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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 03, 2013

'Isso aqui para nós é um luxo', diz médico palestino formado em Cuba


Médico palestino diz que agentes comunitários são luxo para realidade cubana Foto: Daniel Favero / Terra
Médico palestino diz que agentes comunitários são luxo para realidade cubana
Foto: Daniel Favero / Terra
  • Porto Alegre
A realidade da saúde brasileira apresentada para os profissionais inscritos no programa Mais Médicos parecia desoladora até para um médico que testemunhou os horrores do terremoto do Haiti, como é o caso do cirurgião palestino formado em Cuba Tarek Abuiada, que nessa semana começou a trabalhar na cidade de Esteio. No entanto, já no posto de saúde, descobriu que muito do que planejava fazer já tinha sido iniciado pela equipe da saúde da família. “Lá (em Cuba) não tem agente comunitário. Tem o consultório e enfermeira, isso aqui para nós é um luxo”.
“Mudou minha concepção do Brasil, e acho que temos que nos esforçar muito para levar nossa assistência médica à população mais carente e necessitada”, dizia Tarek, na recepção aos médicos estrangeiros organizada pelo governo do Rio Grande do sul no início de setembro. Dias antes de iniciar o atendimento, após encontrar com a equipe do posto onde trabalharia, o médico se dizia surpreso com o trabalho dos agentes comunitários.
“Antes de entrar no curso de acolhimento, cada médico já tinha na sua cabeça as ideias de como vai trabalhar, então eu estava pensando que teria que levantar o número de grávidas, fazer as visitas familiares, fazer o acompanhamento, mas descobri que os agentes comunitários já faziam isso tudo... a única coisa que falta é o médico”, disse no final do mês passado comemorando que no Brasil, os recursos para esse trabalho eram melhores do que o que ele viu na ilha dos irmãos Castro.
Médicos palestino fala sobre experiência no BrasilClique no link para iniciar o vídeo
Médicos palestino fala sobre experiência no Brasil
No dia 30 de setembro Dr. Tarek começou a trabalhar. Os funcionários do Posto de Saúde Votorantim se diziam impressionados com sua capacidade de manejo e elogiavam a forma humanizada de atender as pessoas. A fama do médico palestino parecia ter se espalhado pela comunidade, tanto que ao chamar os pacientes, já ouvia-se o comentário, “nossa, como ele é educado”.
Nunca neguei e nunca vou negar atendimento
Tarek AbuiadaMédico palestino formado em Cuba
Apesar de ter vindo de um local onde conflitos territoriais entre Palestina e Israel provocam muita revolta e violência, Tarek resolveu dedicar sua vida as causas humanitárias. Aproveitou a oportunidade de estudar em Cuba, onde conheceu sua mulher, a gaúcha Fernanda, e resolveu por conta própria ajudar no Haiti.
“Os estrangeiros que estão aqui tem um perfil ideológico solidário, de querer trabalhar, de ajudar a população carente e de baixa renda”, conta, dizendo que pagou do próprio bolso a passagem para o Haiti, onde junto com profissionais espanhóis trabalhou ajudando os feridos na tragédia. “Eu sempre gostei de ajudar as pessoas, fui voluntário lá, pagamos a passagem do nosso próprio bolso, mas é uma coisa que faz parte da pessoa”, conta.
Os estrangeiros que estão aqui tem um perfil ideológico solidário, de querer trabalhar, de ajudar a população carente e de baixa renda
Tarek AbuiadaMédico palestino formado em Cuba
Para ele, ser médico é quase uma forma de vida, e diz que na cidade de Rivera, no Uruguai, onde vivia antes de entrar no Mais Médicos, sua casa parecia mais um consultório que uma residência.
“Falei em uma entrevista que tinha vindo para ajudar, mas nos comentários algumas pessoas diziam que eu estava sendo pago para isso, outro dizendo que tinha que ajudar a Palestina... minhas carga horária é de oito horas diárias, mas trabalho de noite atendendo quem não pode vir, minha casa em Rivera parecia uma clínica, nunca neguei e nunca vou negar atendimento”, dizia.
Sua mulher foi selecionada para a segunda fase do Mais Médicos, já chegou ao Rio Grande do Sul, mas logo embarca para Brasília, onde deve passar por um treinamento de três semanas, além de mais sete dias de curso em Porto Alegre. “Foi por causa dela que eu escolhi vir para o Brasil, e graças a Deus ela foi selecionada para Esteio”, comemorava.
Dr. Tarek já conseguiu alugar uma casa na cidade, mas diz que teve um pouco de dificuldades com a busca de um avalista e com os seguros necessários para o contrato. No entanto, ele afirma que a prefeitura tem dado todo o suporte para que possa se acomodar.
“Acho que o que mais me agrada aqui são as pessoas. Estive em vários países da América Latina e do mundo, e o brasileiro é um povo muito sociável, me identifiquei muito rápido. Digo para minha mulher que quando tu vai a qualquer lugar o tratamento é único, só o brasileiro tem esse tratamento tão humano”, diz.
*Terra

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