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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 16, 2014

Em reunião em Londres, MST oferece asilo a Julian Assange em assentamento


Via Brasil de Fato
Assange recebeu asilo político do governo de Rafael Correa, mas se deixar o local será detido imediatamente. Ao menos dois policiais ficam 24 horas por dia à sua espreita
15/05/201
Por Maíra Kubík Mano
Da Página do MST/Agência Pública
Em frente à Embaixada do Equador em Londres, um grupo de cinco pessoas reúne-se todos os dias para protestar. Com alguns cartazes e uma faixa costurada à mão, exige a libertação de Julian Assange, o fundador do Wikileaks, confinado no prédio. “Em 19 de junho faremos um grande ato, você pode participar?”, perguntam aos curiosos que passam pela rua. A Embaixada fica em uma área turística da cidade, bem ao lado de uma grande loja de departamentos, e a manifestação chama atenção.
A prisão de Assange foi pedida pela Suécia em um processo de assédio sexual e ele, que é australiano, entrou na Embaixada do Equador para evitar a extradição. Recebeu asilo político do governo de Rafael Correa, mas se deixar o local será detido imediatamente. Ao menos dois policiais ficam 24 horas por dia à sua espreita, o que custa, por ano, módicos 3,8 milhões de libras (R$ 14,6 milhões), conforme revelou a polícia metropolitana. “Além de tudo estão gastando nosso dinheiro”, critica uma das ativistas, uma senhora chilena que vive em Londres desde o golpe contra Salvador Allende.
O isolamento forçado de Assange limita não só seus movimentos físicos como sua comunicação.  Quem quiser falar com ele precisa antes passar por seus assessores e ter sua vida checada. Ao entrar no prédio, celulares, câmeras e quaisquer outro tipo de aparelhos eletrônicos são confiscados, para garantir sua privacidade. Jornalistas são terminantemente proibidos. E expulsos, caso tentem — imagine como consegui essa informação.
Nesta quinta-feira (14), é um dos principais movimentos sociais do Brasil, o MST, quem vai encontrar o cabeça de uma organização que sacudiu a diplomacia internacional, bancos e até a igreja da Cientologia após vazar milhares de documentos em seus 7 anos de atividade. Na pauta, a aliança entre os movimentos sociais latino-americanos e o Wikileaks.
A reunião é longa e, às 18h, o grupo que protestava diante do prédio se retira. “Vou para a Embaixada da Síria. A situação está feia lá”, diz uma delas. Agora sou apenas eu e os policiais olhando para a Embaixada, que é uma lateral térrea de um prédio sofisticado. O espaço onde Assange está, dizem, tem poucos metros quadrados.
Após duas horas de conversa — e muitas voltas na quadra —, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, saiu afirmando que “é importantíssimo que os movimentos sociais estejam juntos na luta em defesa do asilo de Assange no Equador”. Segundo o dirigente, o papo "fluiu", e o MST vai contribuir para pressionar a Suécia a permitir a ida dele ao país sul-americano.
O fundador do Wikileaks estaria também temeroso com a possibilidade de ser extraditado para os Estados Unidos. “Ele acha que, caso seja preso pela Suécia, vão mandá-lo para os Estados Unidos por conta das acusações de espionagem”, conta Rodrigues.
O MST prometeu então se juntar à mobilização do dia 19 de junho, quando Assange completa dois anos na Embaixada, realizando protestos nas representações diplomáticas suecas e estadunidenses. Os sem-terra vão circular ainda um abaixo-assinado junto com outros movimentos sociais e intelectuais, que deve ser entregue ao Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Em troca de toda a solidariedade recebida, o Wikileaks se prontificou a repassar ao movimento informações que sejam de seu interesse e irá abrir seus arquivos para que os sem-terra contribuam na triagem das informações — Assange teria milhares de documentos que não foram analisados e cujo valor político não se tem ideia. Uma próxima reunião para combinar os detalhes será agendada em breve.
Ao final, os representantes do MST entregaram ao fundador do Wikileaks um cartaz assinado pelos “movimentos sociais da Alba” (Aliança Boliariana para os Povos da América) com as fotos de Assange, Chelsea Manning — condenada a 35 anos prisão pelo vazamento de dados confidencias dos EUA — e Edward Snowden, antigo funcionário da CIA e atualmente exilado na Rússia. “Toda solidariedade aos combatentes do Império”, dizia o poster.
Posaram para fotos juntos, todas tiradas pela assessora de Assange, que edita as imagens antes de liberá-las — até agora elas não chegaram. Muitos cliques com o boné vermelho do MST. Bem-humorado, Rodrigues colocou o movimento à sua disposição: “caso precise de um asilo no Brasil, oferecemos os nossos assentamentos”. Ganhou de volta um abraço.
À noite, sobraram só os policiais.
*GilsonSampaio

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