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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 29, 2014

“O GOLPE DE 64 DESTRUIU A MINHA FAMÍLIA”



Aos 73 anos, Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, revela à revista Istoé detalhes dos dias que antecederam o golpe militar, fala da vida do casal e lembra da angústia dos anos de exílio: "Nós saímos daqui correndo, deixamos tudo para trás. A gente passou a viver com sofrimento"; Maria Thereza se casou com Jango aos 17 anos e foi a primeira-dama mais jovem que o País já teve; após a morte do marido, na Argentina, em 1976, demorou alguns anos para voltar a viver no Brasil e escolheu o Rio de Janeiro, onde ainda mora, perto da família, para passar o resto de seus dias; apesar de tudo, se declara feliz

29 DE MARÇO DE 2014 

Primeira-dama mais jovem que o Brasil já teve, eleita entre as 10 mulheres mais bonitas do mundo pela revista "Time" à época, Maria Thereza Goulart, hoje aos 73 anos, traz consigo as marcas do golpe de 1964 que depôs o marido João Goulart. Em entrevista à revista Istoé, no Rio, onde mora, ela quebra o silêncio e relata os momentos de extrema tensão vividos às vésperas da chegada dos militares ao poder. “Para mim foi tudo muito tenso. O golpe de 64 destruiu a minha família. Tivemos que sair correndo, deixar nossa vida, tudo nosso para trás. Destruiu porque tirou tudo da gente. A gente passou a viver com sofrimento”, disse à revista Istoé. Ela lembra que teve de sair às pressas da país com Jango e os dois filhos para o exílio no Uruguai. Muito assediada por jornalistas, Maria Thereza evita a lembrança daqueles dias de terror: "Não gosto de ficar falando das tristezas do passado." Apesar disso, defende os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Sobre a exumação do cadáver de Jango, diz que a análise dos restos mortais poderá ajudar a tirar uma dúvida da cabeça. "A gente vai sair desse estado de incerteza, questionamentos, espero – embora ache difícil depois de tantos anos. Fui contra isso durante muito tempo. Não queria porque sabia que seria muito doloroso, como de fato foi. Desabei naquele momento, perto do caixão de Jango de novo."

Confira a entrevista

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