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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 25, 2010

PADRE EUNUCO OU FIM DO CELIBATO






Missas de manhã, boates gays à noite

Padres teriam vida dupla em Roma

Le notti brave dei preti gay: una grande inchiesta in edicola con Panorama

Le notti brave dei preti gay: una grande inchiesta in edicola con Panorama



ROMA. A diocese de Roma fez um apelo para que sacerdotes que levam uma vida dupla abandonem a vida religiosa.

Num comunicado, a Igreja garantiu estar disposta a reagir com vigor diante de novas denúncias de qualquer conduta indigna da vida sacerdotal — numa reação ao polêmico artigo publicado ontem pela revista italiana “Panorama”, que denuncia a vida dupla de vários padres homossexuais na capital italiana.

“Aqueles que têm uma vida dupla não entendem o que é o sacerdócio católico.

Ninguém os obriga a continuar sendo sacerdotes e a aproveitar as vantagens de sê-lo. Em nome da coerência, deveriam confessar o que fazem. Não queremos causar-lhes danos, mas não podemos permitir que sua conduta desonre todos os demais”, afirma o texto.

De tendência conservadora, a “Panorama” chocou a Itália ao publicar a reportagem titulada “As noites selvagens dos padres gays”, na qual religiosos admitem levar uma vida dupla: rezando missas de manhã e frequentando festas gays à noite.

Durante 20 dias, o repórter Carmello Abate percorreu bares e discotecas gays de Roma. Com uma câmera escondida, documentou o comportamento dos sacerdotes, inclusive durante relações sexuais. Um dos padres, um francês identificado como Paul, contou ter celebrado a missa na mesma manhã, pouco antes de dar carona a dois garotos de programa que contratara para ir a uma festa na noite anterior.

A reportagem traz fotos e declarações de sacerdotes e seminaristas cuja identidade foi mantida em sigilo.

Segundo o artigo, um dos pontos de encontro dos padres homossexuais seria a discoteca Gay Village, onde um seminarista teria declarado que “a Igreja pesca os próprios filhos no ambiente homossexual”.

O Vaticano insiste que a maioria dos 1.300 padres de Roma são fiéis à vocação e um “modelo de moralidade para todos”.

Postado por Luis Favre

Recato e depravação

Agruras e prazeres num paraíso tropical à mercê da Inquisição

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Autor da certidão de nascimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha não se encantou apenas com os dotes da natureza, como o solo fértil ou as águas infinitas.

O escrivão português dedicou algumas linhas à nudez das índias, que “de (…) muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. Morria ali, no berço, qualquer chance de que a nova colônia lusitana fosse conhecida como uma terra de pudores. A liberdade sexual deu o tom de todo o século XVI, surpreendendo até o temido Tribunal da Santa Inquisição, segundo pesquisa do Núcleo de Estudos da Sexualidade (Nusex), da Universidade Estadual Paulista.

O grupo elabora uma historiografia da vida sexual do brasileiro, buscando na Colônia a origem de hábitos e preconceitos que permanecem até hoje .

No século XVI, a falta de recato da nova colônia fez corar até um enviado da Igreja acostumado a ouvir barbaridades.

Visitador da Inquisição no Nordeste em 1591, onde ficou por quatro anos, o padre Heitor Furtado de Mendoça veio à Colônia com a missão de vigiar os cristãos-novos, acusados de se aproveitarem da distância da Europa para abraçar novamente os ritos judaicos — um crime conhecido como apostasia. Entre as confissões coletadas, no entanto, destacaram-se aquelas envolvendo práticas sexuais condenadas pelo catolicismo.

— O século XVI foi marcado pela ambivalência sexual — avalia o psicólogo Paulo Rennes, coordenador do Nusex, co-autor dos estudos com as pesquisadoras Shirley Romera e Anne Caroline Scalia. — Ao mesmo tempo em que se fazia muito sexo, a Igreja aumentava o controle e as normas proibitivas.

O povo queria satisfazer o desejo, e o fazia com muita intensidade, mas vivia com o medo de ser punido ao transgredir as regras católicas. A introjeção da culpa e do pecado levou muito tempo para se cristalizar, e nos anos 1500 este caminho ainda estava sendo trilhado. Principalmente no Brasil, onde, com a distância da metrópole, houve flexibilização das atitudes e do comportamento sexual muito maior do que a religião desejaria.

Fogueira não inibia poligamia O explorador português, senhor de tantas terras, já não era estranho ao conceito de miscigenação. Uma inicial condenação a índias nuas passava rapidamente à tolerância. Conquistá-las era, inclusive, uma questão estratégica: unir-se a uma mulher garantia a fidelidade de toda a sua família — algo bem-vindo para o marido branco, entre tribos hostis.

A poligamia era popular entre os colonos — muitos já casados na metrópole. Os portugueses não escondiam uma certa admiração por seus inimigos tupinambás, que tinham até 14 mulheres. Quando cansavam de uma, a davam de presente para alguém.

A tribo era, também, uma notória adepta da sodomia. Essa prática merecia condenação enfática da Igreja.

Foi, de fato, um século masculino.

Os homens escolhiam com quem teriam relações.

As índias usufruíam de situação semelhante, embora fossem dominadas pelo pretendente.

As negras, escravizadas, não tinham opção.

As mulheres brancas, ainda em baixo contingente, cambaleavam entre manifestações de força e fragilidade.

Diversas mandaram cegar as amantes do marido. Mas, de frente para o homem, apelavam a uma simpatia para evitar humilhações: durante o sexo, proferiam, em latim, as mesmas palavras com que os padres ofereciam a hóstia. Assim, segundo a crença, impediriam os maus-tratos.

O padre Heitor Furtado de Mendoça viajou pelos atuais estados de Bahia, Pernambuco e Paraíba e escreveu nove livros. Rennes e sua equipe do Nusex tiveram acesso a dois: Confissões de Pernambuco e Confissões da Bahia. Dos 183 depoimentos anotados pelo Visitador da Inquisição, 61 eram relacionados a crimes sexuais.

— Dom Heitor não sabia do clima sexual livre que grassava na colônia — destaca Rennes. — Foi uma surpresa para ele.

A Inquisição acumulara um farto histórico de cinzas e sangue. A caça aos judeus queimou na fogueira mais de duas mil pessoas, só nos últimos meses de 1481. A fúria avançou nas décadas seguintes para Portugal. Na última década do século XVI, a Inquisição aportou no Nordeste, que concentrava a maioria da população brasileira.

A notícia da visita chegou muito antes do próprio visitador, o que fez muitos judeus migrarem para o sul.

Sem apóstatas à vista, o padre Heitor ocupou-se com outros pecados. E as chamadas heresias sexuais eram comuns. Além da sodomia, ouviu denúncias de bigamia, fornicação (sexo entre solteiros, adultério, relações com freiras ou animais) e masturbação.

Falsas convicções eram punidas — a principal delas era considerar a vida sexual mais importante do que a devoção a Deus. A hierarquia, de acordo com a Igreja, punha os religiosos em primeiro lugar, seguidos pelos casados e, por último, pelos solteiros.

As condenações no Brasil, de forma geral, foram mais brandas do que na Europa, onde sodomitas eram enterrados vivos. No Brasil frequentemente tudo se resolvia com uma repreensão.

Na Colônia, as heresias sexuais só foram consideradas crimes anos após o inquisidor deixar o Brasil.

— Dom Heitor não sabia como agir — explica Rennes. — Mas, nas visitações seguintes de inquisidores, houve penas mais severas. Durante a terceira visitação, entre 1721 e 1777, 139 pessoas foram mortas na fogueira.

As penas eram mais leves conforme o status do herege. Os “possuidores de títulos”, como define a pesquisa de Rennes, eventualmente tinham seus castigos anulados. Já as “raças infectas” — negros, mulatos, índios, mouros e judeus — eram severamente punidas, tendo, inclusive, que usar publicamente vestes de linho típicas dos heréticos.

Até as freiras aproveitavam as vagas determinações inquisitoriais. Em seu primeiro século na colônia, muitas teriam permitido os avanços dos freiráticos, como eram conhecidos os devotos das religiosas. A relação sexual, porém, custava caro, como contam testemunhas. Além de presentes esporádicos, o amado teria de contribuir para a montagem de festas religiosas, inclusive peças no convento.

Padres de algumas ordens religiosas também renderam-se a índias e mulatas. De acordo com Rennes, só os jesuítas teriam resistido às tentações do Novo Mundo.

— Eles eram soldados de Cristo, muito rigorosos — descreve Rennes.

— Os jesuítas viram como eram as práticas sexuais contrárias às normas da Igreja, e se tornaram os arautos da virtude católica.

Postado por Luis Favre
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