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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 05, 2013

Ciganos europeus irão se fixar na Ucrânia



Ucrânia

A Ucrânia poderá vir a ser o refúgio de centenas de milhares de ciganos da União Europeia. O país assumiu o compromisso de acolhê-los no âmbito da sua associação com a UE. O decreto correspondente já tinha sido assinado pelo presidente ucraniano Viktor Yanukovich em abril, e agora está terminando o prazo de seis meses que o chefe de Estado determinou para a elaboração de um conceito especial para o assentamento dos ciganos e para a sua integração social na Ucrânia.


Os detalhes do reassentamento dos ciganos serão, provavelmente, discutidos em novembro na cúpula da Parceria Oriental em Vilnius. O acordo de Associação da Ucrânia à UE poderá ser assinado precisamente nessa reunião. O desejado passo em direção à Europa acarreta, naturalmente, novos compromissos. Um deles será o acolhimento hospitaleiro dos acampamentos de ciganos do Velho Mundo.
A "questão cigana" nunca foi simples na Europa, mas se tornou um problema depois da adesão da Romênia e da Bulgária à UE em janeiro de 2007. Esse acontecimento foi na altura classificado de "queda final do Muro de Berlim". Mas parece que agora nem a Alemanha, nem a França, estão contentes com essa "queda". Os ciganos, maioritariamente da Romênia e do Kosovo, acabaram por não se integrar na sociedade europeia. Os acampamentos continuam sendo nômades e vivendo de subsídios sociais que lhes são pagos "das bolsas" dos contribuintes.
As autoridades ucranianas estão convencidas de que o problema está na discriminação dos ciganos e estão dispostas a propor um programa seu que ofereça iguais oportunidades para a participação dos ciganos na vida socioeconômica e cultural do país, refere o deputado da Rada Suprema pelo Partido das Regiões Vladimir Oleinik:
"É preciso atuar pela via legislativa, isso tanto abrange a aprovação de legislação correspondente, como a exigência do cumprimento na Ucrânia da legislação respectiva relativamente aos que aqui entram. Também temos de manter contatos estreitos com os nossos colegas da UE."
Mas terá essa colaboração algum benefício real? Na União Europeia não existe uma opinião unânime sobre o tema cigano. Em França, por exemplo, a discussão dessa questão a nível ministerial terminou num escândalo. O ministro do Interior propôs expulsar os ciganos do país, pelo que foi duramente criticado por alguns dos seus colegas. O ministro, porém, foi apoiado pela maioria dos franceses. Segundo as últimas pesquisas, as medidas por ele propostas são apoiadas por três quartos da população do país. Os europeus estão dispostos a gastar bilhões de euros do seu orçamento para reassentar os ciganos. A Alemanha, a Áustria, a Suíça e a Dinamarca já estão a realizar com sucesso uma política semelhante. Mas porque é que a Ucrânia necessita de acolher todos esses imigrantes? Isso dificilmente poderá ser explicado apenas com a vontade de ficar mais perto da Europa, considera o diretor do Centro de Informação Russo-Ucraniano Oleg Bondarenko:
"Quem pensa que irá lucrar com tudo isso? Provavelmente os apoiantes do partido racista Svoboda (Liberdade), que irão depois dizer que a Ucrânia se está tornando num local frequentado por toda a gente. De resto, existe toda uma estratégia de transformação de Oleg Tyahnybok no principal concorrente de Ianukovich para as eleições presidenciais de março de 2015. Essa técnica está a ser desenvolvida pela administração de Yanukovich e é evidente que, seja qual for o cenário, Yanukovich irá vencer essas eleições a Tyahnybok."
Nem Tymoshenko, nem Klichko poderão participar nessas eleições, portanto o reforço visível dos nacionalistas favorece o presidente ucraniano, refere o perito, recordando que o partido nacionalista radical Svoboda de Tyahnybok já obteve 37 lugares na Rada Suprema nas últimas eleições parlamentares. Daí resulta que a Ucrânia precisa dos ciganos. Pelo menos deles precisa o seu presidente.

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