Os
detalhes do reassentamento dos ciganos serão, provavelmente, discutidos
em novembro na cúpula da Parceria Oriental em Vilnius. O acordo de
Associação da Ucrânia à UE poderá ser assinado precisamente nessa
reunião. O desejado passo em direção à Europa acarreta, naturalmente,
novos compromissos. Um deles será o acolhimento hospitaleiro dos
acampamentos de ciganos do Velho Mundo.
A
"questão cigana" nunca foi simples na Europa, mas se tornou um problema
depois da adesão da Romênia e da Bulgária à UE em janeiro de 2007. Esse
acontecimento foi na altura classificado de "queda final do Muro de
Berlim". Mas parece que agora nem a Alemanha, nem a França, estão
contentes com essa "queda". Os ciganos, maioritariamente da Romênia e do
Kosovo, acabaram por não se integrar na sociedade europeia. Os
acampamentos continuam sendo nômades e vivendo de subsídios sociais que
lhes são pagos "das bolsas" dos contribuintes.
As
autoridades ucranianas estão convencidas de que o problema está na
discriminação dos ciganos e estão dispostas a propor um programa seu que
ofereça iguais oportunidades para a participação dos ciganos na vida
socioeconômica e cultural do país, refere o deputado da Rada Suprema
pelo Partido das Regiões Vladimir Oleinik:
"É
preciso atuar pela via legislativa, isso tanto abrange a aprovação de
legislação correspondente, como a exigência do cumprimento na Ucrânia da
legislação respectiva relativamente aos que aqui entram. Também temos
de manter contatos estreitos com os nossos colegas da UE."
Mas
terá essa colaboração algum benefício real? Na União Europeia não
existe uma opinião unânime sobre o tema cigano. Em França, por exemplo, a
discussão dessa questão a nível ministerial terminou num escândalo. O
ministro do Interior propôs expulsar os ciganos do país, pelo que foi
duramente criticado por alguns dos seus colegas. O ministro, porém, foi
apoiado pela maioria dos franceses. Segundo as últimas pesquisas, as
medidas por ele propostas são apoiadas por três quartos da população do
país. Os europeus estão dispostos a gastar bilhões de euros do seu
orçamento para reassentar os ciganos. A Alemanha, a Áustria, a Suíça e a
Dinamarca já estão a realizar com sucesso uma política semelhante. Mas
porque é que a Ucrânia necessita de acolher todos esses imigrantes? Isso
dificilmente poderá ser explicado apenas com a vontade de ficar mais
perto da Europa, considera o diretor do Centro de Informação
Russo-Ucraniano Oleg Bondarenko:
"Quem
pensa que irá lucrar com tudo isso? Provavelmente os apoiantes do
partido racista Svoboda (Liberdade), que irão depois dizer que a Ucrânia
se está tornando num local frequentado por toda a gente. De resto,
existe toda uma estratégia de transformação de Oleg Tyahnybok no
principal concorrente de Ianukovich para as eleições presidenciais de
março de 2015. Essa técnica está a ser desenvolvida pela administração
de Yanukovich e é evidente que, seja qual for o cenário, Yanukovich irá
vencer essas eleições a Tyahnybok."
Nem
Tymoshenko, nem Klichko poderão participar nessas eleições, portanto o
reforço visível dos nacionalistas favorece o presidente ucraniano,
refere o perito, recordando que o partido nacionalista radical Svoboda
de Tyahnybok já obteve 37 lugares na Rada Suprema nas últimas eleições
parlamentares. Daí resulta que a Ucrânia precisa dos ciganos. Pelo menos
deles precisa o seu presidente.
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