os Estados Unidos não implantarem controles firmes sobre as emissões de dióxido de carbono, o aquecimento global destruirá a civilização moderna.

O diário Financial Times assinalou com razão que, se havia uma esperança de que Obama pudesse ter mudado as coisas, agora seria surpreendente que cumprisse de facto com o mínimo das suas promessas. A razão é que não queria mudar tanto as coisas. Trata-se de uma criatura daqueles que financiaram a sua campanha: as instituições financeiras, as energéticas, as empresas. Tem a aparência de bom tipo, seria um bom acompanhante de jantar, mas isso não permite mudar a política; afecta-a um pouco. Sim, há mudança, mas é um pouco mais suave. A política provém das instituições, não é feita por indivíduos. As instituições são muito estáveis e muito poderosas. Evidentemente, encontram a forma de enfrentar o que acontece.

MAIS DO MESMO

Os meios de comunicação estão um pouco surpreendidos de que se esteja a regressar onde sempre se esteve. Relatam-no, é difícil não o fazer, mas o facto é que as instituições financeiras gabam-se de que tudo está a ficar como antes. Ganharam. A Goldman Sachs nem sequer tenta ocultar que, depois de ter afundado a economia, está a entregar suculentos prémios aos seus executivos. Creio que no trimestre passado acabou de anunciar os ganhos mais altos da sua história. Se fossem um pouquinho mais inteligentes, tentá-lo-iam ocultar.

Isto deve-se ao facto de que Obama está a responder àqueles que apoiaram a sua campanha: o sector financeiro. Basta olhar para aqueles que escolheu para a sua equipa económica. O seu primeiro assessor foi Robert Rubin, o responsável pela derrogação de uma lei que regulava o sector financeiro, o que beneficiou muito a Goldman Sachs; além disso, tornou-se no director do Citigroup, fez uma fortuna e saiu justamente a tempo. Larry Summers, que foi a principal figura responsável por travar toda a regulação dos instrumentos financeiros exóticos, é agora o principal assessor económico da Casa Branca. E Timothy Geithner, que como presidente da Reserva Federal de Nova Iorque supervisionava o que acontecia, é secretário do Tesouro.

Numa reportagem recente foram examinados alguns dos principais assessores económicos de Obama. Concluiu-se que grande parte deles não deveriam estar na equipa de assessoria, mas a enfrentar acções legais, porque estiveram envolvidos em má gestão na contabilidade e noutros assuntos que detonaram a crise.

Por quanto tempo se podem manter as ilusões? Os bancos estão agora melhor que antes. Primeiro receberam um enorme resgate do governo e dos contribuintes, e utilizaram-no para se fortalecerem. São maiores que nunca; absorveram os fracos. Ou seja, está a assentar-se a base para a próxima crise. Os grandes bancos estão beneficiar de uma apólice de seguros do governo, que se chama “demasiado grande para falir”. Se se é um banco enorme ou uma casa de investimentos importante, é-se demasiado importante para fracassar. Se se é a Goldman Sachs ou o Citigroup, não se pode fracassar porque isso derrubaria toda a economia. Por isso, podem fazer empréstimos arriscados, para ganhar muito dinheiro, e, se alguma coisa falhar, o governo resgata-os.

A GUERRA CONTRA O NARCO

A guerra contra a droga, que dilacera vários países da América Latina, entre os quais se encontra o México, tem velhos antecedentes. Revitalizada por Nixon, foi um esforço para superar os efeitos da guerra do Vietname nos Estados Unidos.

A guerra foi um factor que levou a uma importante revolução cultural nos anos 60, a qual civilizou o país: direitos da mulher, direitos civis. Ou seja, democratizou o território, aterrorizando as elites. A última coisa que desejavam era a democracia, os direitos da população, etc., de modo que lançaram uma enorme contra-ofensiva. Parte dela foi a guerra contra as drogas.

Esta foi projectada para transladar a concepção da guerra do Vietname, do que nós estávamos a fazer aos vietnamitas, para o que eles nos estavam a fazer a nós. O grande tema no final dos anos 60 nos meios de comunicação, incluindo os liberais, foi que a guerra do Vietname foi uma guerra contra o Estados Unidos. Os vietnamitas estavam a destruir o nosso país com drogas. Foi um mito fabricado pelos meios de comunicação nos filmes e na imprensa. Inventou-se a história de um exército cheio de soldados viciados em drogas que, ao regressar, se transformariam em delinquentes e aterrorizariam as nossas cidades. Sim, havia uso de drogas entre os militares, mas não era muito diferente do que existia noutros sectores da sociedade. Foi um mito fabricado. Disso se tratava a guerra contra as drogas. Assim foi mudada a concepção da guerra do Vietname para uma na qual nós éramos as vítimas.

Isso encaixou muito bem nas campanhas a favor da lei e da ordem. Dizia-se que as nossas cidades se dilaceravam com o movimento antibélico e os rebeldes culturais, e que por isso tínhamos que impor a lei e a ordem. Aí cabia a guerra contra a droga.

Reagan ampliou-a de forma significativa. Nos primeiros anos da sua administração intensificou-se a campanha, acusando os comunistas de promover o consumo de drogas.

A princípios dos anos 80, os funcionários que levavam a sério a guerra contra as drogas descobriram um aumento significativo e inexplicável de fundos em bancos do sul da Flórida. Lançaram uma campanha para detê-lo. A Casa Branca interveio e suspendeu a campanha. Quem o fez foi George Bush pai, nesse tempo encarregado da guerra contra as drogas. Foi quando a taxa de encarceramento aumentou de forma significativa, em grande parte com presos negros. Agora, o número de prisioneiros per capita é o mais alto do mundo. No entanto, a taxa de criminalidade é quase igual à de outros países. Trata-se de um controle sobre parte da população. Trata-se de um assunto de classe.

A guerra contra as drogas, como outras políticas, promovidas tanto por liberais como por conservadores, é uma tentativa para controlar a democratização de forças sociais.

Há alguns dias, o Departamento de Estado de Obama emitiu o seu certificado de cooperação na luta contra as drogas. Os três países que foram “descertificados” são Mianmar, uma ditadura militar – não importa, é apoiada por empresas petrolíferas ocidentais –, a Venezuela e a Bolívia, que são inimigos dos Estados Unidos. Nem o México, nem a Colômbia, nem os Estados Unidos, em todos os quais há narcotráfico.

UM LUGAR INTERESSANTE

O elemento central do neoliberalismo é a liberalização dos mercados financeiros, o que torna vulneráveis os países que têm investidores estrangeiros. Se um país não pode controlar a sua moeda e a fuga de capitais, está sob controle dos investidores estrangeiros. Podem destruir uma economia se não lhes agradar o que este país faz. Essa é outra forma de controlar povos e forças sociais, como os movimentos operários. São reacções naturais de um empresariado muito concentrado, com grande consciência de classe. Claro que há resistência, mas fragmentada e pouco organizada, e por isso podem continuar a promover políticas às quais se opõe a maioria da população. Por vezes, isto chega ao extremo.

O sector financeiro está como antes; as seguradoras de saúde ganharam com a reforma sanitária, as empresas energéticas ganharão com a reforma energética, os sindicatos perderam com a reforma laboral e, evidentemente, a população dos Estados Unidos e a do mundo perdem porque por si só a destruição da economia é grave. Se o meio ambiente for destruído, aqueles que deveras sofrerão são os pobres. Os ricos sobreviverão aos efeitos do aquecimento global.

Por isso a América Latina é um dos lugares verdadeiramente interessantes. É um dos locais nos quais há verdadeira resistência a tudo isto. Até onde chegará? Não se sabe. Não me surpreenderia que haja uma viragem à direita nas próximas eleições na América do Sul. Ainda assim, conseguiu-se um avanço que assenta as bases para algo mais. Não há muitos lugares no mundo dos quais se possa dizer o mesmo.


Fonte: Publicado no dia 21 de Setembro de 2009 em La Jornada


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